Daniel Camargos
Os dois candidatos de oposi��o que tentam impedir a quarta vit�ria seguida do PSDB em Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) e Apolo Heringer Lisboa (PSB), t�m a mesma origem pol�tica: o Comando de Liberta��o Nacional (Colina), organiza��o de esquerda que combateu a ditadura. Apolo, de 71 anos, tinha 24 quando foi um dos fundadores da organiza��o, uma dissid�ncia da Pol�tica Oper�ria (Polop). Pimentel, que � oito anos mais novo que seu advers�rio do pleito de outubro, come�ou a militar no Colina ainda estudante secundarista, aos 16 anos. Al�m dos dois, o Colina teve em seus quadros a presidente Dilma Rousseff (PT), que participou ativamente da organiza��o do grupo, mas, ao contr�rio de Pimentel, n�o chegou a pegar em armas para tentar derrubar os militares do poder.
Os pais de ambos eram amigos e frequentavam a mesma igreja presbiteriana. Apolo, ali�s, logo ap�s ser preso pela primeira vez, em 1964, foi campe�o de um concurso nacional de B�blia, recitando passagens de mem�ria. O livreiro Marco Ant�nio Meyer, de 69, lembra que foi Apolo o seu mentor. “Foi ele quem iluminou o meu caminho pol�tico.”
Marco Ant�nio foi presidente do gr�mio estudantil do Col�gio Estadual Central. Ele trabalhava em um banco de dia e estudava � noite. “Era arrimo de fam�lia. Minha m�e ficou vi�va e tinham 10 pessoas l� em casa”, recorda. Quando sa�a do trabalho, em 1967, e ia para a escola, Marco Ant�nio deu de cara com uma manifesta��o. “Vi um policial batendo com um cassetete em uma mulher loira. N�o aguentei e pulei com os dois p�s em cima dele”, lembra. A mulher era a namorada de Apolo. Em outra manifesta��o, no dia seguinte, o casal se encontrou com Marco Ant�nio, agradeceu a atitude do dia anterior, e o convidou a ingressar no grupo de estudos a que faziam parte. Era assim que se referiam � Polop.
Coragem Para compreender o Colina � preciso retornar a 1961, quando a Polop foi criada por dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do antigo Partido Socialista Brasileiro (PSB). O jornalista Ricardo Batista Amaral destaca em seu livro A vida quer � coragem (Primeiros Passos, 2011), biografia da presidente Dilma Rousseff (PT), que a ideologia da organiza��o era influenciada por Leon Trotski e pela alem� Rosa Luxemburgo. Umas das obras fundamentais de quem quisesse militar na Polop era Princ�pios fundamentais de filosofia, do franc�s Georges Politzer. O livro � uma colet�nea das palestras para oper�rios do Partido Comunista Franc�s, na d�cada de 1940, redigido na forma de perguntas e respostas.
Com o golpe militar, Apolo foi preso pela primeira vez. J� em liberdade, foi um dos art�fices da cria��o do Colina, em 1968. Da espinha da Polop foi criada por militantes de S�o Paulo a Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR), que fez hist�ria sob a lideran�a do capit�o do Ex�rcito Carlos Lamarca e para onde Pimentel migrou. O n�cleo de Belo Horizonte formou o Colina.
O grupo foi formado em um congresso realizado em um s�tio, em Contagem, com a presen�a de Apolo e tamb�m de Dilma Rousseff, que tinha 21 anos � �poca. A sigla Colina foi uma ideia de Apolo: “Minas Gerais s�o as alterosas, as montanhas, as colinas”, recorda o pr�-candidato ao governo mineiro, que lembra que a Polop era o grupo mais intelectual da esquerda brasileira. “O pessoal do partid�o (PCB) era mais stalinista e a Polop queria o socialismo democr�tico”, recorda. No Colina, segundo Apolo, havia tamb�m apego � teoria, mas n�o era t�o intenso quanto na Polop.
Sequestro Pela VPR, Pimentel participou do grupo de oito militantes que tentou sequestrar, sem sucesso, o diplomata norte-americano Curtis Carly Cutter, veterano da guerra da Coreia, Animados com o �xito de outros grupos de esquerda – como a a��o do MR-8 e da ALN, que sequestrou o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, trocando o diplomata por 15 presos pol�ticos – os militantes da VPR em Porto Alegre partiram para a a��o a bordo de um fusca.
Pimentel foi no banco de tr�s, armado com uma pistola .45. Quando tiveram uma chance, fecharam o carro do diplomata, um imenso Plymouth Fury. Quando tr�s guerrilheiros desceram, o diplomata acelerou o carro e atropelou Pimentel. Um dos companheiros do ex-prefeito de BH conseguiu atingir o diplomata no ombro, mas ele escapou.
Pimentel conseguiu escapar, mancando, pois teve o tornozelo atingido pelo carro do diplomata. Sem poder ir a um hospital, pois estava clandestino, teve que se recuperar em um aparelho, mas uma semana depois foi preso e brutalmente torturado. J� Apolo, ap�s o fim do Colina, foi clandestino para o Rio e depois para o ex�lio no Chile. Quando ocorreu o golpe no pa�s andino, seguiu para a Arg�lia, onde trabalhou como m�dico. A reportagem do EM n�o conseguiu falar com Pimentel.
Mem�ria
Banho de sangue
O inicio do fim da Colina foi em 14 de janeiro de 1969, quando sete integrantes haviam feito um ato de expropria��o (assalto, para a pol�cia) em uma ag�ncia do Banco da Lavoura, em Sabar�, e estavam escondidos em uma casa no Bairro S�o Geraldo. Policiais do Dops e da Delegacia de Furtos e Roubos estouraram o port�o e, segundo relatos, entraram atirando. A resposta foi no mesmo tom, e o policial que estava � frente morreu baleado por proj�teis de uma metralhadora .30. Do lado de fora da casa outro policial morreu. Os sete membros da Colina foram rendidos. Eles foram colocados no pared�o e os policiais, furiosos com a morte dos colegas, queriam fuzil�-los ali mesmo, mas o comandante da opera��o, o delegado Luiz Soares da Rocha, chefe do Dops, impediu o banho de sangue. Com a a��o frustrada e a morte dos policiais, o cerco aos integrantes da Colina apertou em Belo Horizonte.