
O operador de propinas Fernando Antonio Falc�o Soares, o Fernando Baiano, entregou � Pol�cia Federal c�pia dos registros de entrada e sa�da do hotel em que se hospedou em Bras�lia, em junho de 2010, ocasi�o que teria participado de reuni�o entre o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. No encontro, ele afirma que foi acertado o pagamento de R$ 2 milh�es para a campanha da presidente Dilma Rousseff.
O documento foi anexado na quinta-feira, 7, pela defesa de Fernando Baiano, junto com o comprovante das passagens de ida e volta para Bras�lia, em novembro de 2010. O delator sustenta que, do Hotel Meli�, foi de carona em uma carro da Petrobras com Paulo Roberto Costa at� uma casa usada pelo comit� da campanha, onde Palocci - que era coordenador da campanha presidencial do PT - e um ex-assessor, Charles Capella de Abreu, teriam pedido apoio financeiro.
O pagamento de R$ 2 milh�es � campanha presidencial do PT em 2010 foi inicialmente apontado aos investigadores da PF em agosto de 2014 por Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da Lava Jato.
O ex-diretor relatou ter recebido um pedido via Alberto Youssef, que teria falado no nome de Palocci. O doleiro negou ter sido ele o autor do pedido e revelou posteriormente que outro operador de propinas traria � tona tal demanda. Ele confirmou que entregou naquele ano R$ 2 milh�es, em S�o Paulo, a pedido de Costa, sem saber quem era o benefici�rio.
Na vers�o de Fernando Baiano, o ex-diretor da Petrobras o teria procurado em 2010 preocupado com sua perman�ncia no cargo em uma eventual vit�ria de Dilma. O lobista afirma ter se reunido com o pecuarista Jos� Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, para que ele tentasse garantir a perman�ncia de Costa na Diretoria de Abastecimento da estatal caso a candidata petista fosse eleita.
"Bumlai respondeu que sim (poderia ajudar) e que faria o que fosse poss�vel", afirma Baiano. "Bumlai disse que a pessoa mais indicada para fazer a aproxima��o de Paulo Roberto Costa com o PT era Antonio Palocci, uma vez que era naquele momento o coordenador da campanha de Dilma Rousseff e provavelmente seria o ministro da Casa Civil."
"Em seguida combinou com Paulo Roberto Costa, e, depois de tudo acertado, no dia agendado, o depoente e Costa se encontraram em Bras�lia", contou Baiano. "Se hospedou em Bras�lia, com quase certeza, no Hotel Meli�, no Setor Hoteleiro Sul. De l�, seguiram em um Corolla preto da Petrobras, at� o QG da campanha presidencial.
Fernando Baiano conta que posteriormente acompanhou Costa no encontro com Palocci, em Bras�lia. O ex-ministro teria falado que "haveria interesse por parte do PT" na continuidade dele na Diretoria de Abastecimento.
"Em seguida se passou a falar da campanha presidencial; que ent�o Antonio Palocci falou que seria muito importante se Paulo Roberto Costa em sua rela��o com as empresas que eram prestadoras de servi�os na Petrobras conseguisse ajudar com doa��es para a campanha de Dilma Rousseff."
Fernando Baiano afirma que o ex-diretor disse que poderia ajudar, mas n�o falou sobre valores nem como seria essa ajuda.
"No final da conversa, Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalhava com ele, possivelmente um assessor dele, que o estava ajudando nesta parte de arrecada��o", explicou Fernando Baiano. "Pelo que se recorda, o nome dessa pessoa era Charles."
Paulo Roberto Costa foi colocado frente a frente com Fernando Baiano em setembro de 2015, e negou que tivesse participado de reuni�o com ele e Palocci para tratar do assunto. O ex-diretor sustenta ter ouvido de Youssef o pedido de R$ 2 milh�es para a campanha do PT a pedido do ex-ministro. Costa disse que autorizou o pagamento.
Youssef - pe�a central da Lava Jato - detalhou � PF em outubro o pagamento que fez em dinheiro vivo no Hotel Blue Tree, na Avenida Faria Lima, em S�o Paulo, a um emiss�rio que ele n�o sabe dizer quem era. A suspeita dos investigadores recai sobre Charles Capella de Abreu.
"Tal pessoa tinha a cor de pela branca, estatura m�dia alta, sendo um pouco mais alto que ele, que tem 1 metro e 71 cent�metros, complei��o f�sica normal, mas se tratando de pessoa obesa ou de barriga saliente", descreveu o doleiro.
O suspeito recebeu Youssef em um quarto do hotel, conta o doleiro, que disse n�o se lembrar exatamente o m�s, nem o dia, possivelmente "no per�odo de junho a outubro de 2010". "Os R$ 2 milh�es determinados por Paulo Roberto Costa a tal pessoa foram entregues em uma ou duas malas pequenas, daquelas que se leva como bagagem de m�o em voos comerciais", afirmou Youssef ao delegado Luciano Flores de Lima, da equipe da Lava Jato.
"Esclarece que pode ter sido uma mala pequena, com al�a telesc�pica, e uma maleta, como costumava fazer para transportar essa quantidade de R$ 2 milh�es em notas de R$ 100,00, como foi no presente caso", anotou a PF. O doleiro disse que costumava usar esse tipo de bagagem para "n�o chamar a aten��o, pois encaixava a maleta na al�a prolongada da mala, puxando-as enquanto caminhava".
A PF mostrou uma foto Charles Capella de Abreu para Youssef para saber se poderia ser ele o emiss�rio que recebeu o dinheiro da propina da Petrobras. "Reconhece como sendo poss�vel que a foto seja de tal pessoa referida acima, para a qual entregou os R$ 2 milh�es em notas cuja maioria (cerca de 85%) eram em c�dulas de R$ 100,00 por ordem de Paulo Roberto Costa", registra o depoimento. Em termos de probabilidade, Youssef disse acreditar que tenha "70% a 80% de certeza" se tratar da mesma pessoa.
Defesa
O criminalista Jos� Roberto Batochio, que defende Palocci, nega qualquer irregularidade. "Palocci jamais se reuniu com esse Fernando Baiano, n�o o conhece, nunca o viu na vida, em lugar algum." O defensor tenta anular as dela��es. "� preciso que a Justi�a cancele os benef�cios aos mentirosos e deve faz�-lo de of�cio, sem ter que esperar ser provocada. A Justi�a tem compromisso com a verdade e n�o com escambos, com trocas que escapam da moralidade."
A defesa de Charles Abreu nega qualquer irregularidade.
O PT tem negado irregularidades nas doa��es. "Todas as doa��es recebidas pelo partido foram feitas estritamente dentro das normas legais e posteriormente declaradas � Justi�a."
