
Bras�lia – Ao decidir entregar o Minist�rio da Sa�de para o PMDB, em troca de uma blindagem contra o processo de impeachment que a pressiona, a presidente Dilma Rousseff diminuiu ainda mais o peso do PT na composi��o do pr�prio governo. Somados, os minist�rios comandados pela sigla – levando em conta o desenho da reforma administrativa idealizado pela presidente – tiveram dota��o or�ament�ria de R$ 871 bilh�es em 2015, ante R$ 181,4 bilh�es do PMDB, segundo levantamento feito pela ONG Contas Abertas. Isso significa que o principal aliado na coaliz�o governista administra apenas 20% dos recursos que est�o sob o comando dos petistas. Mas, politicamente, essa an�lise � bem mais complexa e refinada.
O Minist�rio da Sa�de � respons�vel pelas principais a��es sociais do governo. Tem o maior or�amento da Esplanada. A Previd�ncia pode at� ter mais recursos, mas eles est�o carimbados para o pagamento das pens�es e aposentadorias. N�o h� margem de manobra. Al�m disso, a Sa�de tem capilaridade, obras e a��es em todo o pa�s, algo ideal para uma legenda que tem pretens�es de lan�ar nome pr�prio para 2018. Basta lembrar, apenas na hist�ria recente, que o tucano Jos� Serra disputou a Presid�ncia em 2002 e que o petista Alexandre Padilha concorreu ao governo de S�o Paulo em 2014.
� verdade que, ao longo dos governos do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, o PMDB ocupou o Minist�rio da Sa�de com Saraiva Felipe e Jos� Gomes Tempor�o. Mas, nesses per�odos, o PT era soberano no comando do governo. A legenda comandava o Minist�rio da Fazenda, respons�vel pela pol�tica econ�mica do governo, com Antonio Palocci e Guido Mantega. Estava � frente da Educa��o (com Cristovam Buarque, Tarso Genro, Fernando Haddad e Aloizio Mercadante); tinha uma Casa Civil forte (Jos� Dirceu e Dilma Rousseff); e era onipotente na articula��o pol�tica.
O quadro hoje � bem menos favor�vel, quando n�o completamente adverso. A formula��o econ�mica do governo est� nas m�os de Joaquim Levy, ligado ao mercado financeiro. No Minist�rio da Educa��o est� o fil�sofo e professor Renato Janine Ribeiro – que substituiu o neopedetista Cid Gomes. Dilma teria, inclusive, sinalizado a possibilidade de entregar a pasta ao PMDB, mas o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, bateu o p� e n�o concordou. Sem a Sa�de, agora � o PT que tenta sentar na cadeira.
Na Casa Civil est� Aloizio Mercadante, mas, a pedido de Lula, ele ter� que diminuir sua �rea de atua��o, limitando-se a gerenciar a m�quina governamental, para n�o melindrar os aliados. Atuar�, pelo menos em tese, menos na negocia��o pol�tica do governo. At� neste caso, em que um petista assumir� a tarefa, a miss�o ser� devidamente compartilhada. Com a desist�ncia do vice-presidente Michel Temer de exercer o papel, o trabalho ser� feito por Ricardo Berzoini. Mas ele pr�prio tem repetido, aos quatro ventos, que precisa da ajuda do PMDB e de Temer para exercitar a miss�o.
Pastas tem�ticas
Ao PT restou a hegemonia sobre pastas da �rea social e da sociedade civil organizada, que sempre estiveram ligadas � legenda, mesmo nos per�odos em que o partido era oposi��o: Direitos Humanos, Igualdade Racial, Pol�tica para Mulheres, Desenvolvimento Agr�rio. O Bolsa-Fam�lia, por exemplo, hoje funciona praticamente sozinho e n�o ser� extinto, mesmo que os partidos de oposi��o voltem ao poder daqui a tr�s anos. E, mesmo neste setor, o governo enfrenta dificuldades.
Durante recente reuni�o com representantes de movimentos pela moradia, Dilma e o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, ouviram reclama��es. “Eles precisam definir a data de lan�amento da terceira etapa do Minha casa, minha vida. Se isso n�o ocorrer, vamos �s ruas e paramos o pa�s”, amea�ou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. O sindicalista, inclusive, teve dificuldades de abrir esse canal de di�logo. “Foi um sufoco para coloc�-lo no Planalto. A presidente n�o estava muito disposta a receb�-lo”, admitiu um assessor palaciano ligado aos movimentos sociais.
“� evidente que o PT perdeu capacidade de articula��o pol�tica, sobretudo no Congresso”, reconheceu o l�der do PMDB na C�mara, Leonardo Picciani (RJ), que est� negociando as indica��es para o Minist�rio da Sa�de e o futuro Minist�rio da Infraestrutura, fruto da fus�o da Secretaria Nacional de Avia��o Civil e da Secretaria de Portos.