
Poeta, compositor, escritor, cantor, dramaturgo e diplomata. Essa �ltima fun��o � a menos lembrada quando se fala sobre Vinicius de Moraes. O carioca, que completaria hoje 100 anos, se destacou tanto pelas composi��es e poesias que � at� compreens�vel que as lembran�as sobre sua trajet�ria musical sejam bem mais reconhecidas do que os fatos que marcaram sua carreira na diplomacia. Mas Vinicius tamb�m ajudou a levar o nome do Brasil para outros pa�ses de forma institucional. Na fun��o de promover a cultura brasileira, ningu�m mais adequado do que um dos compositores da segunda m�sica mais cantada na hist�ria. Com mais de 500 interpreta��es gravadas em v�rios pa�ses, Garota de Ipanema – fruto de parceria com Tom Jobim – s� foi menos tocada do que Yesterday, dos Beatles.
Em 1942, Vin�cius foi aprovado em concurso do Itamaraty, depois de aconselhado pelo diplomata Oswaldo Aranha. A fun��o, antes de ser uma voca��o do poeta, garantiria uma tranquilidade para ele consolidar sua obra. No ano seguinte, ingressou oficialmente na carreira diplom�tica, com 29 anos, sendo nomeado para o cargo inicial no Minist�rio das Rela��es Exteriores pelo ent�o presidente Get�lio Vargas. Em 1946, foi indicado para a vaga de vice-c�nsul em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde ficou por cinco anos.
Tr�s anos depois, em dezembro de 1953, ele seguiu para a Fran�a como segundo-secret�rio da embaixada brasileira em Paris e era presen�a frequente nos c�rculos culturais da capital francesa. Autorizado a voltar para o Rio de janeiro em 1956, como forma de f�rias-pr�mio, ele permaneceu em sua cidade natal por quase todo o ano e passou a se voltar cada vez mais para trabalhos com m�sica popular. Ao convidar Antonio Carlos Jobim para fazer uma m�sica para a pe�a Orfeu da Concei��o, deu in�cio a uma parceria que, com a uni�o do cantor e violinista Jo�o Gilberto, criaria o movimento de renova��o da m�sica popular brasileiro, conhecido como Bossa Nova.
Para o vice-diretor da Escola de M�sica da UFMG, Mauro Rodrigues, a op��o pela diplomacia serviu para abrir as portas para o m�sico brasileiro e levou para outros pa�ses um estilo que representou bem o pa�s. “A garantia de contatos institucionais fora do Brasil como diplomata o ajudou a levar um movimento cultural que ficaria como marca do nosso povo. Como diplomata, ele teve as portas abertas para mostrar seu trabalho”, explica Rodrigues. Em 1957, Vinicius transferiu-se de Paris para Montevid�u, no Uruguai, atuando ao lado da delega��o brasileira na Organiza��o das Na��es Unidas para Educa��o, Ci�ncia e Cultura (Unesco), onde ficou at� 1960. Ao retornar ao Rio, ele manteve seu cargo no Minist�rio das Rela��es Exteriores.
Com o passar do tempo e com sua obra ganhando cada vez mais repercuss�o, o poeta conseguiu levar uma boa imagem do pa�s. “Esse esp�rito otimista e positivo que Vin�icius carregava, principalmente com a bossa nova, ficou marcado na imagem do brasileiro l� fora. Uma s�ntese do estilo africano e europeu, que destacava nossa cultura. E isso n�o foi positivo s� l� fora, mas aqui tamb�m, j� que a difus�o desse estilo afetivo e alegre fez com que ele fosse assumido e valorizado dentro do Brasil”, avalia o professor, especialista em m�sica popular brasileira.
CASSA��O Apesar do reconhecimento como um dos maiores poetas e m�sicos do pa�s, o fim de sua carreira como diplomata foi cercado por pol�micas e m�goas. Em 1969, cinco anos depois do golpe militar, Vinicius foi cassado pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5). Segundo trechos de relat�rio elaborado pela Comiss�o de Investiga��o Sum�ria – criada pelo regime militar para fiscalizar os �rg�os nacionais –, o gosto pela noite era um dos entraves para sua atua��o no Itamaraty.
Em um dos relat�rios que tratava de sua demiss�o, no entanto, ficou claro que existia tamb�m admira��o pelo poeta. “Considerando que a conduta do primeiro secret�rio Vinicius de Moraes � incompat�vel com as exig�ncias e o decoro da carreira diplom�tica, mas em aten��o aos seus m�ritos de homem de letras e artista consagrado, cujo valor n�o desconhece, a comiss�o prop�e o seu aproveitamento no Minist�rio da Educa��o e Cultura”, dizia o texto que tratava de sua exonera��o. Ele deixou o cargo durante um dos maiores expurgos registrados na diplomacia brasileira, com 44 servidores cassados, sendo 13 diplomatas.
Aos 55 anos, Vinicius foi aposentado compulsoriamente. Dez anos depois, ele desabafou em uma entrevista que considerou “uma sacanagem” a forma como foi expulso do Itamaraty. Mais de 40 anos depois de ser cassado pela ditadura militar e 30 depois de sua morte, ele foi agraciado com uma in�dita promo��o post mortem a embaixador. Em agosto de 2010, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva promoveu o poeta ao cargo m�ximo da carreira diplom�tica, em cerim�nia que contou com a presen�a de familiares e amigos do artista.