
O eleitor anda com a mem�ria curta. Faz pouco mais de seis meses que os brasileiros foram �s urnas na elei��o mais disputada de todos os tempos. Insatisfeitas com a corrup��o e contr�rias ao governo federal, milhares de pessoas ocuparam por mais de uma vez as ruas para protestar este ano. Mas, apesar do cen�rio pol�tico efervescente, muitos sequer se lembram em quem votaram para deputado estadual e federal em outubro. Ao circular pela capital mineira, a constata��o � de que boa parte do eleitorado est� esquecido, com a cabe�a distante das elei��es e dos representantes do povo.
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O Estado de Minas abordou, de forma aleat�ria, 30 pessoas e perguntou para quem elas deram seu voto de confian�a na disputa pela Assembleia Legislativa e pela C�mara dos Deputados. Vinte e dois entrevistados, 73% do total, responderam que n�o se lembram ou que se recordam de apenas um dos candidatos. O levantamento n�o considerou eleitores que votaram nulo ou em branco.

O vendedor Jener Maciel, de 27, pesquisou por quase dois meses para definir seus candidatos. Apesar do esfor�o, ele n�o consegue se lembrar dos escolhidos. “Falta mais forma��o pol�tica para a sociedade”, opina. A manicure K�tia Pereira, de 44, s� se recorda que seguiu uma indica��o do cunhado. “Ele � pastor e pediu voto para dois candidatos que eram evang�licos. Eu ia rasurar tudo”, diz K�tia, desacreditada na pol�tica.
O secret�rio Wendell Martins, de 29, tamb�m preferiu votar em quem o tio, pol�tico no interior de Minas, aconselhou. “Realmente n�o lembro em quem votei para federal e estadual. Foi uma indica��o do meu tio. A pol�tica n�o � prioridade para mim”, diz. O aut�nomo Victor Bickel, de 27, chegou a ficar em d�vida se havia ou n�o comparecido �s urnas nas �ltimas elei��es e, sem lembrar em quem votou, reconhece: “A gente acaba nem sabendo o que os pol�ticos est�o fazendo”. Mas Victor promete virar essa p�gina. “Estou mais interessado. Cheguei a ir, recentemente, a uma reuni�o de um partido”, diz.
O professor de ci�ncias pol�ticas da Universidade de S�o Paulo (USP) Wagner Pralon Mancuso afirma que o sistema pol�tico brasileiro contribui para o esquecimento do eleitor. “S�o muitos candidatos e as campanhas s�o bastante individualizadas”, diz. Em Minas Gerais, 698 candidatos disputaram as 53 vagas na C�mara dos Deputados e 1.119 concorreram a uma das 77 cadeiras na Assembleia Legislativa.

Mancuso refor�a que essa falha de mem�ria pol�tica � danosa, ainda mais numa sociedade marcada pela tradi��o de cobrar pouco. “Ao n�o lembrar em quem votaram, pessoas t�m tamb�m mais dificuldade de cobrar, e, com isso, ainda menos gente acompanha os representantes”, afirma. Para o professor, a solu��o tem nome e sobrenome: reforma pol�tica. “As campanhas tinham que ser n�o em torno das figuras dos candidatos, mas de propostas partid�rias”, diz.
Obriga��o
Embora o nome do deputado federal que ajudou a eleger esteja na ponta da l�ngua, o professor Eder Cosso, de 46, n�o consegue se lembrar em quem votou para deputado estadual. � o caso de oito dos entrevistados pelo EM. Cosso atribui o lapso ao sistema pol�tico. “Como o voto no Brasil � obrigat�rio, as pessoas v�o sem prazer. Se fosse algo espont�neo, o eleitor ia procurar mais”, diz. A atu�ria Vilma Ferreira, de 62, s� se recorda em quem votou para a C�mara e explica o desinteresse do cidad�o. “A gente n�o v� resultado. Vai continuar sempre a mesma coisa”, afirma Vilma, que reconhece existir, em geral, pouca participa��o dos cidad�os na vida em sociedade. “Ningu�m vai nem a reuni�o de condom�nio”, diz.

Na avalia��o do coordenador do N�cleo de Estudos Sociopol�ticos da PUC Minas, Robson S�vio, eleitores est�o esquecidos por causa de um conjunto de vari�veis. “O cidad�o atribui ao Executivo todas as responsabilidades em rela��o ao Estado. Al�m disso, o mercado eleitoral � amplo e desproporcional. H� tamb�m uma descren�a muito grande das pessoas. O eleitor n�o se v� representado e vota de qualquer jeito, o que deixa a democracia representativa mais fragilizada”, afirma.
Apesar de serem minoria entre os entrevistados, oito eleitores (26%) n�o deixaram a mem�ria falhar. “Se a gente n�o lembrar do voto, ficam essas porqueiras a� na pol�tica”, critica o chaveiro Luiz Ricardo Carneiro, de 54. Interessada em pol�tica desde a adolesc�ncia, a advogada Nair Eul�lia Costa, de 35, se mostra eleitora atenta. “Acompanho os pol�ticos pelo Facebook e pelas not�cias. Estou muito satisfeita com a deputada estadual em que votei”, afirma Nair, para quem a proximidade dos eleitores leva a maior transpar�ncia dos mandatos.