Em reuni�o a portas fechadas com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e com o presidente do PT, Rui Falc�o, deputados foram informados na quarta-feira, 27, de que a atual equipe n�o vai respaldar um governo "ileg�timo" e, por isso, n�o haver� transi��o para Temer. At� arquivos com dados estrat�gicos da administra��o estariam sendo apagados.
Com a certeza de que Dilma ser� afastada por at� 180 dias no primeiro julgamento no plen�rio do Senado, que deve ocorrer em 11 de maio, governo e PT j� preparam os pr�ximos passos do div�rcio litigioso. A ideia � refor�ar a estrat�gia de carimbar Temer como "golpista" e "vice 1%", numa refer�ncia � sua falta de densidade eleitoral.
O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva pediu a Dilma, com quem almo�ou na quarta, um "pente-fino" em todos os programas sociais dos 13 anos do PT no governo, desde o seu primeiro mandato. A inten��o � bater na tecla do legado do partido, com vitrines como Bolsa Fam�lia e Minha Casa Minha Vida, em contraposi��o ao programa "ortodoxo" de Temer, que, no diagn�stico dos petistas, prev� mais sacrif�cios aos menos favorecidos.
Apesar de ser alvo da Opera��o Lava Jato e ter perdido capital pol�tico, Lula � o �nico nome forte de que o PT disp�e para a sucess�o presidencial de 2018 e tudo ser� feito pelo partido para construir a narrativa de que Dilma foi "apeada do poder".
Proximidade
"Se o PMDB n�o figurasse na chapa, em 2014, dificilmente a presidente Dilma venceria aquelas elei��es", rebateu o ex-ministro da Avia��o Civil Eliseu Padilha, um dos dirigentes mais pr�ximos de Temer nas fileiras do PMDB.
Padilha ajudou o vice na articula��o pol�tica do governo com o Congresso, de abril a agosto do ano passado, mas saiu do posto por considerar que o PMDB era sabotado no Planalto. Na �poca, Temer tamb�m deixou a fun��o, semanas ap�s dizer que o Brasil precisava de "algu�m com capacidade de reunificar" o Pa�s. Nome certo na equipe de Temer, Padilha foi um dos principais articuladores dos votos pr�-impeachment na C�mara, ajudando a atrair antigos aliados de Dilma.
"N�o se pode falar em golpe quanto tudo est� sendo feito conforme a Constitui��o", insistiu Padilha. "A luta pol�tica � leg�tima, desde que n�o queiram acirrar o clima do 'quanto pior, melhor'."
Embora a equipe de Temer suspeite que petistas estejam deletando arquivos contendo indica��es pol�ticas para diversos cargos, isso n�o � considerado um problema. Motivo: antes de deixar o governo, o pr�prio Padilha entregou a Dilma e a Berzoini planilhas contendo todos os cargos do primeiro, segundo e terceiros escal�es. As listas continham os padrinhos de cada um e como cada deputado e senador de partido aliado havia votado nos principais projetos de interesse do Planalto.
Eduardo Cunha
Na reuni�o com Berzoini, que contou com 45 dos 57 deputados da bancada petista, na sede do partido, houve muitas cr�ticas ao Supremo Tribunal Federal, que ainda n�o se posicionou sobre o pedido da Procuradoria-Geral da Rep�blica para afastar o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). R�u no Supremo, acusado de desviar recursos no esquema na Petrobras, Cunha enfrenta processo de cassa��o do mandato no Conselho de �tica e foi o algoz de Dilma ao conduzir o impeachment na C�mara.
"Como a gente pode fazer transi��o para um governo desses, que tem Cunha como s�cio de Temer?", perguntou um deputado, confirmando a estrat�gia petista de "exportar" o desgaste do presidente da C�mara para o vice. "Transi��o � quando h� um governo eleito, com legitimidade. N�o � este o caso."
Em conversas reservadas, Dilma deu sinais de que est� disposta a enviar ao Congresso uma proposta de antecipa��o das elei��es para encurtar o pr�prio mandato. O vazamento dessa estrat�gia, por�m, aborreceu Dilma. Os movimentos sociais s�o contra, sob o argumento de que isso enfraqueceria nas ruas a "batalha" contra o impeachment. Apesar de apoiar o plano, at� para "emparedar" Temer, o PT decidiu n�o erguer agora a bandeira das "diretas j�".