Apenas cinco dos 37 ministros que tomaram posse ao lado da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2011, permanecem ao lado da presidente durante a mais grave crise de seu mandato. Ao longo de cinco anos e quatro meses � frente do Pal�cio do Planalto, Dilma teve duros embates com integrantes da Esplanada do Minist�rio e colheu mais desafetos do que aliados. Seis senadores que participaram do seu governo j� declararam que votar�o a favor do impeachment, deixando para tr�s a alian�a com a presidente. No Senado, as parlamentares Gleisi Hoffmann (PT) e K�tia Abreu (PMDB), que ingressaram no minist�rio ao longo mandato de Dilma, se tornaram escudeiras fi�is da presidente e fazem parte do grupo que luta contra o impedimento.
Ex-titular da Justi�a, Jos� Eduardo Cardozo foi atacado por parlamentares e lideran�as petistas que cobravam uma atua��o mais forte do ent�o ministro para controlar as a��es da Pol�cia Federal (PF) no �mbito da Opera��o Lava-Jato. O ministro deixou o cargo apenas quatro dias antes de o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) ser conduzido coercitivamente por agentes da PF para prestar depoimento. Cardozo foi nomeado advogado-geral da Uni�o e ficou respons�vel pela defesa da presidente Dilma na C�mara e no Senado. Sua atua��o foi elogiada por juristas e aliados do Planalto, que consideraram que o advogado-geral conseguiu refutar todos os pontos da den�ncia do impedimento.
A senadora paranaense Gleisi Hoffmann participou do governo Dilma como ministra-chefe da Casa Civil – vaga que deixou para disputar o governo estadual em 2014 – e questiona os motivos para o impedimento da petista. “As acusa��es contra a presidente n�o t�m fundamento. Primeiro os deputados e agora os senadores que defendem o impeachment nem sequer conseguem argumentar em cima das acusa��es inclu�das no processo. Ficam sempre tentando fazer uma leitura pol�tica do quadro, fugindo da leitura jur�dica e constitucional, porque sabem que n�o h� crime de responsabilidade. Esse impeachment � golpe de Estado”, afirmou Hoffmann durante as discuss�es na comiss�o especial do Senado.
J� K�tia, uma das principais representantes da bancada do agroneg�cio, se tornou nos �ltimos anos uma das principais conselheiras e articuladoras da presidente Dilma. A ministra da Agricultura � a �nica do PMDB que continua no governo federal e, desde que assumiu o minist�rio, em janeiro de 2015, desenvolveu uma rela��o pr�xima da presidente.
Ela foi uma das escolhidas para apresentar a defesa de Dilma na comiss�o do Senado que discute o impeachment, ao lado de Cardozo e do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. K�tia argumentou que os atrasos de pagamentos aos bancos p�blicos, pr�tica conhecida como “pedalada fiscal”, foi um marco para o setor da agricultura e n�o pode ser entendido como um crime de responsabilidade uma vez que as opera��es de cr�dito n�o podem ser consideradas empr�stimos feitos ao governo. “Acredito na idoneidade e na honestidade da presidente”, afirmou.
ASSESSORES Dois assessores pr�ximos da presidente Dilma tamb�m deixaram o governo ap�s integrar sua equipe de apoio pessoal desde sua atua��o como ministra de Minas e Energia, no governo Lula. O ge�logo Gilles Azevedo, que tem rela��o pr�xima com a presidente desde os tempos em que ela era filiada ao PDT do Rio Grande do Sul, deixou o governo em mar�o. Ele era considerado bra�o direito de Dilma desde a �poca em que ela era ministra e atuou como chefe do gabinete presidencial.
Anderson Braga Dorneles, outro assessor que acompanhava a presidente desde os tempos de Porto Alegre, tamb�m deixou o governo no in�cio deste ano. Dorneles era tratado como filho por Dilma, chamado carinhosamente de “beb�” e “menino”. Ele tinha 13 anos quando a conheceu. Trabalhava como office-boy na Funda��o de Economia e Estat�stica do Rio Grande do Sul, da qual Dilma era presidente na �poca. Quando ela foi nomeada pelo ex-presidente Lula ministra de Minas e Energia, Dorneles a acompanhou para Bras�lia. As duas exonera��es n�o foram explicadas pelo Pal�cio do Planalto.
NOVOS INIMIGOS A lista dos que passaram a criticar o governo Dilma � mais extensa do que a dos que permaneceram fi�is. Entre os 37 ministros iniciais, v�rios mudaram de lado ao longo dos pouco mais de cinco anos. Alguns se tornaram pe�as-chave nos embates com o Pal�cio do Planalto.
Na vota��o da C�mara dos Deputados, em 17 de abril, em que o governo foi derrotado e foi aprovada a admissibilidade da abertura do processo de impeachment, os ex-ministros dos Transportes Alfredo Nascimento (PR) e das Cidades Aguinaldo Ribeiro (PP) declararam votos a favor do afastamento da presidente. Ambos chegaram � Esplanada junto com Dilma, mas avaliaram que ela n�o deveria permanecer no cargo. Nascimento foi demitido por Dilma apenas sete meses ap�s o in�cio de seu governo, depois que surgiram den�ncias de corrup��o na pasta que ele comandava.
J� no Senado, onde a vota��o do impeachment deve ocorrer na pr�xima semana, pelo menos seis ex-ministros declararam apoio ao impedimento de Dilma. Fernando Bezerra Coelho (PSB) iniciou o primeiro mandato da petista como ministro da Integra��o Nacional; Garibaldi Alves (PMDB) foi titular da Previd�ncia at� janeiro do ano passado; Marta Suplicy (PMDB) comandou a Cultura; Marcelo Crivella (PRB), a pasta da Pesca; e Valdir Raupp (PMDB) era ministro da Ci�ncia e Tecnologia.
Com o enfraquecimento da presidente Dilma, outros ministros que integravam a equipe do governo da petista passaram a articular contra sua perman�ncia no Planalto. Um dos casos mais emblem�ticos � de Gilberto Kassab, que recebeu a pasta das Cidades, uma das que t�m o maior or�amento para investimentos em obras de infraestrutura, e foi fortalecido pelo pr�prio governo federal nos �ltimos anos, especialmente quando fundou o seu partido, o PSD. Na C�mara, o PSD orientou votos a favor do impeachment e, nos bastidores, Kassab � contado para retomar o minist�rio que deixou em um eventual governo Temer.