A Comiss�o Nacional da Verdade vai surpreender a todos, disse hoje (24) a advogada Rosa Cardoso, que integra o colegiado, ao final de audi�ncia p�blica no Arquivo Nacional. Na audi�ncia, foram ouvidas v�timas de torturas e testemunhas de mortes ocorridas na Vila Militar de Deodoro, na �poca da ditadura, entre 1969 e 1973. De acordo com a advogada, a comiss�o come�ou "recolhida, voltada pra si pr�pria, para seu umbigo", mas, com a participa��o da sociedade e dos militantes, mudou sua postura. "E mudar� bem mais”, disse ela.
Na parte da manh�, um dos convocados para a audi�ncia, o m�dico aposentado do Ex�rcito Hargreaves Figueiredo Rocha, de 82 anos, negou participa��o na necr�psia do preso pol�tico Severino Viana Colou, que, segundo depoimentos, foi torturado e morto pela Pol�cia do Ex�rcito em 1969. Rosa Cardoso considerou pol�mica a declara��o do m�dico de que o documento � uma fraude e duvidosa a afirma��o dele de que nunca colaborou com os torturadores. "Vamos tentar ver se h� outros laudos assinados por ele ou se este � um laudo isolado e rever as rubricas e ver se identificamos ali uma rubrica dele", disse ela. Dois agentes do regime militar foram convocados para depor, mas n�o compareceram.
O presidente da comiss�o estadual do Rio de Janeiro, Wadih Damous, classificou de covarde a atitude daqueles que torturaram no passado e hoje se esquivam dos depoimentos. “Os que combateram a ditadura n�o se envergonham do que fizeram, mostram sua cara e fazem quest�o de vir contar suas hist�rias. E os valent�es que torturaram, mataram e desapareceram [com pessoas], esses se escondem como ratos, n�o aparecem e, quando v�m, n�o abrem a boca”, disse o advogado. “Escudam-se de uma garantia da democracia que eles negaram �s suas v�timas.”
Al�m dos obst�culos causados pela falta de testemunho dos acusados, Damous criticou a falta de uma postura mais r�gida por parte do Estado brasileiro em rela��o aos chefes militares. “Sinto-me envergonhado defronte de um argentino e um chileno, quando me indagam se algum torturador foi punido no Brasil e tenho que responder: nenhum. E sem ter a certeza de que um dia o ser�o”, afirmou.
� tarde, em depoimento contundente, a professora Rosalina Santa Cruz relatou em detalhes diferentes formas de tortura que sofreu durante 52 dias seguidos. Emocionada, Rosalina contou sobre o dia em que a esmurraram na barriga diversas vezes quando souberam que estava gr�vida. Ap�s sofrer um aborto, Rosalina ouviu de um dos torturadores que comunista n�o tinha direito de ter filho.
Todas as testemunhas ouvidas � tarde disseram que n�o querem vingan�a, nem revanche e sim, justi�a. “O que foi feito conosco – �ramos pessoas de classe m�dia – � feito neste momento com uma jovem, uma mulher, um menino em uma delegacia de bairro. S�o torturados, pendurados em pau-de-arara. Sei o que � levar tapa na cara, pontap�, porque o arcabou�o da ditadura n�o acabou e n�o podemos compactuar com isso”, completou.