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Estado de Minas

Governo federal inaugura casas enquanto moradias inacabadas deterioram em Minas

Enquanto Dilma inaugura hoje 920 casas do Minha casa, minha vida na Bahia, conjuntos que seriam erguidos em Minas com recursos do programa federal est�o abandonados


postado em 25/02/2015 06:00 / atualizado em 25/02/2015 07:44

Jaqueline Rosário da Silva com os dois filhos numa das unidades do conjunto em Quartel Geral: as casas deveriam ter sido concluídas em maio
Jaqueline Ros�rio da Silva com os dois filhos numa das unidades do conjunto em Quartel Geral: as casas deveriam ter sido conclu�das em maio

Paineiras e Quartel Geral – O cabo de guerra entre governo federal, prefeituras, bancos e empreiteiras disputado h� quase um ano deixa as casas do programa Minha casa, minha vida inacabadas em duas cidades mineiras. Na pequena Paineiras, cidade de 4,6 mil habitantes na Regi�o Central, a corda arrebenta do lado mais fraco. Contemplada com uma das 37 casas, Adriana Alves da Silva, de 31 anos, esperava ter se mudado em maio do ano passado, quando a placa na entrada do conjunto habitacional previa o prazo para a conclus�o das obras. Adriana cria sozinha dois filhos, um de 8 anos, que � autista, e outro de 14, que, segundo ela, ainda n�o teve um diagn�stico fechado, mas sabe-se que tem atraso mental. “Meu sonho � minha casa”, afirma a mulher, que poderia pagar, segundo seus c�lculos, exames para os filhos com o dinheiro do aluguel (R$ 300). Enquanto as obras das casas de Paineiras est�o abandonadas, hoje, em Feira de Santana, na Bahia, a presidente Dilma Rousseff (PT) entregar� 920 moradias do programa. O ato faz parte da estrat�gia da presidente de criar uma agenda positiva diante das sucessivas den�ncias de corrup��o na Petrobras. Na segunda-feira, durante cerim�nia de posse como presidente da Caixa Econ�mica Federal, Miriam Belchior anunciou que ser� lan�ada uma nova etapa do programa, com a constru��o de 3 milh�es de novas moradias.

“Est� demorando demais”, lamenta Adriana, que recebe um sal�rio m�nimo mensal relativo � pens�o do filho autista e diz que em alguns meses chega a faltar dinheiro para comida. “A sorte � que o pessoal da cidade sempre me ajuda com cesta b�sica”, destaca. De tr�s em tr�s meses ela procura um advogado para cobrar a pens�o aliment�cia do marido. “O pai deles � alco�latra, esteve preso e tem muita dificuldade para conseguir emprego em Belo Horizonte, onde vive”, detalha. Adriana n�o pode trabalhar, pois os filhos exigem aten��o o tempo todo. “O mais novo tem autismo e n�o conversa, usa fralda e preciso ficar com ele at� para lev�-lo ao banheiro”, explica.

No conjunto habitacional onde Adriana e seus filhos deveriam estar morando desde maio – caso o prazo estabelecido tivesse sido cumprido –, o que chama a aten��o � o mato, que cresce at� no piso do que deveria ser um banheiro. Portas foram arrombadas e as esquadrias da janela est�o completamente empenadas. Materiais usados na obra, como areia e brita, est�o abandonados no matagal. No cen�rio de desalento, o �nico som que se ouvia ontem ao meio – dia era de uma porta depredada movimentando-se com o vento.

O prefeito de Paineiras, Osman de Castro (PR), diz que tentou contato com a empreiteira Paralelo SOS e tamb�m com o Minist�rio das Cidades, mas n�o teve resposta. Castro argumenta que a responsabilidade da prefeitura era preparar o terreno e que isso foi cumprido. “Os futuros moradores me procuram. Alguns dizem que v�o invadir e algumas portas j� foram estouradas”, explica o prefeito.

Respons�vel pelas obras do Minha casa, minha vida em cinco munic�pios mineiros, entre eles Paineiras e Quartel Geral, o empreiteiro S�rgio de Oliveira e Silva, dono da construtora Paralelo SOS, atribui o atraso nas obras � falta de repasses de recursos pelo Minist�rio das Cidades, por meio do Bicbanco. Segundo Silva, a demora � de quase 50 dias para receber, enquanto o acordo previa, no m�ximo, 30 dias. “Cheguei a comunicar o problema ao Minist�rio das Cidades. A gente acaba tendo que dispensar funcion�rios e fica sem credibilidade junto aos fornecedores”, afirma.

O empreiteiro ressalta que conseguiu concluir somente 26,6% das obras em Paineiras e 18,4% em Quartel Geral. Os trabalhos est�o parados desde novembro e outubro, respectivamente. “Para mim, n�o � interessante atrasar. Tudo aumenta. Somos contratados por um pre�o baixo (R$ 25 mil a unidade) e ainda tem a morosidade para receber. Mas se avan�o a obra e n�o recebo, fico devendo e tenho que pagar juros”, reclama Silva, que afirma que o pr�ximo repasse estava prometido para depois do carnaval.

Em nota, o Bicbanco respondeu que “n�o comenta eventuais neg�cios com clientes ou poss�veis clientes”. O Minist�rio das Cidades informou que a equipe t�cnica est� ocupada com o evento de Feira de Santana, na Bahia, e n�o poderia esclarecer ontem as raz�es do atraso nas obras nos munic�pios mineiros.
Cenário de abandono em Paineiras: o mato cresce não só nas ruas que separam as unidades habitacionais, mas também dentro das próprias casas.(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PRESS)
Cen�rio de abandono em Paineiras: o mato cresce n�o s� nas ruas que separam as unidades habitacionais, mas tamb�m dentro das pr�prias casas. (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PRESS)

Sem telhado

Na pequena Quartel Geral, de 3,3 mil habitantes, na Regi�o Centro-Oeste, a situa��o � pior. Das 39 casas previstas, apenas oito foram levantadas, sendo que uma est� sem telhado. A obra envolve o mesmo banco e construtora de Paineiras. As casas deveriam ter sido entregues em maio do ano passado, quando Jaqueline Ros�rio da Silva, de 24, ficou gr�vida de seu segundo filho. No dia 6 deste m�s nasceu Whitney e as obras seguem paradas. O mato cresce nos c�modos, algumas paredes foram rabiscadas e as telhas de algumas casas foram removidas por uma ventania.

Jaqueline cuida de sua filha rec�m-nascida e de seu primeiro filho, Patrick, de 6 anos, sozinha. Paga R$ 200 de aluguel e est� em licen�a-maternidade do emprego em uma f�brica de sapatos na cidade vizinha de Abaet�. “N�o sei se vou esperar mais. Pago R$ 200 de aluguel e o dinheiro poderia ajudar muito nas despesas da casa. J� falei com o pessoal da prefeitura que estou pensando em ir para l� com a casa sem acabar”, afirma Jaqueline.

O engenheiro civil Elder Augusto, da Prefeitura de Quartel Geral, explica que o prefeito da cidade j� colocou � disposi��o m�quinas para carregarem material, mesmo n�o sendo essa uma fun��o da prefeitura. “Ele tem medo de o mandato acabar e n�o terminar as casas e as pessoas colocarem a culpa nele”, afirma o engenheiro.

Em Montes Claros, conjunto pronto, mas sem infraestrutura (foto: Danilo Evangelista/Esp.EM/D.A Press)
Em Montes Claros, conjunto pronto, mas sem infraestrutura (foto: Danilo Evangelista/Esp.EM/D.A Press)

Presente de grego

Mais de 900 casas de tr�s conjuntos habitacionais, constru�das dentro do programa Minha casa, minha vida, est�o prontas em Montes Claros (Norte de Minas), mas v�o continuar vazias pelos pr�ximos meses. O motivo � a falta de infraestrutura dos conjuntos. O sorteio para a entrega dos im�veis estava marcado para hoje, mas ontem o prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz (PRB), anunciou o adiamento. Segundo ele, entregar agora as unidades seria como “dar um presente de grego para os moradores”.

De acordo com Ruy Muniz, nos conjuntos habitacionais Vit�ria II, Rio do Cedro e Monte Si�o IV faltam escolas, unidades b�sicas de sa�de, postos policiais, pra�as, quadras poliesportivas cobertas, linhas de transporte coletivo e espa�os reservados para o com�rcio. O chefe do Executivo disse que, al�m  de cancelar o sorteio dos novos conjuntos, a administra��o municipal decidiu n�o conceder o “habite-se” (libera��o para a ocupa��o) dos im�veis. A inten��o do prefeito � exigir do governo federal a libera��o de recursos para escolas, postos de sa�de e outras obras estruturais nos conjuntos. Ele anunciou que, no m�s de mar�o, ter� uma reuni�o com a secret�ria nacional de Habita��o, In�s Magalh�es, para cobrar uma solu��o para o problema. (Colaborou Luiz Ribeiro)


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