
At� as an�lises mais otimistas do cen�rio pol�tico brasileiro j� previam que, em agosto, a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentaria um m�s de desgosto, com manifesta��es populares pedindo o seu impeachment, a vota��o de pautas-bomba no Congresso Nacional, al�m da possibilidade de julgamento das contas de governo e da campanha eleitoral petista. O que era dif�cil imaginar � que o pr�prio governo se encarregaria de p�r a corda no pesco�o, transformando as press�es externas e a oposi��o em meros detalhes frente aos problemas criados pelo Pal�cio do Planalto e seus aliados. Ao promoverem um festival de “bate-cabe�as”, do m�s passado para c�, a mandat�ria e sua equipe se encurralaram em um labirinto de idas e vindas sobre decis�es que mexem no bolso e na vida da popula��o e, por isso, causam um grande desgaste � j� corro�da imagem da presidente.
Em pelo menos duas medidas cogitadas e depois engavetadas nas �ltimas semanas, o governo brincou com fogo. Primeiro, amea�ou n�o pagar a antecipa��o do 13º sal�rio aos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Foi tamanha a repercuss�o negativa, que n�o demorou muito para que recuasse e fosse a p�blico garantir que o pagamento do benef�cio sair� ainda este m�s. Dias depois desse trope�o, o governo soltou o bal�o de ensaio sobre a possibilidade de volta da Contribui��o Provis�ria sobre a Movimenta��o Financeira (CPMF) para arrecadar mais recursos para a sa�de. Mais uma vez, houve uma rea��o pesada contra a ideia da presidente, principalmente do setor empresarial. E Dilma foi obrigada a voltar atr�s, embora continue com o discurso em defesa da cria��o de uma nova fonte de receita.
Ent�o veio a entrega ao Congresso, pela primeira vez na hist�ria, de um Or�amento com d�ficit de R$ 30,5 bilh�es, gerando “trombadas” dentro da equipe econ�mica do governo, entre os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento). O impasse deu at� margem para, nos bastidores, falarem que Levy, pe�a-chave no governo Dilma, estaria de sa�da. “Impressiona como a presidente pode ser t�o mal assessorada”, afirma a cientista pol�tica Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de S�o Carlos (Ufscar).
“A posi��o sobre o pagamento do 13º dos aposentados mudava de uma semana para outra. A (volta) da CPMF vem em uma hora muito negativa. � de uma inabilidade aparente esse tipo de rea��o numa conjuntura j� complicada”, afirma a professora. Segundo ela, para que Dilma consiga se manter no poder, � necess�rio evitar decis�es draconianas. Mas um dos complicadores, de acordo com a especialista, � que, no governo, “n�o h� ainda clareza para melhorar o cen�rio economicamente”.
E as “trombadas” n�o se restringiram � economia. Ao contr�rio do discurso de campanha, o governo anunciou que reduziria minist�rios, cortando pelo menos 10 pastas. A not�cia foi recebida com apreens�o pela base aliada, temerosa de perder cargos comissionados. At� agora, ningu�m explicou exatamente como ser� o corte.
Mas as maiores tens�es pol�ticas vieram de declara��es do vice-presidente Michel Temer. Uma semana depois de deixar parte da articula��o pol�tica do governo, Temer (PMDB) disse, na quinta-feira, que, com a baixa popularidade da presidente – que est� entre 7% e 8% –, fica “dif�cil” Dilma “passar tr�s anos e meio” no governo. O Planalto tentou minimizar, mas a declara��o pegou muito mal. Em agosto, Temer j� havia dito que o Brasil precisava de algu�m capaz de “reunificar o pa�s”. “H� um grupo internamente no PMDB que quer se cacifar politicamente”, conclui Maria do Socorro.
“MENOS PIOR” Apesar das turbul�ncias criadas internamente, o cientista pol�tico Lucas Cunha, pesquisador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia que o governo chega a setembro “menos pior”. “Houve um rearranjo de for�as pol�ticas que permitiu com que o governo tomasse medidas para sair do sufoco”, afirma Lucas Cunha, que pondera a dificuldade de se tomar decis�es econ�micas. “Fazer ajuste fiscal e manter a popularidade � desafio para qualquer governo”, diz.
Na an�lise do cientista, pesaram a favor de Dilma a recondu��o do procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, ao cargo, al�m do isolamento do presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB) – o deputado federal, que j� havia rompido com o governo em julho, foi denunciado pelo Minist�rio P�blico Federal (MPF) por causa da Opera��o Lava-Jato. O pesquisador tamb�m cita a Agenda Brasil, apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, para minimizar a crise econ�mica.
Bate-cabe�a e fogo amigo
Confira os escorreg�es do governo e seus aliados nas �ltimas semanas
13º SAL�RIO
» Aposentados e pensionistas do INSS quase ficaram sem receber a primeira parcela do 13º sal�rio, que desde 2006 � antecipada para os meses de agosto e setembro. Segundo o governo, n�o havia recursos em caixa para custear a despesa e o Minist�rio da Fazenda prop�s a divis�o do benef�cio em duas parcelas, 25% em setembro e 25% em outubro. Decreto publicado na sexta-feira garante o adiantamento de 50% do benef�cio de 24 de setembro a 7 de outubro, mas sindicatos de aposentados chegaram a ir ao Supremo Tribunal Federal (STF).
CPMF
» O ministro da Sa�de, Arthur Chioro, anunciou no dia 27 a inten��o do governo de criar novo imposto para financiar a sa�de, a Contribui��o Interfederativa da Sa�de (CIS), com al�quota de 0,38%. Ele funcionaria aos moldes da antiga CPMF, cobran�a sobre movimenta��es financeiras que acabou em 2007 e vigorou por 10 anos. A inten��o seria arrecadar R$ 85 bilh�es para a sa�de p�blica. O an�ncio gerou rea��o negativa na C�mara e no Senado. Tr�s dias depois, a presidente Dilma desistiu do retorno da CPMF, numa declara��o evasiva. “N�o gosto da CPMF. Acho que a CPMF tem as suas complica��es, mas n�o estou afastando a necessidade de fontes de receita. N�o estou afastando nenhuma fonte de receita.”
OR�AMENTO
» Pela primeira vez, o Planalto enviou ao Congresso um Or�amento que prev� gastos maiores que as receitas, com estimativa de d�ficit de R$ 30,5 bilh�es. Dilma tratou como um ato de “transpar�ncia” do governo, mas abriu caminho para que parlamentares pedissem a devolu��o da pe�a or�ament�ria e cobrassem cortes no governo. Por causa disso, houve tamb�m desgaste entre os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), criando rumores da sa�da de Levy, incomodado com “sinais trocados” na condu��o da pol�tica fiscal. Depois de se reunir com ministros na sexta-feira, Dilma disse que vai levar adiante a posi��o de Levy, que quer consolidar o Or�amento de 2016 de modo a cumprir a meta de super�vit de 0,7% do PIB no ano que vem, mas um dia depois falou que o governo n�o tem mais onde cortar gastos.
TEMER
» Em um evento em S�o Paulo, o vice-presidente Michel Temer declarou que acha dif�cil a presidente Dilma resistir at� o fim do governo com a baixa popularidade. “Se continuar assim, eu vou dizer a voc�, para continuar 7%, 8% de popularidade, de fato fica dif�cil passar tr�s anos e meio”, disse. Na semana anterior, ele j� havia sa�do de parte da articula��o pol�tica do governo e, no in�cio de agosto, dito que algu�m precisava “reunificar o pa�s”. Apesar de minimizadas pelo Planalto, as declara��es come�aram a gerar desconfian�a na c�pula do governo.
CORTE DE MINIST�RIOS
» At� o fim de setembro, o governo promete anunciar a redu��o de pelo menos 10 minist�rios. A proposta, al�m de contradizer o discurso de campanha de Dilma, gerou instabilidade na base aliada. Parlamentares temem perder cargos comissionados. O assunto n�o � consenso nem mesmo dentro do governo. Dilma est� resistente � proposta do Minist�rio do Planejamento que prev� a redu��o de 15 pastas.