S�o Bernardo do Campo, 29 - Em um discurso com foco na import�ncia da participa��o popular na gest�o p�blica, desde os munic�pios at� a Uni�o, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva defendeu a ascens�o social da popula��o, especialmente a ocorrida nos �ltimos 12 anos, e a maneira de governar do PT. Ele tamb�m reiterou a necessidade do governo de ouvir o povo. "N�o existe outra possibilidade de um presidente ser bem-sucedido sem ouvir a sociedade, muitas e muitas vezes", afirmou neste s�bado (29), em S�o Bernardo do Campo.
Lula afirmou que o "maior legado" que deixou dos seus oito anos como presidente (2003 a 2010) foi a rela��o do governo com a sociedade e os movimentos sociais. "Se juntar todos os presidentes em 100 anos, n�o deu 10% das reuni�es que tivemos com o movimento social. Foram 74 conferencias nacionais". Para ele, os encontros foram fundamentais para definir pol�ticas p�blicas federais.
Na avalia��o de Lula, as administra��es municipais do PT, iniciadas em 1982 na cidade de Diadema, em S�o Paulo, foram "uma revolu��o administrativa" importante para o Brasil. "A constru��o de or�amento participativo foi uma revolu��o de comportamento e cultura neste Pa�s", disse. "Pela primeira vez o povo humilde era chamado a uma reuni�o para discutir cada prioridade do seu bairro e cidade".
"O plano plurianual � a coisa mais cidad� do ponto de vista gerencial nas cidades e isso incomoda muita gente. O PT vai dando esses exemplos e obrigando a cobrarem de outros prefeitos", afirmou o ex-presidente. "Para alguns, isso n�o � bom. Fica desagrad�vel, porque para eles o povo n�o tem que dar palpite", disse. "Os pol�ticos deixavam para fazer as obras no �ltimo ano, que era eleitoral. N�o precisa acabar, era s� come�ar. O PT mudou essa cultura."
Lula afirmou que, quando foi presidente, "ficou com a orelha at� um pouco baixa" de tanto que ouviu diversos segmentos sociais por diversas vezes, e que esse era o melhor instrumento para dar voz ao povo no governo. "Um pa�s do tamanho do Brasil n�o � poss�vel governar a partir de Bras�lia, sem ter no��o da mega diversidade cultural, econ�mica e social. A gente ganha sabedoria quando ouve as pessoas", disse.
"Certa vez, quando eu era presidente, fizemos uma reuni�o com os portadores de defici�ncia visual com seus c�es, pois havia uma discuss�o de que eles n�o poderiam entrar em metr�, em shopping. Eles v�o entrar no Pal�cio, pois assim v�o entrar em qualquer lugar", disse Lula. "O Pal�cio continuou recebendo pr�ncipes e empres�rios. Mas tamb�m recebeu a sociedade, representantes do movimento LGBT, MST, o movimento dos sem carro e sem mulher", disse. "Neste Pa�s, o presidente n�o se reunia com reitores, e olha que todos eram professores universit�rios", afirmou. "Os presidentes n�o se reuniram com prefeitos. Passamos a mudar essa l�gica com a consci�ncia de que ser presidente � apenas uma fun��o."
Lula tamb�m criticou a postura de segmentos da sociedade, que, para ele, s�o contr�rios � melhora do padr�o de vida das pessoas mais pobres e que registraram ganho substancial em seus sal�rios e poder de compra nos 12 anos em que o PT governou o Pa�s. "Estamos apenas come�ando e falta muita coisa para a gente fazer", apontou. "Neste momento, o PT passa por um processo de criminaliza��o, como ocorreu com o partido comunista nos anos 1940. Esse � o momento de o PT levantar a cabe�a outra vez e ir para rua", conclamou, num audit�rio com cerca de 1,7 mil pessoas, em S�o Bernardo do Campo.
"Fico pensando que h� um certo incomodo neste Pa�s. H� um certo �dio emocional. As pessoas n�o discutem como h� 10, 20 anos. As pessoas estabeleceram uma divis�o na sociedade", destacou o ex-presidente. "Pode ser que alguns t�m raz�o em algumas cr�ticas, mas do que vem esse �dio? H� uma irracionalidade. Ser� que uma parte desse �dio contra o PT � porque as empregadas dom�sticas conquistaram mais direitos? As pessoas est�o indo para as ruas para desfazer as melhoras que conquistamos?", questionou.
"Melhoramos muito o valor do sal�rio m�nimo. Colocamos mais gente nas universidades do que eles em um s�culo. Ocorreu no Brasil em 12 anos mais ascens�o social do que eles fizeram em 500 anos", disse Lula. "Uma parte da elite sempre deu de barato que a maioria da popula��o tinha nascido para ser pobre e n�o precisa estudar."
Mujica
O ex-presidente do Uruguai Jos� Mujica, que dividiu o palco com Lula, fez um discurso mais curto, antes do realizado pelo ex-presidente. Ele defendeu que a democracia, para existir, precisa de partidos pol�ticos a fim de comunicar constantemente os pleitos populares aos governantes para que sejam atendidos. "Os partidos s�o a vontade coletiva de grupos humanos. N�o h� homens imprescind�veis. H� causas imprescind�veis", destacou.
"Mais do que nunca, precisamos de paci�ncia e milit�ncia. Precisamos de partidos progressistas e de solidariedade." Mujica afirmou que o PT � um destes partidos, que, na sua avalia��o, � refer�ncia em toda a Am�rica Latina.