S�o Paulo, 22 - Fernando 'Baiano' Soares, apontado como um dos operadores de propinas na Petrobras ligado ao PMDB, descreveu aos investigadores da Opera��o Lava-Jato, em sua dela��o premiada, como acertou com o presidente da C�mara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estrat�gias para pressionar o lobista Julio Gerin Camargo a pagar US$ 16 milh�es em propinas atrasadas, relativas a contratos de constru��o de navios-sonda da Petrobras.
Segundo Baiano, foram reuni�es na casa e no escrit�rio do presidente da C�mara, no Rio, ocorridas entre 2010, na �poca de campanha eleitoral, e 2011. No Condom�nio Park Palace, localizado na Barra da Tijuca, Fernando Baiano ter selado acordo com Cunha para o uso de requerimentos oficiais da C�mara dos Deputados como forma de pressionar o lobista Julio Camargo a pagar a propina atrasada.
O dinheiro era referente � contrata��o de um dos dois navios-sonda da Samsung Heavey Industries, da Coreia, em parceria com o Grupo Mitsui, do Jap�o. Os neg�cios fechados entre 2006 e 2007, pela Diretoria de Internacional da Petrobras - cota do PMDB no esquema de fatiamento pol�tico da estatal, que inclui ainda PT e PP - envolveram US$ 35 milh�es em propina. Desse valor, US$ 5 milh�es teriam ido para as contas secretas de Cunha, na Su��a, ou disponibilizados em recursos, doa��es a uma igreja e horas de voo em um jato.
"� uma casa de dois andares, sendo uma casa aparentemente espa�osa", contou Fernando Baiano, buscando na mem�ria detalhes dos encontros que teve com o presidente da C�mara. "Na casa de Eduardo Cunha, ao adentrar, o escrit�rio onde se reunia com ele (Fernando Baiano) ficava na primeira porta do lado esquerdo, raz�o pela qual n�o teve muito contato com o restante da resid�ncia."
As declara��es de Baiano foram prestadas no dia 10 de setembro de 2015 � Procuradoria Geral da Rep�blica, nos inqu�ritos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF). Parte delas, foi anexada aos autos da Lava-Jato, em Curitiba - onde est�o processos que envolvem alvos sem foro privilegiado.
Elei��es
A primeira reuni�o descrita pelo lobista na resid�ncia de Cunha teria ocorrido no segundo semestre de 2010, quando o presidente da C�mara era um dos candidatos a deputado federal pelo PMDB do Rio.
"Nesta reuni�o o depoente (Fernando Baiano) explicou a Eduardo Cunha que tinha feito duas reuni�es com Julio Camargo, assim como alguns contatos telef�nicos, mas que Julio ainda estava buscando ganhar tempo, 'empurrando com a barriga'", registra a for�a-tarefa da Lava-Jato, no termo de dela��o n�mero 3 do lobista do PMDB.
O lobista relatou que "como estava no auge da campanha eleitoral, Eduardo Cunha disse que naquele momento n�o tinha como gastar tempo com aquilo, mas que iria pensar em algo e voltaria a falar" com Baiano "oportunamente".
P�s-elei��o
O desfecho da hist�ria, que tem interesse crucial para os investigadores da Lava-Jato, teria ocorrido no primeiro semestre de 2011. "S� voltou a falar com Eduardo Cunha ap�s as elei��es, oportunidade em que esteve no escrit�rio dele para parabeniz�-lo pela reelei��o", conta Fernando Baiano.
Uma nova reuni�o na casa do presidente da C�mara, no Rio, veio a acontecer em mar�o de 2011, diz o delator. "Nesta reuni�o, o depoente (Fernando Baiano) perguntou se n�o poderia ser retomado o assunto de Julio Camargo e o que Eduardo Cunha poderia fazer algo", registrou o delator. Ele prop�s ent�o que a cota de 20% da d�vida de propina que seria dada para Cunha seria elevada para 50%, em contrapartida a uma "press�o mais forte, como uma reuni�o em que ele estivesse presente ou outra coisa do tipo".
Seriam US$ 16 milh�es, sendo que parte disso j� comprometida com a corrup��o de agentes p�blicos da Petrobras, como Nestor Cerver� e Eduado Musa - delator da Lava-Jato. "Eduardo Cunha disse que iria pensar em alguma forma mais efetiva de cobrar J�lio Camargo, pois se fizesse uma reuni�o com ele, pressionasse e n�o tivesse resultado, ficaria ruim", explicou Fernando Baiano.
Solu��o parlamentar
O lobista atribui ao presidente da C�mara a sa�da encontrada por eles para pressionar com efetividade o representantes das multinacionais que constru�ram os dois navios sondas, usando a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), como autora do pedido.
"Tempo depois, por volta de abril de 2011, Eduardo Cunha mandou uma mensagem, pedindo para o depoente se encontrar com ele no escrit�rio do Rio de Janeiro (do deputado)", registra a Procuradoria. "Nesta reuni�o Eduardo Cunha disse que havia tomado a decis�o de fazer um requerimento na Comiss�o de Fiscaliza��o da C�mara pedindo explica��o sobre os neg�cios de Julio Camargo."
Pistas
Os investigadores da for�a-tarefa da Lava-Jato t�m elementos suficientes para apontar o envolvimento de Cunha no esquema de corrup��o na estatal. O relato de Fernando Baiano, que est� preso desde dezembro de 2014, em Curitiba, traz elementos, como os registros do condom�nio, sobre esses supostos encontros narrados na dela��o.
O presidente da C�mara negou repetidas vezes o recebimento de propinas no esquema Petrobras. O PMDB tem reiterado que jamais autorizou qualquer pessoa a agir em nome do partido.