S�o Borja- Na contram�o da expectativa mais forte, de que se encontrem ind�cios de envenenamento no corpo do ex-presidente Jo�o Goulart, um s�o-borjense ilustre contesta a hip�tese: “Ele n�o foi assassinado. A ditadura o matou, mas penso que foi de tristeza”, crava o advogado e escritor Iber� Teixeira, com dotes de orat�ria de quem se especializou no tribunal do j�ri, pelas comarcas da regi�o. A afirma��o baseia-se, de sa�da, em duas observa��es pessoais.
Iber� tornou-se janguista na mocidade, destacando-se como l�der estudantil em S�o Borja. A milit�ncia s� os aproximou ao longo dos anos. Quando correu a not�cia em S�o Borja da morte do ex-presidente, o jovem advogado pegou seu carro e foi esperar o corpo no trevo de Itaqui, j� em solo brasileiro. Lembra-se da confus�o armada em torno do funeral improvisado e, em particular, do rosto do amigo atrav�s do visor ovalado do caix�o: “Suas narinas sangravam”.
Hoje rejeita as vers�es de envenenamento propagadas anos atr�s por um ex-agente secreto uruguaio, Mario Neira Barreiro, que confessou ter participado da Opera��o Escorpi�o, suposto plano de elimina��o de Jo�o Goulart. “Esse sujeito � um fanfarr�o”, declara. Para Iber�, os testemunhos de Neira Barreiro ao escritor Carlos Heitor Cony, ao historiador Moniz Bandeira e ao pr�prio filho de Jango, Jo�o Vicente, s�o inveross�meis.
Testemunhos feitos com um �nico objetivo, segundo o advogado, que preside uma comiss�o para dar apoio � Comiss�o Nacional da Verdade neste caso: preso no Rio Grande do Sul, o ex-agente uruguaio pretenderia driblar o pedido de extradi��o do Uruguai, onde � acusado de m�ltiplos crimes, qualificando-se como preso pol�tico no Brasil.
“A ditadura n�o iria eliminar Jango no ex�lio, quando havia alvos priorit�rios entre as lideran�as de esquerda, como Francisco Juli�o, Miguel Arraes, o pr�prio Brizola.” O doutor Iber�, figura respeitada em S�o Borja, ainda vai mais longe: “Onde est�o as conversas telef�nicas de Jango, que Neira teria grampeado? Por que este sujeito n�o mostra o que diz ter?”.
Iber� tem repetido que a per�cia sobre restos mortais de Jango pode n�o encontrar nada de extraordin�rio. Autor de Os Ossos do Presidente, livro em que trata da exuma��o de Get�lio Vargas, realizada em1982, tamb�m em S�o Borja, lembra-se perfeitamente dos dois sacos de adubo, boiando na �gua, que guardaram os ossos de Get�lio por anos a fio, no jazigo dos Vargas.
Hoje, passados 37 anos da morte de Jango, acredita que a m� conserva��o dos despojos deve inviabilizar a per�cia. Se isso acontecer, calcula o advogado c�tico, a hist�ria n�o fecha. Avalia que este ser� o pior cen�rio.
“O Pa�s n�o pode continuar na d�vida, isso n�o � bom. Sigo creditando que ele morreu do cora��o. Mas, claro, ainda poderei morder a l�ngua”. Iber� deve expor suas convic��es em novo livro, Jango e a Ditadura, em fase de finaliza��o.