A morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek ganhou uma nova explica��o em 2013. A vers�o oficial, segundo a qual JK morreu em agosto de 1976 em um acidente de autom�vel, foi contestada pela Comiss�o Municipal da Verdade de S�o Paulo Vladimir Herzog. Ap�s uma s�rie de audi�ncias durante o ano para investigar a morte do ex-presidente, a comiss�o decidiu declarar, em dezembro, que houve assassinato.
A vers�o oficial sobre a morte afirma que Juscelino e seu motorista, Geraldo Ribeiro, morreram em um acidente de tr�nsito na Rodovia Presidente Dutra, que liga S�o Paulo ao Rio de Janeiro, quando o carro em que estava o ex-presidente colidiu com uma carreta, ap�s ter sido fechado por um �nibus.
Para o presidente da comiss�o, o vereador Gilberto Natalini, no entanto, uma das principais evid�ncias de que houve crime e n�o um acidente est� em per�cia que menciona a exist�ncia de um fragmento met�lico no cr�nio do motorista do ex-presidente.
Em setembro, a comiss�o pediu � Justi�a a exuma��o do corpo de Geraldo Ribeiro, o que ainda n�o foi feito, segundo o vereador, por resist�ncia dos familiares. Mas, em 1996, uma per�cia feita pela Pol�cia Civil de Minas Gerais no corpo do motorista apontou a exist�ncia desse fragmento. A explica��o dada � �poca era de que se tratava de um prego do caix�o, mas a comiss�o acredita que possa ser um proj�til de arma de fogo.
“Houve contesta��o, fala-se que isso � uma fantasia, mas a quantidade de fatos e dados que temos da possibilidade de Juscelino ter sido morto � muito grande. Tem coisas que s�o muito suspeitas de uma morte natural. Por exemplo, a tentativa de forjar, obrigar ou corromper as pessoas para que dissessem que o �nibus bateu no Opala � altamente suspeita. Por que se faria isso?”, questionou o vereador.
A investiga��o da morte de Juscelino rendeu um documento de 29 p�ginas onde foram apresentados os ind�cios e provas de que o ex-presidente foi assassinado. A comiss�o ainda pretende encaminhar o resultado para a presidenta Dilma Rousseff e para o Congresso Nacional, pedindo que seja oficialmente reconhecido.
Durante o ano, a comiss�o municipal tamb�m investigou a morte do jornalista Vladimir Herzog, tomando o depoimento, entre outros, de Silvaldo Leung Vieira, autor da foto de Herzog morto, com um cinto no pesco�o, o que sustentou a vers�o do Ex�rcito de que ele teria se suicidado nas depend�ncias do Destacamento de Opera��es de Informa��es - Centro de Opera��es de Defesa Interna (DOI-Codi), onde estava preso.
No entanto, em mar�o deste ano, a fam�lia do jornalista recebeu um novo atestado de �bito, que declarou que Herzog n�o se suicidou, mas morreu em decorr�ncia de les�es e maus-tratos sofridos durante interrogat�rio. Em sua homenagem, a comiss�o inaugurou, em outubro deste ano, a Pra�a e o Memorial Vladimir Herzog, no centro da capital.
Em dezembro, a comiss�o tamb�m resgatou os mandatos de vereadores de S�o Paulo que haviam sido cassados ou impedidos de assumir seus mandatos durante o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985). Em 1937, 19 parlamentares foram cassados com base na Constitui��o outorgada em novembro daquele ano, que fechou todas as casas legislativas do pa�s. A partir da�, ocorreram cassa��es ou medidas autorit�rias que impediram que vereadores exercessem seus mandatos em outras quatro ocasi�es: 1947, 1951, 1964 e 1969. Ao todo, segundo levantamento da comiss�o, 42 vereadores foram cassados.
A comiss�o vai prosseguir em 2014 o trabalho de identificar os logradouros e pra�as na capital paulista que foram batizados com nomes de torturadores ou de pessoas associadas � ditadura militar no pa�s, para depois propor a mudan�a dos nomes. “Queremos propor, em atacado, para a prefeitura e para a C�mara, para que toda pessoa envolvida em tortura e que tiver homenagem na cidade tenha seu nome ou homenagem exclu�do”, disse Natalini.
Para o pr�ximo ano, a comiss�o municipal tamb�m pretende ouvir o atual presidente da Confedera��o Brasileira de Futebol (CBF) e ex-governador de S�o Paulo, Jos� Maria Marin, sobre sua atua��o durante a ditadura militar e, especialmente, sobre um discurso que ele fez, em 1975, quando era deputado estadual pela Arena, em que criticou a atua��o da TV Cultura, na �poca dirigida por Vladimir Herzog.
Alguns dias ap�s o discurso, Herzog foi convocado para prestar esclarecimentos no DOI-Codi, onde foi morto. Segundo Natalini, como a comiss�o de S�o Paulo n�o tem poder de convoca��o, foi encaminhado um pedido para que a Comiss�o Nacional da Verdade convoque o depoimento de Marin.
A comiss�o quer ouvir tamb�m o ex-presidente da Rep�blica Luiz In�cio Lula da Silva, que foi acusado pelo ex-secret�rio nacional de Justi�a, Romeu Tuma J�nior, de ter colaborado com a ditadura militar. Em livro, Tuma J�nior diz que Lula foi informante de seu pai, o falecido senador Romeu Tuma, que foi diretor do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops).
O requerimento para que Lula seja convidado a prestar depoimento j� foi aprovado e assinado, mas ainda falta ser encaminhado para o ex-presidente, que poder� declinar, j� que se trata de convite e n�o de convoca��o. A comiss�o, segundo Natalini, tamb�m pretende ouvir o autor da den�ncia.
Outra tarefa da comiss�o para 2014 ser� discutir uma forma para identificar os corpos que s�o enterrados nos cemit�rios da capital paulista como an�nimo. “Estamos trabalhando para ter um banco de dados gen�tico [projeto de lei proposto pelo vereador do PSDB Mario Covas Neto] daqueles que s�o enterrados sem identifica��o para tentarmos identificar estas pessoas”, disse Natalini.