S�o Paulo - O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerver� foi apontado na Pol�cia Federal por suposto preju�zo proposital em um neg�cio de explora��o de petr�leo em Angola, na �frica, que teria gerado um disp�ndio de US$ 700 milh�es. O caso passou a ser investigado ap�s depoimento prestado sob sigilo por um funcion�rio de carreira da estatal, no Rio, que procurou os policiais um m�s ap�s ser deflagrada a Opera��o Lava Jato, em mar�o de 2014.
Funcion�rio de carreira com 30 anos de servi�os prestados � Petrobras, o informante procurou os delegados para denunciar ind�cios de crimes e "m� gest�o proposital" na estatal.
"Um dos projetos que teve como objetivo o preju�zo internacional da Petrobras foi o bloco de explora��o em Angola", afirmou o informante em depoimento de quatro horas, realizado no dia 28 de abril de 2014, no Rio.
Conta ele que quando foi aberto leil�o internacional para compra dos direitos de explora��o de blocos petrol�feros em Angola, a estatal analisou o neg�cio. "Diversos pareceres de ge�logos da Petrobras foram redigidos analisando o potencial de explora��o de cada um deles. Estes pareces apontavam ind�cios de que a Petrobras n�o deveria sequer praticar do leil�o, pois n�o havia ind�cios de lucros ou rentabilidade na explora��o de tais �reas."
Com base nesses pareceres, a Petrobras n�o entrou no leil�o. "Alguns anos depois, a Petrobras decidiu comprar 50% dos direitos de explora��o deste po�os arrematados no leil�o pelo mesmo valor que a empresa inicial arrematou a totalidade".
A empresa vencedora teria pago US$ 500 milh�es pelo neg�cio na �poca do leil�o. O custo de 50% do direito aos blocos, no entanto, custou � Petrobras "exatamente a mesma quantia paga anos antes por 100% dos direitos" - US$ 500 milh�es.
"Existem ind�cios de que o dinheiro repassado � ganhadora do leil�o foi uma forma de desvia-lo da Petrobras e sugere que se investigue se houve retorno deste capital ao Brasil ou a contas controladas pelo envolvidos, no exterior", registra a PF, em documento anexado em novembro aos autos da Lava Jato, conforme revelou o Estado.
Na �poca, reportagem mostrou que o informante havia apontado o envolvimento de Cerver� e do lobista Fernando Ant�nio Falc�o Soares, o Fernando Baiano, em suposto desvio de propina na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Perfura��es
Ao todo, o relat�rio de Informa��o Policial 18/2014 registra acusa��es do funcion�rio de carreira em seis supostas fraudes para desvios de recursos. Prestes a se aposentar, ele decidiu contar o que sabia, sem ter seu nome revelado. Delegados da Lava Jato mant�m contato direto com o informante.
No neg�cio em Angola, que teria envolvido a Diretoria de Internacional sob o comando de Cerver�, ele relata que a irregularidade n�o foi s� na compra.
O informante declarou que a Petrobras, depois da compra de 50% dos direitos de explora��o, decidiu ent�o "perfurar tr�s po�os (em Angola) com o objetivo de prospec��o da capacidade produtiva do bloco rec�m-adquirido".
"Cada um dos po�os tem um custo de perfura��o de aproximadamente US$ 80 milh�es a US$ 120 milh�es", revelou o funcion�rio.
Segundo o documento, os tr�s po�os foram perfurados e "mostraram-se secos". "Confirmando os pareceres t�cnicos dos ge�logos da empresa que analisaram o mapeamento do subsolo do terreno e apontaram tecnicamente que era invi�vel explorar tais �reas, pois n�o havia petr�leo dispon�vel naquela regi�o."
Os resultados teriam sido usados "nas decis�es futuras da empresa em continuar explorando tais �reas, e assim, todo investimento foi descartado". "Desta forma, o preju�zo total deste projeto foi de cerca de US$ 700 milh�es, sendo US$ 500 milh�es para adquirir 50% dos direitos e outros US$ 200 milh�es em perfura��o de po�o que j� se sabia serem secos", acentua o documento.
O informante apontou ainda como respons�vel pelo neg�cio o ex-gerente Luis Carlos Moreira da Silva. Segundo ele, Nestor Cerver� criou o cargo de gerente executivo internacional de desenvolvimento de neg�cios "em tempo recorde". O nome do ex-gerente j� foi citado tamb�m no caso Pasadena. Em julho, ele foi ouvido sobre o caso na CPI da Petrobras.
"Durante a gest�o de Moreira, � frente do cargo criado por Cerver�, alguns neg�cios teriam sido desenvolvidos contrariando diversos pareceres t�cnicos."
A Petrobras foi procurada para falar sobre o caso, mas ainda n�o se pronunciou.
Luis Carlos Moreira da Silva n�o foi localizado para comentar o caso. Em julho do ano passado, quando foi ouvido na CPI da Petrobras sobre o caso Pasadena, ele considerou o neg�cio legal.
A defesa de Nestor Cerver� nega o envolvimento dele em qualquer irregularidade.