Jo�o Valadares e
Denise Rothenburg
Enviados especiais

Recife – Com o povo consternado nas ruas, Pernambuco enterrou ontem o seu maior l�der. Mais do que isso. Em dia hist�rico, que parecia n�o acabar, os pernambucanos viram nascer um novo mito. Eduardo Henrique Accioly Campos, de 49 anos, pai de cinco filhos e dono de um estilo admirado at� por advers�rios, recebeu a maior e mais intensa homenagem que o estado j� viu. Mais de 150 mil pessoas foram �s ruas. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi quem melhor resumiu o tamanho da dor. “S� vi algo assim na morte de Get�lio (Vargas) e de Tancredo Neves.”
A rever�ncia virou ato pol�tico. A imagem de Eduardo serviu de im� da como��o para potencializar eleitoralmente Marina Silva e o candidato ao governo de Pernambuco, Paulo C�mara. Panfletos eram distribu�dos. Ao lado de Renata Campos e dos filhos, os dois acenavam para a multid�o. “Agora � tudo ou nada. Marina e Renata”, gritava o povo. O PSB espalhou estrategicamente carros de som durante o trajeto do cortejo que levou o caix�o de Eduardo Campos do Pal�cio do Campo das Princesas at� o Cemit�rio de Santo Amaro. Camisas com a frase “n�o vamos desistir do Brasil” foram distribu�das. Candidatos proporcionais tiravam “selfies” ao lado da vi�va e do caix�o.
A presidente Dilma Rousseff, junto com o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, chegou ao vel�rio �s 10h. Ela recebeu vaias. A maior estrela petista, que conseguiu preservar a rela��o pessoal com Eduardo Campos mesmo em campos opostos, segurou Miguel, filho mais novo do pessebista, nos bra�os. Confortou a vi�va de Campos e os filhos. Comentou reservadamente com amigos que estava arrasado por a trag�dia ocorrer justamente no momento em que as circunst�ncias pol�ticas n�o permitiam que os dois estivessem pr�ximos.
Ap�s a missa, celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, os dois foram embora. No caminho, Lula abra�ou o vice de A�cio Neves, senador Aloysio Nunes Ferreira. Parou para tirar fotos com funcion�rios do pal�cio e entrou no carro com a presidente.
Renata Campos permaneceu durante quase todo tempo ao lado do caix�o. Uma foto de Eduardo Campos sorrindo era contemplada por ela em alguns momentos. Os filhos se abra�avam e repetiam os gritos ecoados pela multid�o. Pareciam fortes. A�cio Neves, que trocou cumprimentos com Lula e Dilma, ressaltou a solidez da fam�lia Campos. “� impressionante. N�o me pe�am para falar de pol�tica. Quando liguei para Renata, no dia do acidente, ele me disse que Eduardo era alegria e for�a”, informou. �s 16h30, o cortejo com os restos mortais de Campos deixou o Pal�cio do Campo das Princesas. A multid�o se espremia para acompanhar tudo de perto. Ap�s as autoridades pol�ticas nacionais deixarem o local, Eduardo Campos recebeu uma homenagem genuinamente pernambucana. Os compositores Alceu Valen�a, Maciel Melo e Petr�cio Amorim cantaram m�sicas de que o ex-governador de Pernambuco gostava.
Pouco antes das 18h, o cortejo chegou ao cemit�rio. Lentamente, como se o povo empurrasse o caminh�o do Corpo de Bombeiros, o caix�o foi levado no percurso de dois quil�metros entre o Pal�cio do Campo das Princesas e o Cemit�rio Santo Amaro.
L�, o caix�o foi colocado num carro menor. O filho Jos�, de 11 anos, com chap�u de vaqueiro, sentado na frente, apontava a dire��o para o motorista. Flores e len�os foram atirados, assim como o tradicional chap�u de palha usado pelo av� de Campos e ex-governador do estado, Miguel Arraes. Ap�s uma queima de fogos que durou 18 minutos, Eduardo Campos foi sepultado, ao lado do t�mulo do av�. A sepultura � simples, sem luxo, rodeada apenas de flores e placa de m�rmore com a identifica��o do l�der.