Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro e Marcos Paulo Lima
Para Leonardo Barreto, doutor em ci�ncia pol�tica pela Universidade de Bras�lia (UnB), neste momento, s� � poss�vel especular sobre os resultados concretos da rela��o entre a bola e as urnas, especialmente porque estaremos diante de um fen�meno com poucos precedentes: “A Copa acontecer� aqui. Em outros momentos nos quais o Brasil foi campe�o, a Sele��o conquistou o caneco fora do pa�s”, lembrou ele, citando os torneios sediados na Su�cia (1958), no Chile (1962), no M�xico (1970), nos Estados Unidos (1994) e no Jap�o/Coreia do Sul (2002).
Mesmo assim, em todos eles n�o houve uma rela��o direta entre os dois fatores: o torneio e o voto. O mito de que o �xito da Sele��o se transformara em prest�gio para o governo ocorreu em 1970, no governo do general Em�lio Garrastazu M�dici. “Naquele ano, tivemos elei��es legislativas e houve um elevado �ndice de votos brancos e nulos”, recorda Barreto. Em 1994, o tetracampeonato brasileiro coincidiu com a vit�ria de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), candidato apoiado pelo ent�o presidente Itamar Franco. Mas PT e PSDB admitem que, mais do que a vit�ria do escrete comandado por Rom�rio (hoje deputado federal pelo PSB), o que pesou na elei��o foi o Plano Real, que controlou a hiperinfla��o.
Em 2002, o pentacampeonato no Jap�o, com dois gols de Ronaldo na final contra a Alemanha, n�o garantiu a manuten��o dos tucanos no poder – o petista Luiz In�cio Lula da Silva foi eleito naquele ano para o primeiro de seus dois mandatos. O segundo viria em 2006, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Fran�a de Zin�dine Zidane. Em 2010, Dilma manteve o PT no poder, mas a Sele��o Brasileira teve o passaporte de retorno carimbado pelos holandeses Schneider e Robben na semifinal.
A VIS�O ESTRANGEIRA Barreto acredita que a repercuss�o internacional do evento esportivo ter� papel de destaque na imagem que a na��o ter� de si pr�pria nesse per�odo de exposi��o sob os holofotes de todo o planeta. “O Brasil ainda � muito atento ao que se fala sobre ele no exterior. Adoramos quando as revistas e os jornais estrangeiros nos elogiam. Por isso, a opini�o dos correspondentes internacionais sobre a Copa poder� afetar a nossa autoestima e amplificar os tons de otimismo ou de pessimismo”, analisa.
Outro fator preponderante ser� o quanto a Sele��o avan�ar� na Copa. “Se formos eliminados na fase de grupos ou nas oitavas de final, por exemplo, reacender� a quest�o do custo/benef�cio”, declarou o especialista. “As pessoas v�o se lembrar de que os est�dios foram caros, que a infraestrutura n�o foi conclu�da e que tivemos de aturar os estrangeiros fazendo a festa em nosso pr�prio pa�s.”
Para o l�der do PMDB no Senado, Eun�cio Oliveira (CE), a vit�ria na Copa n�o significar� que o pa�s deixar� de lado a preocupa��o com a infla��o e os movimentos sociais. “Mas pode, sim, mexer com o orgulho nacional e tornar-se um catalisador para Dilma. Foi no governo dela que as arenas em que as sele��es jogar�o ficaram prontas”, afirma.
J� o l�der do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirma que o ser� dissipado o mau humor generalizado em rela��o aos jogos, algo que n�o tinha ocorrido quando o pa�s fora escolhido para sediar os jogos, em 2007. “Disseram que as coisas n�o andariam, que os est�dios n�o ficariam prontos, nem os aeroportos. Tudo est� a�. Acho que faremos uma grande Copa”, aposta o petista.
"O povo n�o � bobo"
A oposi��o n�o acredita que a vit�ria do Brasil na Copa do Mundo possa ter algum tipo de influ�ncia positiva para Dilma Rousseff nas elei��es de outubro. Mesmo com a insist�ncia da presidente em ressaltar os feitos da Sele��o canarinho e o papel de lideran�a exercido pelo t�cnico Luiz Felipe Scolari, advers�rios da petista acreditam que n�o h� como vincular uma coisa � outra. “As pessoas sabem diferenciar exatamente quem governa e quem arma o jogo, cabeceia e faz o gol”, resumiu o l�der do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).
Para o tucano, foi-se o tempo em que era poss�vel atrelar as duas coisas. “O povo n�o � bobo. O que ocorre dentro do campo tem efeitos restritos a ele”, completou Aloysio. O senador paulista — um dos cotados para ser vice do presidenci�vel do PSDB, A�cio Neves — tamb�m n�o acha que um fracasso na Copa poder� trazer maiores preju�zos � campanha. “O custo da Copa j� est� precificado. Este Mundial est� regido pelo signo do desperd�cio, do aumento do gasto p�blico, da invers�o de prioridades”, enumerou. “Do campo para dentro, depende dos jogadores. Do campo para fora, restringe-se unicamente ao candidato”, disse.
Outro cotado para ser vice na chapa de A�cio, caso a op��o seja feita por um nome do DEM, o senador Jos� Agripino Maia (DEM-RN) acredita que, se a vit�ria n�o � capaz de potencializar votos para a presidente, por outro lado, uma elimina��o precoce da Sele��o poder� amplificar algumas queixas. “O pa�s est� estrangulado em seus servi�os b�sicos, como hospitais, aeroportos e mobilidade urbana. As insatisfa��es da popula��o poder�o ser anestesiadas durante os jogos, mas, ap�s a Copa, voltar�o.” (PTL)