Rio, 26 - O coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos, um dos cinco acusados de envolvimento na morte e oculta��o de cad�ver de Rubens Paiva, revelou, em depoimento de pouco mais de uma hora ao Minist�rio P�blico Federal, detalhes da "farsa" montada por militares do Destacamento de Opera��es de Informa��es (DOI) para simular a fuga do deputado, no dia seguinte de sua pris�o, em janeiro de 1971.
O militar disse que seria punido se n�o participasse da encena��o, ordenada, segundo ele, pelo ent�o subcomandante do DOI, major Francisco Demiurgo Santos Cardoso, j� falecido. Na den�ncia, os procuradores pediram pena mais branda para Campos, por ter colaborado com as investiga��es. Na �poca, ele era capit�o e trabalhava se��o de busca e apreens�o da unidade do DOI que funcionava no batalh�o do Ex�rcito na Rua Bar�o de Mesquita, na Tijuca (zona norte), onde Rubens Paiva foi morto.
"Demiurgo era chefe das equipes de busca (...) Eu n�o tinha acesso � se��o de interrogat�rio (...) O Demiurgo, com ordem de algu�m, resolveu montar opera��o para dizer que o Rubens Paiva fugiu. Eu fui fazer essa opera��o cinematogr�fica", disse o coronel reformado aos procuradores. Campos disse nunca ter visto Rubens Paiva. "Nem sei como ele era". Campos tamb�m falou � Comiss�o Estadual da Verdade.
No depoimento, o coronel reproduziu a ordem que recebeu. "Ele (Demiurgo) disse 'pega uma equipe, leva para o Alto da Boa Vista, diga que o prisioneiro fugiu, metralhe o carro para parecer que ele fugiu'. N�s atiramos no carro. Eu e dois sargentos paraquedistas, era a equipe que estava (de plant�o) naquele dia. Nunca mais eu os vi. Fomos em um fusca. Saltamos, metralhamos o carro, pusemos fogo no carro e chamamos os bombeiros e a pol�cia. Quando chegara, o fogo tinha apagado", contou Campos.
O coronel disse que os militares usaram pistolas 45 mil�metros e dispararam, cada um, "cinco ou seis tiros". "Voltamos para o quartel, contamos o ocorrido (...) Algu�m escreveu (o relat�rio da fuga), e eu assinei. Nunca vi Rubens Paiva. Tive que fazer o registro e perguntei 'quem � o cara?'".
"Se eu n�o fizesse tudo isso, eu seria punido. Eu era capit�o, o resto era major, coronel, general, o diabo", afirmou Campos. Agora denunciado, o coronel disse que, quando o caso Rubens Paiva foi investigado em inqu�rito aberto em 1986, foi orientado a manter a mesma vers�o da �poca da pris�o e morte do deputado. N�o disse, no entanto, quem deu a ordem. "Me mandaram recadinhos: 'mant�m a hist�ria'", revelou. O inqu�rito foi arquivado em 1987.