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Estado de Minas

�ltimos passos de Jango antes do Golpe de 64

Dias antes de cair, Jo�o Goulart defende justi�a social no que seria seu �ltimo discurso


postado em 30/03/2014 06:00 / atualizado em 30/03/2014 08:47

Tereza Cruvinel, Jo�o Valadares e �tore Medeiros

(foto: Antonio Ronek/O Cruzeiro/EM. Brasil)
(foto: Antonio Ronek/O Cruzeiro/EM. Brasil)

Bras�lia – O ex-presidente Jo�o Goulart deixou o governo da mesma forma como o assumiu, em 1961, depois da ren�ncia de J�nio Quadros, sob a press�o dos militares que vetaram sua posse: voando de um lado para o outro, acossado pelos inimigos, tra�do pelos mais fortes e apoiado pelos que n�o tinham for�as suficientes para resistir. Em 1964, entretanto, n�o houve acordo como em 1961 e ele acabou deposto e exilado, s� retornando morto ao Brasil 12 anos depois.

Na noite de 30 de mar�o daquele ano, contrariando alertas dos conselheiros mais pr�ximos, o presidente compareceu ao ato pelos 40 anos da Associa��o de Subtenentes e Sargentos da PM, no Autom�vel Club do Rio de Janeiro, onde fez seu �ltimo discurso. Pregou a observ�ncia da lei e da ordem, mas defendeu as reformas de base e um pa�s com mais justi�a social. “Assustou os civis e assustou demais os militares, que n�o o viam com simpatia. Assustou tanto que o general Mour�o Filho antecipou o golpe. A previs�o do golpe era para ocorrer dias depois. A conspira��o era nesse sentido”, analisa o historiador Ronaldo Costa Couto, que, entre v�rios cargos de destaque na pol�tica brasileira foi secret�rio de Planejamento e confidente de Tancredo Neves.

Quando Jango saiu do evento no Autom�vel Club, depois das 22h, recolheu-se ao Pal�cio das Laranjeiras. “Como presidente da Rep�blica, ele era tamb�m o comandante supremo das For�as Armadas. A leitura militar foi que a presen�a dele ali quebrou a hierarquia e a disciplina. E esses s�o dois valores fundamentais na cultura militar. Ent�o, a partir dali ficou muito dif�cil”, contextualiza Ronaldo Costa Couto.

O historiador conta que Tancredo lhe confidenciou que, durante a tarde, Jango ligou e leu o discurso que faria � noite. “O Tancredo estava no apartamento dele, em Copacabana. Ele fez o seguinte coment�rio: ‘Belo discurso, mas talvez custe a Presid�ncia da Rep�blica’. O Tancredo era um s�bio pol�tico e um estrategista”, avalia.

Em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, o general Mour�o Filho foi dormir cedo. �s 4h do dia 31 come�ou a movimentar as tropas em dire��o ao Rio, em conjunto com as do general Carlos Guedes, comandante em Belo Horizonte. Ao saber da subleva��o, o presidente foi convencido pelo general Assis Brasil, o chefe da Casa Militar, de que o movimento de Mour�o n�o representava perigo, seria logo sufocado. O general fora encarregado de montar um “dispositivo militar” para resistir em caso de golpe e alardeava ter um “esquema invenc�vel”. Jango confiava. Viu-se depois que o general blefava. O ministro da Guerra de Jango, o general Jair Dantas Ribeiro, estava hospitalizado.

- Defesa pac�fica

Jango dizia a todos que n�o queria “derramamento de sangue”. O chefe dos Fuzileiros Navais, Almirante Arag�o, buscou uma ordem, que n�o veio, para resistir e armar o povo. O coronel Rui Moreira Lima chegou a sobrevoar a coluna golpista com um jatinho e garantiu que havia como controlar a situa��o. Os soldados, temendo o bombardeio, fugiram para o mato. O ataque a�reo nunca ocorreu porque Jango n�o autorizou. “Esse � o lado mais brilhante da biografia do Jango. Ele cometeu muitos erros, principalmente nos dias finais que antecederam o golpe, mas n�o aceitou uma solu��o de sangue para aquele impasse”, pontua Ronaldo Costa Couto.
O senador Juscelino Kubitschek seguiu at� o Pal�cio das Laranjeiras para um encontro com Jango. A reuni�o ocorreu no quarto do presidente. “O Jango sentou numa cama e o JK na outra. O JK disse: ‘Jango, o movimento est� em marcha, � coisa s�ria e voc� s� tem uma chance de preservar o poder e continuar na Presid�ncia”, relata o historiador. O senador enumera quatro provid�ncias. “Fa�a um manifesto � na��o imediatamente tornando claro a repulsa ao comunismo, anuncie o minist�rio de perfil mais conservador, garanta anistia aos militares sublevados e, por fim, assegure a puni��o dos marinheiros que desafiaram a autoridade do ministro da Marinha, que deixou o cargo”.

- Trai��o no poder

No dia 1º, o cerco apertou para o presidente numa conversa telef�nica com o chefe do 2º Ex�rcito, de S�o Paulo, general Amaury Kruel, que fora seu ministro da Guerra e o tinha como amigo. Para n�o aderir, o general exigiu a dissolu��o do CGT e da UNE, a pris�o de seus dirigentes e a demiss�o do minist�rio, chamando-os de comunistas. “Tu sabes que n�o sou comunista”, disse Jango, recusando o acordo. A trair os aliados, preferia perder o mandato. Kruel aderiu ao golpe. Em fevereiro de 2014, o coronel do Ex�rcito reformado Erim� Pinheiro Moreira declarou � Comiss�o da Verdade de S�o Paulo que a Fiesp subornou Kruel com US$ 1,2 milh�o para que tra�sse Jango.
O presidente tomou, ent�o, um avi�o para Bras�lia. Em seu gabinete no Planalto, arrumou as gavetas conversando com tr�s jornalistas: Fernando Pedreira (O Estado de S.Paulo), Maria da Gra�a Dutra (Correio Braziliense) e Flavio Tavares (�ltima Hora). � Flavio quem recorda, num artigo: “De p�, junto aos ajudantes de ordens, Jango nos disse no seu estilo lac�nico, mas de forma t�o tranquila que nos confundiu ainda mais naquela confus�o: ‘Vou instalar o governo no Rio Grande do Sul’. Acabo de falar com o comandante do 3º Ex�rcito e viajo hoje para Porto Alegre”. Pelo r�dio, o general Lad�rio Telles lhe disse de Porto Alegre. “Temos algumas dificuldades, mas venha, presidente, pois o 3º Ex�rcito resistir� a seu lado!”. Brizola, n�o mais governador, emendou: “Resistiremos e venceremos como em 61”.
Ele fez uma reuni�o com os principais aliados e todos concordaram que ele devia partir e resistir. “Na �poca, eu era uma crian�a de 7 anos, as imagens que tenho s�o flashes”, lembra Jo�o Vicente Goulart, filho mais velho de Jango, em entrevista � reportagem.

- Cartada final

Jango ainda voava em dire��o a Porto Alegre quando veio a parte civil do golpe. Numa sess�o do Congresso, convocada para 1h, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, leu of�cio levado por Darcy Ribeiro, chefe do Gabinete Civil, comunicando que o presidente se deslocara para o Sul, onde estaria � frente das tropas legalistas e do minist�rio. Mas, alegando ter ele deixado a sede do governo e a na��o ac�fala, emendou: “Declaro vaga a presid�ncia da Rep�blica e, nos termos da Constitui��o, invisto no cargo o Presidente da C�mara, Sr. Ranieri Mazzilli. Est� encerrada a sess�o!”. Tancredo Neves, considerado um homem pac�fico e cordial, gritou tr�s vezes: “Canalha, canalha, canalha”. A seguir, foram ao Planalto dar posse a Mazzilli. Dez dias depois, Castelo Branco foi eleito presidente pelo voto indireto dos congressistas. Em Porto Alegre, n�o havia mais condi��es para resistir. No dia 4, Jango pediu asilo ao Uruguai.


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