Pode-se dizer que Temer sabe esperar sua vez. � o oitavo e �ltimo filho de Miguel e March Lulia, casal que imigrou do L�bano, em 1925, e fixou resid�ncia em Tiet�, munic�pio localizado a 102 km da capital paulista. Foi na pequena cidade, hoje com cerca de 40 mil habitantes, que Temer morou at� a adolesc�ncia. Mudou-se para capital no fim dos anos 50 para concluir o ensino m�dio. Depois, seguiu o exemplo de quatro dos seus irm�os e ingressou na Faculdade de Direito do Largo S�o Francisco.
Durante o curso, Temer participou do movimento estudantil e fez amizade com professores e dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que tinham forte atua��o pol�tica na �poca. Formado em1963, conseguiu um emprego como oficial de gabinete na Secretaria de Educa��o do governo Ademar de Barros, o paulista que deu origem ao "rouba, mas faz" depois associado a outros pol�ticos. O secret�rio era o jurista Ataliba Nogueira.
Ap�s o golpe militar em 1964, Temer concentrou-se nos estudos. Doutorou-se em direito pela PUC de S�o Paulo, onde passou a dar aulas ao lado do tamb�m professor Andr� Franco Montoro, que j� era um pol�tico experiente com dois mandatos de deputado federal pelo Partido Democrata Crist�o (PDC) e havia sido um dos fundadores da universidade cat�lica.
Com a ado��o do bipartidarismo, Montoro ingressou no Movimento Democr�tico
Brasileiro (MDB), �nica agremia��o autorizada pela ditadura a atuar como oposi��o. Temer foi junto e nunca mais deixou a sigla, que ganhou o "P" de partido em 1981.
Quase tucano
A liga��o com Montoro foi decisiva para a carreira de Temer. Em 1982, o colega de PUC elegeu-se governador de S�o Paulo e nomeou o professor de Direito como procurador-geral do Estado, primeiro, e depois secret�rio de Seguran�a P�blica. Foi durante o governo Montoro (1983- 1987) que o peemedebista ficou mais pr�ximo de Jos� Serra, ent�o secret�rio de Planejamento, e dos senadores M�rio Covas e Fernando Henrique Cardoso. Covas havia recuperado os direitos pol�ticos cassados pela ditadura e, ao lado do futuro presidente da Rep�blica, faziam parte da c�pula do PMDB dos anos 1980.
Na sucess�o de Montoro, por�m, nenhum deles teve chance de evitar o lan�amento do vice-governador Orestes Qu�rcia, ex-prefeito de Campinas e ex-senador que tamb�m fazia parte do PMDB e mantinha forte lideran�a no interior do Estado. Era o pren�ncio de uma racha que se consumaria em 1988, com a cria��o do PSDB.
Temer concorreu a deputado federal em 1986, mas conseguiu apenas uma vaga de suplente. Por�m, contou com a sorte. Em mar�o de 1987, assumiu uma vaga de deputado da Assembleia Constituinte que promulgaria, no ano seguinte, a Carta conhecida como "Constitui��o Cidad�".
Pouco antes da promulga��o, em outubro de 1988, Covas, Serra, FHC e Montoro sa�ram do PMDB para fundar o PSDB. Nessa oportunidade, Temer viveu outro momento-chave. Em vez de seguir os colegas, ficou no PMDB, aceitando um conselho do pr�prio ex-governador e colega de PUC: "No PSDB, a fila vai ser grande para voc�". Em1990, Temer concorreu � reelei��o para a C�mara, mas novamente s� teve votos para uma vaga de suplente.
Em 1992, ele voltou ao comando da Secretaria de Seguran�a seis dias ap�s o "massacre do Carandiru", quando ao menos 111 presos foram assassinados por ordem do comando da Pol�cia Militar durante uma rebeli�o dentro da antiga Casa de Deten��o, na zona norte da capital paulista, �s v�speras de uma elei��o municipal. Temer ajudou a conter a crise e voltou para a C�mara um ano depois, ainda como suplente.
Em 1994, concorreu de novo e, finalmente, ganhou uma cadeira de titular.
O articulador
Naquele ano, o PMDB elegeu a maior bancada da C�mara (107 deputados), o que daria ao partido o direito � Presid�ncia da Casa. A antiga liga��o com a c�pula tucana fez de Temer o principal interlocutor da sigla com o rec�m-eleito presidente Fernando Henrique. Contudo, em vez de exigir a cadeira de presidente da C�mara, Temer prop�s um acordo com o PFL (atual DEM), partido que ajudou o PSDB a conquistar a Presid�ncia: o deputado baiano Lu�s Eduardo Magalh�es (PFL) - filho do ent�o senador Ant�nio Carlos Magalh�es, que apelidou o peemedebista de “mordomo de filme de terror” - seria o presidente no bi�nio 1995-1997 e Temer lhe sucederia no cargo pelos dois anos seguintes. O acordo foi aceito e cumprido.
Reeleito em 1998, Temer ganhou mais uma vez o comando da Casa e ficou no posto at� 2001. Naquele ano, aproveitou-se do esc�ndalo pol�tico envolvendo o ent�o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) - acusado de desviar recursos do Banco do Estado do Par� - para ficar com o lugar dele na presid�ncia do PMDB.
Em 2002, Temer articulou o apoio do partido � candidatura de Serra ao Planalto, obtendo a vaga de vice na chapa no lugar do PFL. Apesar da derrota do tucano, o peemedebista se manteve como presidente da sigla e deu in�cio ao seu relacionamento com o PT.
Em 2005, tentou voltar � presid�ncia da C�mara ap�s a ren�ncia de Severino Cavalcanti (PP-PE), envolvido num esquema de cobran�a de propina no restaurante da C�mara. Temer, que na oportunidade integrava a ala oposicionista do PMDB, pediu para o governista Renan Calheiros convencer a Lula a apoi�-lo na empreitada. Quando o alagoano enfrentou a acusa��o de ter a pens�o de uma filha fora do casamento paga pela empreiteira Mendes J�nior e teve de deixar o comando do Senado, o deputado paulista o ajudou a pelo menos conservar o mandato parlamentar. A aliados, Temer diz que Renan prometeu ajud�-lo, mas, ao reunir-se com Lula, defendeu o nome de Aldo Rebelo (PC do B-SP), que acabou assumindo a cadeira.
Disc�rdia
At� hoje o epis�dio � motivo de disc�rdia entre os dois. Em 2007, foi a vez de Temer se vingar. De novo com apoio de Renan, Aldo tentou a reelei��o, mas acabou surpreendido pela reedi��o do acordo que o deputado paulista havia feito uma d�cada antes, desta vez com o PT. Temer acertou que o petista Arlindo Chinaglia (SP) seria presidente entre 2007 e 2009 e o peemedebista nos dois anos seguintes, a exemplo do que ocorreu no governo tucano.
A volta ao comando da C�mara foi decisiva para Temer reafirmar seu poder no partido e ser indicado candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, em 2010. Os dois pouco se conheciam, mas conseguiram formar uma chapa vitoriosa naquela elei��o. Mesmo com desentendimentos ao longo do primeiro mandato e menor apoio de peemedebistas, a dupla Dilma-Temer foi mantida em 2014.
O primeiro ano do segundo mandato da dupla n�o poderia ser mais estremecido. Ao longo de pouco mais de 15 meses, as rusgas ficaram evidentes. O registro das diferen�as foi primeiro escrito em carta na qual o vice se queixa de ter sido “decorativo”, divulgada dias ap�s Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na cadeira tr�s vezes ocupada por Temer, aceitar a acusa��o por crimes de responsabilidade contra Dilma. Depois, gravado em �udio vazado h� uma semana.
J� rompidos, Temer n�o omitiu sua vontade de tomar o lugar da companheira de duas chapas eleitorais: "Se o destino me levar para a fun��o (de presidente), estarei preparado", afirmou em entrevista � reportagem e � Globo News. Com a aprova��o do impeachment na C�mara, resta o Senado referendar a decis�o dos deputados e concretizar o plano de Temer. A mudan�a do Pal�cio do Jaburu, resid�ncia oficial do vice, para o da Alvorada, onde Dilma promete ficar at� a conclus�o do processo de impeachment, leva mais um tempo. Mas o poder j� est� em outras m�os.