
Mas as consequ�ncias da Lava-Jato, que agravam a crise pol�tica no Brasil sem dar tr�gua � economia, que vai mal, s�o sentidas diretamente no Lava a Jato do Paulinho e em muitos outros da cidade. “Estava agora mesmo falando com o meu contador sobre isso. Estou h� tr�s meses no vermelho”, afirma Paulo Lima. “Bem que esse pessoal da Lava-Jato poderia mandar um pouco de dinheiro aqui para a minha conta”, brinca. Ao contr�rio da intensa movimenta��o pol�tica provocada pela Lava-Jato, o movimento no lava a jato do Paulo caiu cerca de 60% este ano. Se antes ele recebia de 10 a 12 carros por dia para serem limpos, atualmente s�o quatro ou cinco. “Cliente que lavava o carro tr�s vezes por semana, agora s� lava uma”, lamenta, acrescentando: “Acho que � falta de dinheiro mesmo”.
“O pessoal zoa de vez em quando, mas o dinheiro dos desvios n�o aparece. Aqui n�o chegou”, se diverte com as piadas Glen Miller de Carvalho J�nior, de 25 anos, que h� tr�s trabalha no Lava a Jato do Dinho, no Bairro Tupi, tamb�m na Regi�o Norte. O estabelecimento funciona h� cerca de sete anos e vive atualmente seu pior momento. At� a crise h�drica foi superada com o uso da �gua de uma cisterna, que at� hoje � a fonte de lavagem dos carros. “Est� fraco. Caiu muito. Essa crise pegou todo mundo”, continua Glen, conhecido como Juninho. Ele conta que o lava a jato chegou a receber cerca de 10 carros por dia durante a semana, mas atualmente atende de tr�s a cinco. “No s�bado, que � o melhor dia, �s vezes chega a 15, mas antes eram 25, 30”, afirma. “Queria saber pra onde est� indo esse dinheiro”, acrescenta, fazendo refer�ncia novamente � opera��o da Pol�cia Federal.
“J� vi o pessoal falando ‘muda o nome a�. Esse neg�cio de lava a jato parece que voc� est� sendo investigado’”, afirma Daniel Caixeta Nogueira, dono do Lava a Jato Floresta Car Wash, na Regi�o Leste de BH. Ele est� h� quatro anos neste ramo de servi�o e, em vez de mudar o nome da empresa, precisou foi mexer no quadro de pessoal. Dos cinco funcion�rios, chegou a ficar com apenas dois no fim do ano passado. Este ano contratou mais um para poder pessoalmente dar mais aten��o aos clientes, e, por enquanto, n�o pensa em voltar a compor a folha. “Um ano excelente foi 2014. Mas tudo que ganhei em 2014, perdi em 2015. Antigamente, aos s�bados, quando eu lavava pouco eram 15 carros. Hoje, quando lavo muito, s�o 10”, compara. “E este ano, janeiro, que tradicionalmente � um m�s bom, tamb�m foi muito ruim por causa da chuva”, explica Daniel, dizendo que seu faturamento caiu cerca de 25%.
INTEMP�RIES Sim, a chuva. Se a Pol�cia Federal n�o para, S�o Pedro tamb�m n�o. E n�o aceita propina. Se o per�odo de seca prolongada foi complicado para os lava a jato devido � amea�a de falta de �gua, o de chuvas prolongadas tamb�m n�o � bom. “O movimento caiu. Por causa da crise na economia, da crise h�drica e da chuva, que afugenta os clientes. Este m�s est� muito fraco”, afirma Reginaldo Rocha, s�cio do Lava a Jato Bandeirantes Car Service, no Bairro Mangabeiras, na Regi�o Centro-Sul. “Estamos esperando voltar o sol para melhorar. Para os outros problemas, n�o tem jeito, n�o dependem da natureza, mas da pol�tica”, comenta, considerando que o movimento no lava a jato caiu de 30% a 40%. O que compensa s�o os outros servi�os oferecidos pelo estabelecimento, como revitaliza��o da pintura e polimento. “S�o servi�os mais caros e que, com a chuva, o pessoal acaba fazendo”, explica.

“Na crise h�drica, muita gente deixou de lavar por causa da consci�ncia em rela��o � �gua. Mas, agora, est� pior”, relata Jo�o Galhardo, dono do Lava a Jato AutoCenter Nova Floresta, na Regi�o Leste. Ao falar sobre a crise no Brasil, diz que n�o aguenta mais ouvir sobre a Opera��o Lava-Jato. No ramo de limpeza de carros h� um ano e meio, ele conta que seu movimento caiu 40%. “At� que 2015 foi bom; 2016 est� pior. Caiu muito”, afirma. H� cerca de um ano, a demanda aos s�bados chegava a 30 carros, hoje � de 18. E nem promo��o resolve. “Em dezembro, fiz uma promo��o, mas n�o adiantou. A gente at� desanima. Est� tudo muito estranho”, comenta.
REAPROVEITAMENTO
Enquanto a Opera��o Lava-Jato vai atr�s de quem lava dinheiro, parte do sucesso do Lava a Jato Sion est� na “lavagem da �gua”. Na contram�o da crise, o lava a jato foi inaugurado em setembro de 2015. O gerente Ricardo Teixeira de Paiva, de 23, que trabalha no ramo desde os 16 com o dono do estabelecimento – que tem outros lava a jato na cidade –, acredita que um dos motivos de a empresa n�o sentir os efeitos da crise no pa�s � o fato de ter investido no tratamento da �gua. Ele explica que toda o l�quido usado na limpeza dos carros � tratado e cerca de 90% s�o reaproveitados. Depois que o carro � lavado, a �gua entra por canos subterr�neos e vai at� uma caixa. De l� � puxada para gal�es de tratamento, onde � literalmente lavada com produtos qu�micos. J� limpa, passa por mangueiras e sai novamente na m�quina de press�o usada para remover a sujeira dos carros. Mesmo com todo esse trabalho, Ricardo n�o est� livre das piadas. “Teve uma pessoa que disse uma vez: ‘Fica esperto que sen�o a pol�cia vai a� porque a� tem lava a jato’”, lembra ele.
A origem da lavagem
A Opera��o Lava-Jato, maior investiga��o de desvio e lavagem de dinheiro da hist�ria do Brasil, completou dois anos este m�s. Ela recebeu este nome porque o esquema suspeito que deflagrou a a��o usava rede de postos de combust�veis e lava a jato de autom�veis para movimentar recursos il�citos pertencentes a uma das organiza��es criminosas inicialmente investigadas, comandadas por doleiros. O posto que deu origem �s investiga��es fica no Distrito Federal e, apesar de as a��es da Pol�cia Federal terem avan�ado para a pol�tica e para grandes empresas, como a Petrobras e as maiores construtoras do pa�s, o nome inicial se consagrou.