Cavaletes viram 'moradia' para usu�rios de crack

Para grande parte da popula��o, os cavaletes usados na propaganda dos candidatos �s elei��es de domingo (5) s� servem para poluir a cidade e obstruir as cal�adas. N�o � o que pensam os cerca de 20 usu�rios de crack que vivem no cruzamento das Avenidas Atl�ntica e Teot�nio Vilela, na Cidade Dutra, zona sul da capital paulista.

Desde que as propagandas foram colocadas nos canteiros das avenidas, os moradores de rua transformaram a propaganda eleitoral em moradia. Um deles � Rodrigo Augusto, de 21 anos, que transformou um cavalete dos irm�os Antonio e Jos� Mentor, candidatos a deputado estadual e federal pelo PT, em telhado, e placas do ex-governador Jos� Serra (PSDB), candidato a senador, em porta de entrada. "Vou votar em branco. J� que todos pol�ticos roubam, nenhum merece meu voto", disse ele, enquanto tentava acender o cachimbo.

No entorno de sua nova morada podiam ser vistos preservativos e absorventes usados, garrafas e embalagens de comida vazias.

Morador de rua e usu�rio de crack desde a adolesc�ncia, Jean Carlos de Oliveira, de 46 anos, n�o lembra direito desde quando passou a viver debaixo do cavalete de propaganda pol�tica. "Foi desde quando colocaram as placas", disse, enquanto preparava o cachimbo. No pequeno tri�ngulo formado entre as duas abas da placa (dos tamb�m irm�os Enio e Nilto Tatto, candidatos a deputado federal e estadual pelo PT) e o ch�o, Jean acumula seus poucos pertences - duas mudas de roupa, um par de sand�lias e um len�ol que ele faz de "parede". "O rapa passou aqui uma vez, mas foi s� essa vez. Ningu�m reclama n�o. � at� bom que a gente protege as placas, n�?", afirmou Oliveira, que pediu para n�o ser fotografado. "N�o quero prejudicar os candidatos porque eles ajudaram muito o pessoal daqui." Ele diz que tem profiss�o, j� foi pedreiro, marceneiro e eletricista, mas hoje s� trabalha "com o rodinho", limpando vidros de carros no sem�foro. Do outro lado da rua, outras nove pessoas vivem em barracas de camping, formando uma minicracol�ndia.

Perto de onde estavam os novos moradores dos cavaletes, duas garotas contratadas pelos irm�os Tatto agitavam bandeiras do PT. Elas ganham R$ 600 por m�s e disseram que at� agora n�o foram incomodadas pelos vizinhos. As duas meninas s�o monitoradas por um coordenador de campanha, F�bio Menezes, que faz as vezes de seguran�a. "A gente tem de ficar de olho para proteger as meninas, mas at� agora n�o teve nenhum problema", disse Menezes. Segundo ele, o �nico inconveniente da presen�a dos usu�rios de crack � a impossibilidade de recolher os cavaletes � noite, uma exig�ncia da legisla��o eleitoral. "Depois que eles passaram a usar as placas n�o tem mais como tentar recuperar", admitiu.

Desde o in�cio oficial da campanha eleitoral, em junho, o Tribunal Regional Eleitoral de S�o Paulo apreendeu 187 toneladas de propaganda eleitoral irregular. A maior parte � composta por cavaletes (37,5 mil) deixados em pontos proibidos como pra�as, parques ou locais que atrapalhem o fluxo de pessoas.