Duas filhas do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado em 1971 no antigo DOI-Codi (Departamento de Opera��es de Informa��es - Centro de Opera��es de Defesa Interna) da Bar�o de Mesquita, na Tijuca, zona norte do Rio, defenderam nesta sexta-feira, 12, a transforma��o do quartel em centro de mem�ria, durante a inaugura��o de um busto de bronze do pai. A homenagem, que reuniu cerca de 100 pessoas, ocorreu na pra�a Lamartine Babo, que fica em frente ao 1.º Batalh�o de Pol�cia do Ex�rcito, onde funcionou o principal centro de torturas no Estado durante a ditadura militar (1964-1985).
A filha falou sobre a dificuldade de encerrar o ciclo de luto, porque at� hoje o corpo de Rubens Paiva nunca apareceu. "O desaparecimento � uma forma de tortura tamb�m, assumida pelo aparato militar, que continua acontecendo at� hoje", discursou. Pouco antes, ela falava ao jornal O Estado de S. Paulo sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, torturado e morto por PMs da Unidade de Pol�cia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha em julho de 2013, segundo den�ncia do Minist�rio P�blico. Vera tamb�m citou a visita que havia feito mais cedo ao que restou do Cais do Valongo, na regi�o portu�ria do Rio, onde desembarcavam africanos escravizados: "Vem da escravid�o a experi�ncia e a cultura de apoio � tortura no nosso Pa�s".
Ela terminou seu discurso falando sobre o significado hist�rico da homenagem e disse que a fam�lia se sente privilegiada, mas que h� muitas outras hist�rias a serem contadas. "Eu gostaria que este ato fosse o in�cio do resgate da mem�ria, da transforma��o desse espa�o em um museu, como a Comiss�o da Verdade do Rio (CEV-Rio) reivindica." Ex-preso pol�tico torturado no DOI-Codi da Bar�o de Mesquita, o jornalista e escritor �lvaro Caldas, integrante da CEV-Rio, disse que a homenagem a Rubens Paiva � uma forma de antecipar a transforma��o do quartel em museu e defendeu que tamb�m seja instalado no local um busto do jornalista M�rio Alves, morto no DOI-Codi do Rio em 1970. "Se n�o podemos fazer o museu l� dentro, fazemos aqui fora, na pra�a", disse Caldas, que terminou seu discurso criticando o fato de at� hoje o Ex�rcito negar a ocorr�ncia de torturas em suas instala��es, "com a coniv�ncia e a covardia dos governos civis". Tamb�m ex-preso pol�tico, o atual secret�rio de Meio Ambiente do Rio, Carlos Alberto Muniz, que representou o prefeito Eduardo Paes (PMDB) na cerim�nia, referiu-se ao quartel como "antro" e disse que Rubens Paiva "foi exemplo de trajet�ria pol�tica e estava do lado certo".
Idealizada pelo aposentado Lao Tsen, a homenagem foi uma iniciativa do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio - Rubens Paiva era engenheiro. Inicialmente, o busto ficaria de frente para o quartel, mas acabou sendo chumbado de costas para os militares. "Eu at� prefiro, porque parece que ele est� saindo. Ficaria mais aflita se tivesse ao contr�rio", disse a filha Eliana, que comemorou a decis�o de quarta-feira do Tribunal Regional Federal da 2.ª Regi�o sobre o caso Rubens Paiva. Pela primeira vez, um tribunal brasileiro reconheceu que assassinatos e desaparecimentos de corpos atribu�dos a agentes da ditadura s�o crimes contra a humanidade, seguindo o entendimento do Minist�rio P�blico Federal de que n�o se aplica a Lei da Anistia. "� uma nova gera��o de operadores do direito n�o comprometida com a ditadura", disse Vera, que terminou lendo uma mensagem envida pelas duas irm�s que moram no exterior: "Pai, a ditadura impediu voc� de ter um t�mulo, mas n�o conseguiu apagar a sua alma."