
“Vamos buscar o di�logo, porque a ambival�ncia da coisa est� t�o confusa que ningu�m consegue tocar isso aqui para agradar o plen�rio”, disse durante uma das brigas entre governo e oposi��o. Chamado de fil�sofo e poeta entre os deputados e t�cnicos da Casa, Hely Tarqu�nio pediu por algumas vezes, diante de bate-bocas intermin�veis, para os deputados atingirem a maioridade. “N�s precisamos deixar de nos comportar como crian�as aqui dentro. Acho que est� na hora de regular nossas consci�ncias diante das discuss�es aqui”, pregoou.
Quase sempre, as li��es de Dr. Hely v�m durante a discuss�o da ata. Tamb�m na hora do pinga-fogo, em que os deputados podem usar a tribuna para falar de assuntos relevantes. Ocorre que, com o clima amargo que se fixou no Parlamento, os microfones s�o usados para registrar xingamentos de lado a lado. E no af� de colocar seus pontos de vista, os parlamentares est�o sempre reclamando de algum ponto que lhes d� direito � palavra no regimento. Regra essa que o pr�prio vice-presidente ampliou em uma das sess�es. “Se n�o existe no regimento, eu estou criando agora”, disse Dr. Hely quando questionado sobre uma diretriz adotada.
Em uma das sess�es, Hely Tarqu�nio pediu a compreens�o dos colegas, ou n�o teria fim a “falange de discursos”. J� aos citadores do regimento, disse temer que a reuni�o virasse “uma pletora, uma sequ�ncia de artigo”. No meio de tudo isso, o parlamentar de 75 anos pediu que os colegas n�o usassem de prolixidez. E para tentar acalmar os �nimos, ensinou: “Devemos ser mais euf�micos aqui”. De pronto, foi questionado: “Mas, presidente, o que seria mais euf�micos?”, perguntou o deputado Jo�o Leite (PSDB).
O tucano, que esteve com Hely na oposi��o no governo Itamar Franco (1999 a 2003), lembra que naquele tempo Dr. Hely o chamou para discutir a “dial�tica das bancadas” e mais uma vez n�o funcionou. “Falei, sou jogador de futebol, n�o for�a a barra. Mais recentemente, ele disse que o subconsciente � o por�o das ideias. Brinco que ele � o fil�sofo contempor�neo Tarqu�nios”, conta. O l�der da maioria, Vanderlei Miranda (PMDB), tamb�m se diverte com o jeito Hely de presidir as sess�es. “�s vezes, � at� dif�cil entender, porque ele fala por par�bolas, n�o consegue dialogar sem citar fil�sofos ou pensadores.”
NO DIV� DO DOUTOR Jo�o Leite define o colega como uma pessoa maravilhosa, um benem�rito, que usa a profiss�o de m�dico para ajudar os outros. Dr. Hely � cirurgi�o e psiquiatra. Talvez da� venha o impulso de tentar enquadrar o comportamento agressivo de alguns parlamentares. “� preciso deixar a compuls�o para depois, porque sen�o o julgamento do eu estar� enfraquecido”, indicou. Tarqu�nio tamb�m chega a fazer an�lise dos colegas. “Os deputados deviam desconfiar que o outro quer espa�o, mas o ego fala muito mais alto aqui dentro.”
Acostumado com as rotineiras brigas entre os l�deres da base e da oposi��o, Tarqu�nio inventou o “artigo 64 preventivo”. Ou seja, dizendo prever que haveria cita��es e direito de resposta, ele j� destinou espa�o para os dois lados falarem na reuni�o. Mas ele n�o deixa de tentar um clima diferente. “Usarei uma palavra complicada, noosf�rica, espiritual, para ver se conduzimos esta reuni�o.” At� mesmo nas brigas com os colegas n�o falta jogo de cintura ao anci�o. Ao deputado a quem, em uma ocasi�o, pediu que agisse como animal racional, ele se retratou. “Nunca cometi esse pecado mortal, mas quero receber sua afei��o e seu sentimento de companheiro e, sobretudo, de ser humano. Deixo, portanto, o meu pedido de desculpas.” Afinal, a grande li��o no fim das contas sempre � a mesma: “Aqui, temos de cultivar o amor, n�o o �dio, a ira; sen�o, n�o h� solu��o”.
FILOSOFIA DE PLEN�RIO
O posicionamento pol�tico, as reivindica��es t�m que ser feitas num clima human�stico, num clima de compreens�o do outro. Ent�o, pediria um pouco de silencio para o deputado expressar seu pensamento”
“Aqui, temos de cultivar o amor, n�o o �dio, a ira; sen�o, n�o h� solu��o. Devemos ser mais euf�micos aqui”
“Vamos refletir sobre a import�ncia
do sil�ncio”
“Vamos deixar a compuls�o pra depois porque sen�o o julgamento do eu est� enfraquecido”
“Guarda isso, gente. Vamos passar para a maioridade. O direito � ambivalente: um quer uma coisa, o outro quer outra. Vamos dialogar para ver se chegamos a uma conclus�o, sen�o esse plen�rio vai ficar na menoridade, e n�s estamos no s�culo 21”
“Os partidos se anulam no elenco que comp�e esse leque da representa��o popular do estado”
“N�s vamos evitar o conflito para atender as duas partes apaixonadas”
“Os deputados deviam desconfiar que o outro quer espa�o, mas o ego fala muito mais alto aqui dentro”
“Estamos precisando de uma atmosfera noosf�rica, espiritual, para ver se conduzimos esta reuni�o”
“Na transversalidade dos assuntos em rede, n�o vamos aceitar trazer esse coment�rio transversal e corrente, que voc� vive no final de semana, para dentro da ata”
“Pe�o que os senhores reflitam sobre a maioridade da representa��o do deputado para o bem do povo”
