
O bibliotec�rio Fernando de Castro Machado assiste pela televis�o ao programa eleitoral de S�o Paulo. A estudante de psicologia Juliana M�rcia Cordeiro de Britto tamb�m acompanha pedidos de votos na sala de casa, mas de candidatos em Pernambuco. � primeira vista, parecem dois eleitores escolhendo o seu candidato a deputado estadual, federal, senador, governador e Presidente da Rep�blica em 5 de outubro. Ambos, no entanto, moram e t�m t�tulo registrado no Bairro S�o Benedito, em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a menos de 500 metros da Cidade Administrativa, a sede do governo de Minas Gerais.
O sinal de televis�o que chega �s duas casas � captado por antenas parab�licas. Em v�rios canais, a emiss�o � feita a partir de geradores em outros estados, fazendo com que eleitores possam acompanhar o programa de candidatos que disputam cargos fora de Minas Gerais. No caso da disputa para o Pal�cio do Planalto, existe um atenuante, desde que os candidatos n�o fa�am propagandas regionalizadas. Mas na elei��o para deputado estadual, federal, senador e governador, dependendo do canal que for sintonizado, o eleitor pode at� se confundir.
A reprodu��o de propaganda pol�tica “forasteira” foi motivo de a��o no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2008, em uma consulta feita pela Associa��o Brasileira de Emissoras de R�dio e Televis�o (Abert) com protocolo n�mero 18.905/2008.
O processo recebeu o n�mero 2.860. Segundo o ministro relator � �poca, Marcelo Ribeiro, o sinal deveria ser bloqueado durante o hor�rio eleitoral. A associa��o, ent�o, alegou que a opera��o demandaria investimento elevado e prop�s que a suspens�o do envio do sinal ocorresse na propaganda para as elei��es de outubro de 2010, o que n�o foi feito. Prova � que eleitores tamb�m vizinhos � Cidade Administrativa assistiam na �poca ao programa eleitoral de outros estados. A diferen�a na compara��o com o que ocorre hoje � que o sistema mais avan�ado, com antenas mais modernas, permite acesso a n�mero mais elevado de canais, possibilitando aos telespectadores escapar dos programas eleitorais de fora de Minas.
O bibliotec�rio Fernando, de 58 anos, diz ter por h�bito acompanhar em todas as campanhas os hor�rios eleitorais. Ontem, viu o de S�o Paulo. “� a forma que as pessoas t�m de definir seu voto”, avalia. “Se voc� v� as propostas de candidatos de outros estados, isso n�o contribui para a democracia”, acrescenta. O morador do S�o Benedito diz j� ter escolhido a maioria dos candidatos, menos o de deputado federal.
Vizinha de Fernando, Juliana, de 19 anos, viu ontem o programa eleitoral de candidatos de Pernambuco. “Para defini��o do meu voto, essa propaganda n�o adianta nada”, afirma. A estudante, por�m, consegue ver um lado bom na propaganda de candidatos de fora de Minas. “A gente consegue informa��es sobre o que est� sendo feito em outros estados”, diz. A tia de Juliana, a dona de casa Sandra Correia Nepomuceno de Brito, de 49 anos, afirma ter outras formas de busca para escolher o candidato. “Vejo pelos jornais as ideias dos candidatos.”
Segundo dados da Abert, atualmente, 22 milh�es de brasileiros utilizam antenas parab�licas em todo o pa�s. As fam�lias no Brasil, na m�dia, t�m quatro pessoas, das quais, no m�nimo duas s�o eleitoras. Em Minas Gerais, segundo pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informa��o e da Comunica��o (Cetic), aproximadamente 30% das resid�ncias do estado t�m uma antena parab�lica.