Com a posse no minist�rio suspensa pela Justi�a, Lula nunca pode despachar l�. Nos �ltimos dias, o gabinete - emoldurado com a foto de Dilma sorridente - foi mantido algumas vezes com a porta aberta.
A poucos metros, no mesmo andar, salas da Secretaria de Governo - comandada por Ricardo Berzoini - j� come�aram a ser desocupadas. O ambiente de despedida dos auxiliares de Dilma contrasta com o vaiv�m no anexo do Planalto, onde est� o gabinete do vice Michel Temer.
Antes relegado a segundo plano, o "anexo" que tem na entrada um tapete com a sigla VPR (Vice-Presid�ncia da Rep�blica) em letras garrafais se transformou em ponto de encontro do poder. O governo "em gesta��o" de Temer tamb�m tem uma sede mais espa�osa perto da VPR, no Pal�cio do Jaburu, resid�ncia oficial do vice, onde carr�es pretos lustrosos n�o param de entrar.
Em conversas reservadas, muitos petistas culpam a pr�pria Dilma pelo agravamento da crise, que est� fazendo o PT perder o governo 13 anos e quatro meses depois de Lula subir a rampa do Planalto pela primeira vez, em janeiro de 2003. Na �poca, o mantra do ent�o presidente era: "N�s n�o podemos errar."
A avalia��o dentro do PT � de que Dilma "n�o soube fazer pol�tica" porque nunca ouviu o partido nem o pr�prio Lula e comprou muitas brigas ao mesmo tempo. No diagn�stico dos petistas, a Opera��o Lava Jato - que mirou em Lula, na c�pula do PT e no "n�cleo duro" do Planalto - tamb�m lidera a lista dos "culpados" pelo fim do governo, ao lado dos erros na economia.
Ningu�m do PT, por�m, vai se indispor com Dilma agora, � beira do impeachment. A ordem � se solidarizar com a presidente at� o fim. Poucos acreditam, no entanto, que Dilma consiga voltar ap�s o iminente afastamento do cargo por at� 180 dias, que deve ser aprovado ensta quarta-feira, 10, pelo Senado.
Quem esteve com o ex-presidente, nos �ltimos dias, assegura que ele se arrependeu de n�o ter negociado com Dilma, em 2014, sua candidatura ao Planalto, quando o movimento "Volta, Lula" crescia dentro e fora do partido. A presidente, por�m, nunca deu sinais de que pudesse desistir do segundo mandato, embora sua popularidade j� estivesse muito baixa.
Agora, a c�pula petista aproveitar� o per�odo de isolamento de Dilma para construir uma narrativa que permita a sobreviv�ncia de Lula, at� hoje o �nico potencial candidato do partido �s elei��es de 2018, apesar de estar na mira da Lava Jato.
Bandeira
A percep��o � de que o PT precisa de uma bandeira para o per�odo p�s-impeachment. Para dirigentes do partido, a tese do "golpe" contra Dilma deve ser aliada urgentemente a uma proposta concreta, sob pena de a legenda ficar sem discurso. Nos bastidores, o coment�rio � que Lula n�o foi derrubado em 2005 pelo esc�ndalo do mensal�o e se reelegeu, no ano seguinte, porque o governo tinha vitrines para mostrar e a economia ia bem.
"Temos que recuperar a imagem do PT e construir uma nova utopia na cabe�a dos jovens", costuma dizer o ex-presidente. Na opini�o de Lula, nem o governo nem o partido conseguiram entender o que desencadeou os protestos de junho de 2013. Naquela ocasi�o, Dilma prop�s uma Assembleia Constituinte e um plebiscito sobre reforma pol�tica sem consultar Temer, um dos primeiros a dizer que a ideia n�o tinha respaldo jur�dico e n�o poderia ser levada adiante.
N�o foi a primeira vez que os dois se estranharam. O caminho de Dilma e Temer se cruzou pela primeira vez no fim de 2002, quando Lula, ent�o presidente eleito, desfez na �ltima hora um acordo para dar ao PMDB o Minist�rio de Minas e Energia, entre outros cargos. Quem entrou na vaga prometida ao PMDB foi justamente Dilma, que "atropelou" o grupo de Temer. No PT, h� quem lembre essa hist�ria para dizer que, quase 14 anos depois, o vice d� o troco na petista com requintes de crueldade.