O governo da primeira mulher a presidir o Brasil, Dilma Rousseff, n�o foi capaz de aumentar a propor��o das mulheres no topo da carreira do servi�o p�blico federal. Ao contr�rio. Levantamento feito pelo Broadcast, servi�o de not�cias da Ag�ncia Estado em tempo real, com dados do Boletim Estat�stico de Pessoal do Minist�rio do Planejamento revela que a participa��o feminina no mais alto cargo (DAS 6) caiu de 23% no fim do governo Lula para 20% em maio deste ano. A c�pula da campanha de Dilma tem se preocupado com as inten��es de voto das mulheres. Pesquisas internas apontam que as inten��es s�o maiores entre os homens do que entre as mulheres.
A queda na propor��o de ocupantes desse cargo chama ainda mais aten��o quando se analisa o primeiro mandato do governo Lula. Em janeiro de 2003, o petista tinha em seus quadros 17,7% de pessoas do sexo feminino nesse DAS e deixou o Executivo, em dezembro de 2010, com 5,3 pontos porcentuais a mais. Nas gest�es petistas, entretanto, houve um aumento em rela��o ao governo Fernando Henrique Cardoso. No fim do �ltimo mandato de FHC, a propor��o de mulheres no cargo era de 18,20%. O dado mais antigo dispon�vel no site do Minist�rio do Planejamento aponta que em agosto de 1995 tal participa��o era de 16,4%.
A presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher (IPAM), a economista T�nia Fontenele, disse que esperava mais avan�os com uma presidente do sexo feminino no poder. "Tem que ter autocr�tica e ver que � necess�rio mais trabalho (para estimular a ascens�o feminina)", afirmou, em rela��o � atua��o da Secretaria de Pol�tica para as Mulheres da Presid�ncia da Rep�blica, criada em mar�o de 2003. "� necess�rio ter mais agenda afirmativa, porque n�o � f�cil romper com o preconceito, que � milenar", avaliou ela, que h� dez anos acompanha dados da participa��o das mulheres no servi�o p�blico federal e chegou a publicar um livro "Mulheres no Topo da Carreira". Dos 217 profissionais que t�m o cargo DAS 6 atualmente, apenas 43 s�o mulheres.
Confrontadas com os dados, as pesquisadoras Angela Donnagio e Luciana Ramos, do Grupo de Pesquisas em Direito e G�nero da Escola de Direito de S�o Paulo da Funda��o Get�lio Vargas, afirmam que n�o d� para dizer que houve um "fracasso" na pol�tica de aumento da presen�a feminina no servi�o p�blico federal. Elas defendem a aprova��o de propostas legislativas que garantam reservas obrigat�rias de vagas de g�nero.
"Parece que n�o h� uma pol�tica efetiva para a mulher assumir esse tipo de cargo", afirmou Luciana Ramos, que defende a ado��o de pol�ticas p�blicas para o empoderamento feminino. Angela Donnagio disse que a participa��o feminina em cargos de comando, at� mesmo na iniciativa privada, tem sido maior nos casos em que os processos de sele��o adotam crit�rios objetivos. Ela citou como exemplo do aumento o Poder Judici�rio, no qual o ingresso na carreira se d� por concurso p�blico. "A diminui��o da presen�a � um reflexo de uma sele��o parcial que tem, entre outros motivos, uma cultura arraigada do machismo", afirmou, ao mencionar que hoje as mulheres t�m mais anos de estudo que os homens, de maneira geral.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a ministra da Secretaria de Pol�tica para as Mulheres da Presid�ncia da Rep�blica, Eleonora Menicucci, n�o quis dar entrevista. Argumentou, por meio de nota, que a varia��o ocorrida entre 2011 e 2014 na propor��o de mulheres ocupantes de cargos DAS 6 est� numa "margem normal na gest�o de cargos" e n�o pode ser classificada como uma redu��o significativa. Al�m disso, ela lembrou que n�o h� determina��o de cotas nessa �rea.
A ministra destacou que "significativo mesmo", devido ao peso dos cargos, � o n�mero de mulheres que s�o ministras. "Mesmo tendo havido substitui��es nesta gest�o, as sete atuais titulares dos minist�rios comp�em n�mero maior do que em outras gest�es. Afinal, nos 121 anos de Rep�blica anteriores ao atual governo, apenas 19 mulheres haviam sido at� ent�o nomeadas para tais postos." Contudo, o governo Dilma Rousseff tinha, no in�cio, 9 mulheres entre os 39 ministros e hoje tem duas a menos.
Desde o final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, a propor��o de mulheres em todos os n�veis (DAS 1 a 6) de cargos e fun��es de confian�a do Poder Executivo tem se mantido constante, oscilando na casa dos 40% de presen�a feminina. De acordo com os dados mais recentes, a propor��o atual � de 43% de participa��o feminina: s�o mulheres 9,7 mil profissionais dos 22,7 mil que t�m cargo de confian�a.
Elei��es
O eleitorado feminino parece estar menos satisfeito com a condu��o de Dilma do que o masculino, segundo pesquisas de inten��o de voto. Por isso, a c�pula da campanha da petista estuda refor�ar as a��es voltadas para o p�blico feminino ou lan�ar novos programas.
Ap�s a morte de Eduardo Campos, que era o candidato do PSB � presid�ncia, o Brasil pode assistir � entrada de mais uma mulher no grupo dos candidatos ao Pal�cio do Planalto. Marina Silva deve assumir o posto que era do pernambucano. Nesse cen�rio, segundo a pesquisa Datafolha divulgada hoje, a disputa iria ao segundo turno com as duas mulheres: Dilma e Marina.
Apesar de Dilma ter mais inten��es de voto, Marina � a �nica candidata que tem um desempenho melhor entre as mulheres do que entre os homens: 20% de inten��o de voto entre o sexo masculino e 22% entre o sexo feminino. Essa propor��o � de 38% e de 34% para Dilma, respectivamente, e de 24% e 16% no caso de A�cio Neves (PSDB). Em um eventual segundo turno entre as duas candidatas, Marina Silva teria 48% dos votos femininos e Dilma, 42%.