
O tiroteio pol�tico entre PT e PSDB em torno de um processo de impeachment do presidente da Rep�blica tem cara de reprise, mas com os pap�is trocados. H� 16 anos, os brasileiros viveram um processo semelhante ao atual quando petistas encabe�aram um movimento pela destitui��o do ent�o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reconduzido para o cargo nas elei��es de 1998 ao vencer Luiz In�cio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, com 53,6% dos votos. Ainda n�o se sabe quando ou como ser� o desfecho do processo envolvendo a presidente Dilma Rousseff, mas na era FHC o Pal�cio do Planalto saiu vitorioso. Em 18 de maio de 1999, 342 votos de aliados enterraram a possibilidade de afastamento do tucano. FHC havia sido alvo de 14 pedidos de afastamento, contra os 34 apresentados por opositores de Dilma Rousseff. Os n�meros podem at� ser bem diferentes, mas os argumentos para a cassa��o do mandato presidencial mant�m a mesma linha: o chamado crime de responsabilidade.
A petista foi enquadrada pelas ditas “pedaladas fiscais” – nome dado ao uso de recursos de bancos p�blicos para o custeio de programas sociais –, gastos do governo sem autoriza��o do Congresso Nacional e d�vidas n�o contabilizadas. Em 1999, Fernando Henrique foi alvo de den�ncias durante a execu��o do Programa de Est�mulo � Reestrutura��o do Sistema Financeiro Nacional, o Proer, al�m de ter sido acusado de tentar constranger o Minist�rio P�blico e outros �rg�os respons�veis pela investiga��o.
Propostas
Quando era oposi��o ao Pal�cio do Planalto, o PT alegava ter propostas alternativas para tirar o Brasil da crise – e, por isso, defendia o afastamento do presidente tucano. Pois agora � o PSDB que diz ter a receita de salva��o do pa�s. Tanto que, no pr�ximo dia 8, o presidente nacional do PSDB, senador A�cio Neves (MG), deve fazer um discurso na tribuna do Senado sobre a situa��o do pa�s e apresentar as primeiras solu��es encontradas pelos tucanos para driblar a crise econ�mica.
A defesa da democracia foi propagandeada pelo PSDB aos quatro cantos para combater o afastamento de FHC. O discurso era de que os petistas n�o se conformavam com a terceira derrota consecutiva de Lula nas urnas – duas delas para o pr�prio Fernando Henrique Cardoso. Na era Dilma, o PT � que usa esse argumento contra o PSDB, j� que os tucanos n�o aceitariam ter perdido quatro elei��es para o PT – Lula, em 2002 e 2006, e Dilma, em 2010 e 2014.
“O que presumo � que existe ainda uma frustra��o enorme na alma e no peito desses ilustres parlamentares, que n�o concordam ou n�o aceitam a delibera��o majorit�ria da sociedade brasileira”, discursava no plen�rio o ent�o l�der do PSDB na C�mara, A�cio Neves, em 1999. No in�cio deste ano, o l�der do PT no Senado, Humberto Costa (PE) usou argumento bem parecido: “Parece que o senador A�cio perdeu em 2014 e agora n�o aceita mais derrota”.
‘Golpismo’ agora mudou de lado
Golpe, golpismo, golpistas s�o palavras que voltaram para o cotidiano pol�tico nacional, especialmente pelos petistas, para referir-se aos que defendem o impeachment. As express�es foram utilizadas pelo PSDB na defesa de Fernando Henrique. Agora, fazem parte do vocabul�rio petista. A pr�pria presidente Dilma tocou no assunto na sexta-feira, durante discurso no encerramento da 15ª Confer�ncia Nacional de Sa�de, em Bras�lia. Ela disse que vai lutar contra o impeachment. “Para a sa�de da democracia, n�s temos de defend�-la contra o golpe”, declarou a presidente.
Em 1999, o deputado Arnaldo Madeira disse: “Ao pedir a abertura de processo de impeachment contra FH, a oposi��o est� repetindo uma tradi��o hist�rica da esquerda brasileira, que � a de adotar atitudes golpistas e se negar sempre a fazer o jogo pol�tico”. “� o povo na rua que est� falando cada vez mais nisso (impeachment). N�o se pode falar em golpismo quando se pronuncia a palavra impeachment”, disse recentemente o senador tucano C�ssio Cunha Lima (PB).
As cr�ticas entre petistas e tucanos em rela��o �s suas gest�es tamb�m se assemelham. Fernando Henrique foi acusado de estelionato eleitoral pela oposi��o, por n�o tirar do papel a promessa de campanha de crescimento e gera��o de emprego e renda no pa�s no seu segundo mandato. Da mesma forma, agora o PSDB acusa o PT do mesmo, ao conduzir o pa�s de forma bem diferente daquela anunciada na disputa eleitoral.
FHC critica o sistema pol�tico
S�o Paulo – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, durante evento em Lisboa, que parte do sistema pol�tico no Brasil est� “altamente desmoralizada” e que a fragmenta��o do sistema pol�tico no Brasil � “inacredit�vel”. “Temos mais de 30 partidos e 39 minist�rios, apenas para absorver os interesses desses partidos”, disse FHC, em debate promovido pela Funda��o Champalimaud – o n�mero de minist�rios citado por Cardoso � anterior � reforma administrativa anunciada pelo governo, em outubro, que reduziu de 39 para 31 o total de minist�rios.
O ex-presidente afirmou ainda que, com as elei��es e a maior mobiliza��o social em rela��o aos assuntos pol�ticos ao longo dos �ltimos anos, h� uma certa tens�o entre a democratiza��o e o atual formato do sistema pol�tico brasileiro. “Como consequ�ncia da democratiza��o e das mobiliza��es, se olharmos dentro do Congresso, talvez tenhamos uma representa��o mais moderna do que antes”, disse FHC. “Mas n�o por causa disso h� uma moderniza��o da cultura pol�tica brasileira”.
DELC�DIO
Fernando Henrique disse tamb�m que a decis�o do Senado de manter a pris�o do senador Delc�dio do Amaral (PT-MS), detido h� 10 dias pela Pol�cia Federal sob acusa��o de obstruir as investiga��es da Opera��o Lava-Jato, foi influenciada pelas press�es populares, manifestadas sobretudo via redes sociais. Para o ex-presidente, o Senado iria optar por n�o manter Delc�dio preso, apesar de o parlamentar ter feito “coisas ruins”. “Foi uma surpresa, por 59 votos a favor e 13 contra, o Senado decidiu que a pris�o era correta. Por qu�? Por causa das m�dias sociais”, disse o ex-presidente, destacando que os senadores come�aram a receber informa��es a respeito das press�es populares sobre o tema a partir das redes sociais. “Hoje � poss�vel ir al�m. As pessoas t�m voz, independentemente das estruturas e institui��es.”