O alvo da maioria absoluta dos manifestantes que estiveram, no domingo, 15, na Avenida Paulista foi a corrup��o. Muitos tamb�m reclamaram da situa��o econ�mica e da "incompet�ncia" do governo Dilma Rousseff. Grande parte pediu o impeachment da presidente mesmo sem saber muito bem o que isso significa. Uma parcela pequena, mas expressiva, defendeu a interven��o militar e foi criticada. Havia ainda alguns radicais separatistas, integralistas e at� skinheads. O perfil era variado, mas uma frase unificou o protesto: "Fora PT!"
Depois das 14 horas � que a avenida foi, de fato, tomada, com gente chegando de carro e de metr�. O verde e o amarelo predominaram, apesar de que, embora a manifesta��o tenha sido pac�fica, pessoas vestidas de vermelho eram hostilizadas. Muitas camisas da sele��o brasileira serviram de uniforme. A maioria era de fam�lias brancas de classe m�dia. "N�o � s� aqui. Nas faculdades e nos ambientes elitizados geralmente t�m poucos negros", disse Mylene Souza, de 33 anos, uma das poucas negras vistas no ato.
Al�m do onipresente "Fora PT!", as palavras de ordem variavam conforme a posi��o ideol�gica dos manifestantes. "Fora Dilma", "Verde e amarelo � a cor do pa�s, n�o o vermelho" e "Eu vim de gra�a" - refer�ncia a militantes pagos pela CUT na sexta-feira, 13, - foram as mais utilizadas, mas tamb�m houve quem usasse palavr�es contra Dilma e chamasse o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, um dos alvos preferidos, de "vagabundo" e "cachaceiro". A reportagem n�o registrou men��es aos esc�ndalos de corrup��o envolvendo o governo estadual ou � crise h�drica.
Nos oito carros de som, as m�sicas "Brasil", de Cazuza, e "Que Pa�s � Este", da Legi�o Urbana, foram os hits. Embalado por uma garrafa de catuaba, o vendedor Jonathan Vieira, de 23 anos, da Mooca, atraiu curiosos enquanto cantava um funk cujo refr�o era "Mundo, mundo, o PT � imundo".
J� o cantor Chico Buarque de Holanda foi alvo da publicit�ria Renata Haberland, que levou o cartaz: "C�lice Chico", trocadilho com a m�sica cujo refr�o "Cale-se" foi um hino em defesa da liberdade de express�o durante a ditadura militar. "N�o estou nem a�. � para calar a boca do Chico mesmo", disse ela. Tamb�m havia faixas com ataques a programas sociais. "Chega de sustentar quem n�o quer trabalhar", lia-se em uma delas. "Investiguem a fam�lia do Lula", via-se em outra. "Obrigado PT pelo 11 de setembro" tamb�m chegaram a escrever.
Fam�lias
Havia muitas fam�lias. A administradora Silvia Rioli, de 65 anos foi com sete dos oito filhos na manifesta��o - o outro est� nos Estados Unidos e n�o p�de comparecer. "Viemos para as ruas com todo mundo, assim como foi nas 'Diretas-J�'", disse ela, que afirma ter visto coisas em comum entre os dois epis�dios. "L� atr�s, tamb�m come�ou com manifesta��o grande e foi crescendo. Essa ser� s� a primeira", diz.
A filha Mariana Rioli, de 34 anos, que � arquiteta, diz ser contra o impeachment. No peito, uma placa pedindo voto distrital. "Esse movimento � para come�ar as discuss�es dos rumos do Pa�s. Essa gan�ncia pelo poder populista precisa ser deletada", diz ela. "N�o sou a favor do impeachment, quero que a Dilma arque com toda essa pol�tica de 12 anos. O pr�prio Bolsa Fam�lia, que n�o sou contra, se tornou uma forma populista para se reeleger."
"Veteranos" das manifesta��es pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello voltaram �s ruas, agora levando os filhos a tiracolo. "Cidadania se ensina desde crian�a", disse o m�dico Jo�o Guerra, que era "cara-pintada" nos protestos contra Collor. Enquanto se escondia da chuva, a engenheira Cristina Ochoa, explicava ao filho Rodrigo, de 7 anos, que "partido pol�tico � um grupo de pessoas que se une para defender alguma coisa".
Manifestantes moderados torciam o nariz para os radicais defensores da volta dos militares ao poder, que eram minoria mas fizeram barulho. Ao som de uma gaita de foles, a extinta Tradi��o Fam�lia e Propriedade (TFP) tamb�m marcou presen�a na manifesta��o. O instituto Pl�nio Corr�a de Oliveira coletou assinaturas a favor do impeachment e contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. J� o desenhista industrial Jos� Foga�a e o filho Felipe, de 18 anos, carregavam uma grande bandeira de S�o Paulo. Eles integram o movimento separatista paulista.