Na conversa de ontem, que durou quatro horas e meia, Lula mostrou d�vidas sobre a entrada na equipe e contou ter sido informado por integrantes do PMDB de que sua presen�a no minist�rio, nesse momento, n�o daria "governabilidade plena" a Dilma nem teria o cond�o de, por si s�, barrar o impeachment.
Antes de dar a resposta definitiva, por�m, Lula disse que vai sondar novamente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). As pondera��es do ex-presidente deixaram Dilma e os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) surpresos. Horas antes do jantar no Alvorada, Lula havia dito a amigos que aceitaria assumir a Secretaria de Governo. "Quero saber o que ela espera de mim", afirmara.
Apesar dos sen�es, ministros ainda avaliam que Lula pode aceitar o convite de Dilma. A ideia � que, al�m de cuidar da articula��o pol�tica do governo com o Congresso, na ofensiva contra o impeachment, ele fique respons�vel pelo Conselho de Desenvolvimento Econ�mico e Social.
O Conselh�o, como � conhecido, foi montado em 2003, no primeiro mandato de Lula, reunindo representantes do governo, de sindicatos, movimentos sociais e empres�rios. Acabou, por�m, abandonado por Dilma.
'N�o preciso disso'
Durante o jantar, Lula n�o escondeu o inc�modo com not�cias dando conta de que ele quer entrar no governo para fugir do juiz S�rgio Moro. "Eu n�o preciso disso, a esta altura da vida", disse o ex-presidente. "Minha defesa eu mesmo fa�o."
Se for para o minist�rio, Lula ganha foro privilegiado de julgamento. Isso significa que, em caso de den�ncia criminal, uma a��o contra ele ter� de ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal, saindo da al�ada de Moro, que conduz a Opera��o Lava Jato na primeira inst�ncia.
Lula � alvo da Lava Jato e, al�m disso, Moro ser� o encarregado de decidir se aceita ou n�o o pedido de pris�o preventiva contra ele, apresentado pelo Minist�rio P�blico de S�o Paulo, que o acusa de ocultar um tr�plex no Guaruj�, reformado pela OAS.
O ex-presidente nega a propriedade desse im�vel e tamb�m de um s�tio em Atibaia, que recebeu benfeitorias de empresas investigadas no esquema na Petrobras.
A dela��o premiada do ex-l�der do governo no Senado Delc�dio Amaral (PT-MS), homologada nesta ter�a-feira pelo Supremo Tribunal Federal, tamb�m ajudou Lula a hesitar no convite para assumir a Secretaria de Governo.
Nos depoimentos � Procuradoria Geral da Rep�blica, Delc�dio citou o ministro da Educa��o, Aloizio Mercadante, e disse que ele teria tentado comprar o seu sil�ncio. Mercadante negou.
Al�m disso, o senador apontou o dedo para Lula e afirmou que o ex-presidente "teve participa��o em todas as decis�es relativas �s diretorias das grandes empresas estatais, especialmente a Petrobras".
Delc�dio disse ainda que Lula sempre foi muito pr�ximo de todos os tesoureiros do PT e que, "com o advento da Opera��o Lava Jato, continuou a adotar o mesmo comportamento evasivo visto durante a crise do mensal�o."
Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma afirmam que, mesmo sem provas, a dela��o de Delc�dio preocupa o governo e pode ter forte impacto sobre o processo de impeachment.
Dobradinha
Na proposta de reformula��o da equipe apresentada na noite de ontem a Lula, Berzoini atuaria em dobradinha com ele e seria deslocado para a secretaria executiva do minist�rio.
O ex-presidente condicionou a entrada na equipe a uma esp�cie de carta branca para mudar os rumos do governo e at� mesmo a pol�tica econ�mica. A deputados e senadores do PT, Lula chegou a afirmar que a salva��o de Dilma depende de uma guinada na economia.
Assustado com o tamanho dos protestos de domingo passado, os maiores da hist�ria do Pa�s, e com a atual debandada dos aliados, principalmente do PMDB, Lula avalia que o governo e o PT precisam anunciar medidas para o "andar de baixo" porque s� isso impedir� a queda da presidente.