
Bras�lia – Condenada a 18 anos de pris�o por evas�o de divisas, a doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama saiu ontem de sua cela em Curitiba para depor na audi�ncia da Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Petrobras na cidade e zombar dos deputados que a ouviam, no audit�rio da Justi�a Federal do Paran�. Ela foi presa em flagrante no aeroporto de Guarulhos (SP) em mar�o do ano passado, quando tentava fugir para a It�lia com 200 mil euros escondidos na calcinha. Para negar a acusa��o feita pela Pol�cia Federal, Nelma se levantou, virou as costas para os parlamentares e colocou as duas m�os nos bolsos traseiros da cal�a jeans. “O dinheiro estava aqui”, descreveu. A plateia riu.
De acordo com a Pol�cia Federal, Nelma era piv� de um dos quatro n�cleos de doleiros que fizeram opera��es de c�mbio ilegais na Opera��o Lava-Jato, ao lado de Alberto Youssef, de quem era amante, Carlos Habib Charter e Raul Henrique Srour. Ela disse que era bem mais que uma namorada de Youssef. “Depende do que o senhor chama de amante”, disse Nelma ao responder o deputado Altineu C�rtes (PR-RJ). “Eu vivi maritalmente com ele. Amante � uma palavra que engloba tudo, n�? Ser amiga, companheira. Uma coisa bonita.” A doleira fez gra�a novamente ao cantar trecho da m�sica Amada amante, de Roberto Carlos, cujos primeiros versos dizem: “Esse amor demais antigo/ amor demais amigo/ que de tanto amor viveu/ que manteve acesa a chama/ da verdade de quem ama/ antes e depois do amor/ e voc� amada amante/ faz da vida um instante”. O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), interrompeu a cantoria.
Ontem, Nelma disse que n�o se sentia injusti�ada com a condena��o, mas com o tempo de 18 anos de cadeia. “N�o concordo com a dosimetria da pena”, disse ela aos deputados.
COXINHA Os tr�s ex-deputados investigados na Lava-Jato tamb�m prestaram depoimento ontem � CPI. De in�cio, eles afirmaram que n�o prestariam nenhum esclarecimento, mas acabaram comentando o caso de corrup��o na Petrobras de maneira superficial. Os tr�s est�o presos em Curitiba.
O ex-vice-presidente da C�mara Andr� Vargas (ex-PT do Paran�) negou irregularidade e disse que sua rela��o com Youssef era l�cita. “Eu o conhe�o h� mais de 30 anos”, disse o ex-parlamentar, expulso do PT. “Eu o conheci vendendo coxinha no aeroporto de Londrina. Depois dele ter cumprido pena, ele se transformou no propriet�rio do maior hotel de Londrina e � s�cio ainda de um grande hotel em Aparecida do Norte, com a empresa cat�lica.” Segundo Vargas, nada foi feito �s escondidas. “Ele � um empres�rio e eu mantive um relacionamento � luz do dia com ele.” O ex-deputado afirmou ainda que n�o reconhece “nenhum repasse” de Youssef para ele. “Porque n�o ocorreram”, assegurou Vargas.
O ex-deputado Luiz Arg�lo (SD-BA) garantiu que � inocente. “S� posso dizer que os humilhados um dia ser�o exaltados. Isso est� na B�blia. Todo mundo erra. At� Jesus Cristo, que era filho de Deus, errou.” Arg�lo era do PP, partido para o qual Youssef trabalhava. Ele disse que a rela��o com o doleiro sempre foi legal. “Conheci Youssef como empres�rio que tinha investimento na Bahia. Eu tinha uma rela��o privada com ele. Se agora ele virou criminoso, doleiro, eu n�o tenho nada com isso. Ele j� tinha investimento no estado da Bahia e eu o conheci depois de eleito deputado federal.”
Segundo o ex-parlamentar, eles foram apresentados “na casa dos deputados M�rio Negromonte e Jo�o Le�o (hoje vice-governador da Bahia)”. “N�o o conheci com sacola de dinheiro nem como doleiro”, disse Arg�lo. “N�o recebi doa��o nenhuma de construtora em 2010.” Tamb�m prestou depoimento ontem o r�u condenado por tr�fico Ren� Luiz Pereira.
Saiba mais
Homenagem a Nice
A can��o Amada amante foi composta por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Segundo a biografia n�o-autorizada Roberto Carlos em detalhes, do historiador Paulo C�sar de Ara�jo, a letra � do Rei e a melodia, do Tremend�o. A can��o foi lan�ada em 1971 e mostrava seu amor por Cleonice Rossi Martinelli, a Nice. Ela se casara com um empres�rio, mas terminou o relacionamento por incompatibilidade, uma pequena revolu��o para a �poca, segundo Ara�jo. Ela conheceu Roberto Carlos em 1966. Outros versos dizem: “Esse amor sem preconceito/ sem saber o que � direito/ faz as suas pr�prias leis”. Num primeiro momento, a m�sica foi censurada pela ditadura militar.