Marcelo da Fonseca

O desafio de convencer o motorista a deixar seu carro na garagem e usar o transporte p�blico � um obst�culo enorme para governantes – e tende a ficar maior. A falta de qualidade e de op��es nos modais existentes faz com que o carro ainda seja uma maneira c�moda para as pessoas se deslocarem. O resultado s�o ruas lotadas, altos n�veis de polui��o e redu��o na qualidade de vida daqueles que passam horas parados no tr�nsito. “N�o existe transporte p�blico de qualidade que consiga competir com tantos carros. A alternativa � parar de estimular a compra e a circula��o de autom�veis nos grandes centros. Mas tamb�m pensar em planos de mobilidade integrando todas as formas de condu��o, sem remendos que alguns governantes tentam emplacar”, avalia Pedro Henrique Torres, gerente de pol�ticas p�blicas do Instituto de Pol�ticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, segundo a sigla em ingl�s).
“A busca por sistemas de deslocamento que funcionem est� sendo feita em muitos pa�ses do mundo, com v�rios avan�os, e n�o apenas nos pa�ses desenvolvidos. Bogot�, na Col�mbia, por exemplo, investiu pesado no transporte n�o motorizado e a��es integradas. Assim como Buenos Aires. Por aqui vamos precisar seguir esses passos, buscando a��es conjuntas”, afirma Torres.
Sobre as melhores propostas para reduzir os gargalos nas metr�poles, ele ressalta que cada cidade tem suas caracter�sticas espec�ficas e, por isso, os respons�veis pelos investimentos precisam come�ar a pensar o planejamento urbano como um todo e n�o apenas como obras isoladas. Segundo ele, principalmente as pol�ticas de habita��o devem levar em conta a quest�o do transporte p�blico, uma vez que moradores precisam ir at� as regi�es centrais para trabalhar, para ter acesso aos hospitais e outros servi�os.
“As cidades tem suas peculiaridades e n�o existe uma f�rmula que funcione em todos os lugares. N�o se deve construir um metr� em uma cidade com menos de um milh�o de habitantes, existem outras op��es. Algo que vale para todos � a necessidade se buscar um planejamento urbano e criar metas a longo prazo e regras para que elas n�o sejam abandonadas. No Rio, por exemplo, tivemos casos absurdos de um governante mandar tampar um buraco de metr� que tinha sido abeto por outro pol�tico”, aponta Pedro Torres.
O sufoco dos cadeirantes Cl�udio Ant�nio Bispo dos Reis
O direito de ir e vir, previsto na Constitui��o para todo cidad�o brasileiro, se transforma em uma batalha di�ria para Cl�udio Ant�nio Bispo dos Reis. Morador do Bairro Santa Martinha, em Ribeir�o das Neves, o cadeirante usa o transporte coletivo pelo menos tr�s vezes por semana para ir at� o Bairro da Gameleira, na Regi�o Oeste de BH. Ele conta que as pol�ticas de inclus�o nos �nibus ainda est�o longe de se tornar realidade. “Conto com a solidariedade das pessoas, porque em Neves os �nibus t�m problemas graves para nos atender. Alguns n�o tem o acesso pelo elevador para cadeirantes e os que t�m, ou n�o funcionam por defeitos ou pela falta de orienta��o dos funcion�rios para a quest�o da acessibilidade”, conta Cl�udio. Ele precisa pegar tr�s �nibus para ir at� a Gameleira e avalia que na capital o servi�o funciona melhor do que em sua cidade. Mesmo assim n�o s�o raras as vezes que os motoristas passam direto nos pontos, apesar de ver que o cadeirante deu o sinal. “As empresas recebem uma concess�o do poder p�blico e deveriam prestar um servi�o de melhor qualidade”, cobra Cl�udio.
Proposta: Tornar obrigat�rio o acesso para deficientes f�sicos e orientar os funcion�rios das empresas de �nibus a operar corretamente o elevador
Trem bom, quando anda Geraldo Monteiro, vendedor
O transporte sobre trilhos foi a alternativa encontrada pelo vendedor Geraldo Monteiro para visitar parentes em Baixo Guandu, no Espirito Santo, sem precisar enfrentar as curvas da BR-381. H� seis anos, ele usa pelo menos duas vezes por m�s o trem que liga BH a Vit�ria. Mesmo apontando o trem de passageiros como op��o preferida em rela��o � seguran�a, Geraldo tem cr�ticas � situa��o atual das ferrovias e propostas para tornar o transporte sobre trilhos mais atrativo o Brasil. Ele reclama dos problemas de estrutura das ferrovias, das longas paradas nas viagens e dos pre�os dos produtos no interior do trem.
Proposta: Investir no transporte ferrovi�rio de passageiros. Criar novas rotas e fiscalizar o cumprimento dos hor�rios previstos para as viagens
Menos sinal vermelho Leandro Moreira, taxista
O tempo perdido nos engarrafamentos � a principal dor de cabe�a para o taxista Leandro Moreira. Trabalhando na capital h� 16 anos, ele tem na ponta da l�ngua uma s�rie de a��es do poder p�blico que poderiam tornar suas jornadas de trabalho mais rent�veis e as viagens mais r�pidas para seus clientes. “Precisamos criar vias de tr�nsito r�pido que funcionem em BH. Temos grandes avenidas, mas raramente o tr�nsito flui, e isso em qualquer hor�rio do dia. Acho que obras mais eficientes para o tr�nsito poderiam tornar nossa cidade mais din�mica. Avenidas como Amazonas e a Cristiano Machado, por exemplo, poderiam ter trincheiras que evitassem sem�foros”, opina Leandro.
Proposta: Cria��o de vias de tr�nsito r�pido com viadutos e trincheiras