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Estado de Minas

Professor v� influ�ncia do Passe Livre em manifesta��es sobre impeachment

Movimento que ganhou visibilidade nacional com os protestos de rua a partir de junho de 2013 � objeto de estudo na Universidade de S�o Paulo (USP)


postado em 08/04/2016 07:34 / atualizado em 08/04/2016 07:52

Movimento Passe Livre protesta em SP contra aumento de tarifas do transporte (foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Movimento Passe Livre protesta em SP contra aumento de tarifas do transporte (foto: Rovena Rosa/Ag�ncia Brasil)
O Movimento Passe Livre (MPL) deu in�cio �s mobiliza��es que, em junho de 2013, levaram milhares de pessoas �s ruas em S�o Paulo e a passeatas em todo o pa�s. Defensor do transporte p�blico gratuito, o movimento organizou protestos contra o reajuste das tarifas de �nibus, trens e metr� na capital paulista. Os reflexos daquele momento podem ser percebidos ainda hoje, diz o fil�sofo e professor de gest�o de pol�ticas p�blicas da Universidade de S�o Paulo (USP), Pablo Ortellado, que coordena pesquisas sobre as manifesta��es de rua. “A partir de 2013, com a dimens�o que ganhou, a mobiliza��o de rua se volta para o repert�rio pol�tico”, afirma.

Apesar das diferen�as ideol�gicas, Ortellado v� influ�ncias do Passe Livre nas organiza��es que promovem atos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. O Vem Pra Rua usa como nome um dos gritos usados pelo MPL nas manifesta��es de 2013, enquanto o Movimento Brasil Livre (MBL) tem “uma sigla que se confunde com o MPL de prop�sito”, acrescenta o professor.

"Apanhamos do PT e do PSDB"


O Passe Livre n�o tem, no entanto, agido para apoiar o impeachment, nem para contest�-lo nas ruas. “O momento faz parecer que h� uma briga entre a esquerda e a direita quando, na verdade, parece para a gente que j� apanhou de governos tanto do PT quanto do PSDB, � uma coisa de gente igual brigando”, diz uma das integrantes do movimento, Laura Viana (22 anos), a partir das discuss�es feitas internamente pelo MPL sobre a atual conjuntura pol�tica. Ao se opor ao aumento do pre�o das passagens, o movimento tenta pressionar tanto a administra��o petista, o prefeito Fernando Haddad, para que administre os contratos das empresas de �nibus, quanto a tucana, do governador Geraldo Alckmin, respons�vel pelas companhias que fazem o transporte sobre trilhos.

“Tendo impeachment ou n�o, o Estado vai bater nos movimentos sociais como sempre”, afirma a estudante de artes pl�sticas. O que realmente chama a aten��o do MPL � o papel central que as for�as policiais est�o tendo no desenrolar dos fatos pol�ticos recentes, muitos conectados com as investiga��es de corrup��o na Petrobras.

“O que gente v� de muito preocupante no momento � esse processo de judicializa��o da pol�tica, a for�a que a pol�cia vem ganhando. Essa coisa de a Pol�cia Federal estar aparecendo como heroica. Isso � muito preocupante para a gente, como movimento social, que vem sendo criminalizado desde sempre. � uma coisa que a gente conversa inclusive com outros movimentos sociais”, acrescenta a militante.

O protagonismo das for�as de seguran�a est� ligado, na avalia��o de Laura, ao processo de descren�a nas institui��es pol�ticas tradicionais. “Parece que com esse processo de perda de f� na classe pol�tica, agora quem est� ganhando espa�o, principalmente na m�dia, � a pol�cia. N�o � uma coisa escancarada do tipo vai ter uma nova ditadura militar. Mas a gente v� que � uma institui��o que ganha muita for�a entre a popula��o”.

Para ela, a quest�o do impeachment n�o est�, entretanto, no centro das preocupa��es do movimento. “Essa popula��o que era maioria, que foi pra rua em junho e que tem ido para a rua com a gente nos atos contra o aumento [das tarifas]. Essa maioria ainda n�o saiu de casa. A gente v� que s�o pessoas que n�o est�o se sentindo representadas por nenhum dos lados da polariza��o. � com essas pessoas que estamos desde sempre”, afirma a ativista. “Sabemos que v�o ser tipos diferentes de governo [caso aconte�a o impedimemto]. Mas a gente sabe tamb�m que a nossa organiza��o tem que permanecer lutando da forma que j� faz, que � manter a luta com quem est� embaixo”.

Impostos

O MPL tem posi��o contr�ria � da Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo (Fiesp), que vem defendendo o corte de impostos. A entidade tem apoiado os atos pela sa�da da presidente, a partir da campanha que pede a redu��o da carga tribut�ria e que tem como s�mbolo um pato amarelo. “A gente sabe que esse tipo de imposto, se for cortado da popula��o mais rica, vai cair sobre a popula��o mais pobre. Ent�o, isso � sempre muito preocupante”, alerta Laura.

Uma das principais propostas do movimento � a tributa��o espec�fica da parcela mais rica da popula��o, como forma de garantir o transporte gratuito universal – o passe livre. “O que a gente sempre cobra do Estado � que os ricos paguem mais, porque eles j� ganham em cima do nosso trabalho, n�o � justo que a gente tenha que pagar ainda mais”, ressalta a militante.

Sobre a influ�ncia que o MPL exerceu sobre outras organiza��es pol�ticas, Laura afirma que isso faz parte da hist�ria dos movimentos sociais no Brasil. ”Assim como n�s aprendemos muito com outros movimentos, muitos movimentos aprenderam com a gente. Tanto a esquerda sentiu que precisava mudar os pr�prios m�todos, como o pessoal pr�-impeachment, mais de direita, sentiu tamb�m”.

“O MPL n�o inventou a roda com manifesta��o de rua. V�rios movimentos sociais j� faziam esse tipo de manifesta��o. Em 2013, foi a coisa certa no momento certo”, completa Laura. A an�lise � semelhante � do professor Pablo Ortellado. Para o especialista, os atos de junho de 2013 foram o �pice de uma movimenta��o que come�ou no in�cio dos anos 2000, de retorno das mobiliza��es de rua, que perderam for�a ap�s a d�cada de 80.

“O Brasil foi muito mobilizado no fim dos anos 70, in�cio dos anos 80. A gente teve muitas mobiliza��es de rua. E esses movimentos que estavam na base dessas mobiliza��es terminaram se institucionalizando por meio do Partido dos Trabalhadores. O processo de institucionaliza��o foi tamb�m uma gradual desmobiliza��o das ruas, em um processo pelo qual se colocou �nfase dos meios institucionais”, diz Ortellado.

Na opini�o do professor, os eventos daquele ano foram, no entanto, completamente excepcionais. “2013 acontece a cada 50 ou 100 anos. S�o aqueles grandes terremotos pol�ticos que rompem o pa�s”, acrescenta, ao comparar com o processo vivido pela Fran�a em maio de 1968, quando o pa�s europeu passou por uma onda de greves, manifesta��es estudantis e revoltas populares.

Legado de 2013

Al�m de conseguir impedir o aumento das tarifas do transporte p�blico em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, os movimentos se expandiram, segundo Pablo Ortellado, para ideais menos imediatos, por�m com forte resson�ncia social. “Junho de 2013 foi uma experi�ncia concreta para uma parcela expressiva da popula��o que foi �s ruas se manifestar, basicamente por duas coisas: direitos sociais e cr�tica ao sistema de representa��o. Esse duplo legado que tem sido explorado por diversos grupos”, acrescenta o professor ao comentar como a expans�o dos protestos contra a tarifa levou ao surgimento de reivindica��es contra a corrup��o e por melhoria dos servi�os p�blicos.

“Essa ideia de que o sistema est� corrompido, de que os lastros que ligam a representa��o com a cidadania brasileira se romperam. Ent�o, o sistema est� crescendo em ilegitimidade. Esse outro legado de junho de 2013 que foi explorado pelos grupos � direita”, destaca Ortellado ao falar sobre como o Passe Livre influenciou as recentes movimenta��es contra o governo.

Por outro lado, o MPL tamb�m est�, de acordo com o professor, diretamente ligado ao movimento dos estudantes da rede p�blica que ocuparam escolas em todo o estado de S�o Paulo no ano passado. A mobiliza��o levou � suspens�o da reorganiza��o escolar, que levaria ao fechamento de mais de 90 estabelecimentos de ensino. “As primeiras mobiliza��es dos secundaristas foram fortemente estimuladas por ativistas do MPL. T�m liga��o direta, s�o trabalho de base do MPL”.


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