Bras�lia - Desde que deixou o Pal�cio do Planalto, h� dez dias, Dilma Rousseff montou o gabinete virtual da “pronta resposta” para despachar. � ali, em sua p�gina no Facebook e no Twitter, que a presidente afastada rebate os an�ncios e medidas tomadas por ministros da gest�o de Michel Temer, chamada por ela apenas de “governo provis�rio”.
Depois de tomar caf� na “dimens�o humana” do Alvorada, como batizou a parte superior do Pal�cio, a presidente afastada despacha na biblioteca, no t�rreo. “Des�o, subo, des�o”, conta ela, quando explica por que o Alvorada, apesar da bela arquitetura de Oscar Niemeyer, n�o � aconchegante.
No gabinete virtual, Dilma atua como uma esp�cie de “consci�ncia cr�tica” do governo Temer, respondendo at� a perguntas de internautas. Auxiliares dizem que ela est� mais “leve” e implica menos com o barulho das emas. Vive s� com a m�e, Dilma Jane, de 92 anos, e sente saudade da filha Paula e dos dois netos, que moram em Porto Alegre. “Meninos s�o sempre mais ing�nuos, coitadinhos. As meninas s�o vivas, maquiav�licas”, diz.
� noite, gosta de escrever. Faz registros sobre sua rotina e j� avisou aos mais pr�ximos que vai preparar um livro. “Sou uma escrevinhadora”, brinca Dilma, aos 68 anos.
Na ter�a-feira, ap�s receber o jornalista americano Glenn Greenwald para uma entrevista, ela foi surpreendida por um pedido de abra�o de uma integrante da equipe que, ao se aproximar, chorou. “N�o chora n�o, menina! Ainda n�o acabou. N�s vamos lutar. Quando eu sa� da cadeia, achei que tinha parado de lutar, mas olha a�...”, comentou a presidente afastada.
Caminhada
Seguidora da dieta Ravenna, Dilma chegou a emagrecer 17 quilos, mas j� engordou dois. N�o anda mais todo dia de bicicleta e at� emprestou uma delas ao ex-chefe da Advocacia-Geral da Uni�o (AGU) Jos� Eduardo Cardozo. No lugar das pedaladas - n�o fiscais -, faz 45 minutos de caminhada bem cedo, dentro do Alvorada.
“Agora sou eu que vou e volto do Alvorada de bicicleta”, afirmou Cardozo, hoje advogado da petista. O ex-ministro, que tamb�m foi titular da Justi�a, disse ter ficado “espantado” quando viu seu sucessor na AGU, F�bio Medina Os�rio, declarar que vai apurar poss�vel “desvio de finalidade” cometido por ele ao classificar o impeachment como “golpe”. “Cercear a liberdade do advogado na condu��o da defesa � algo que n�o vi nem na ditadura militar.”
Pouco depois de sair do Planalto, ao lado de Lula, Dilma j� queria saber como a imprensa internacional abordava o impeachment. Considerou a repercuss�o favor�vel e ficou emocionada quando, na ter�a-feira, a equipe do filme brasileiro Aquarius - com a atriz S�nia Braga � frente - protestou, no Festival de Cannes, durante a sess�o de gala que exibiu o longa-metragem. Os atores seguraram cartazes com dizeres como “Um golpe est� acontecendo no Brasil”, “54 milh�es de votos foram queimados” e “O Brasil n�o � mais uma democracia”, escritos em ingl�s e franc�s.
“Fiquei com a alma lavada”, resumiu ela, em conversa com pol�ticos que a visitaram, semana passada. Na lista estava o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Dilma criticou as “trapalhadas” de Temer. “E agora v�o dizer que h� um rombo muito maior nas contas”, previu. Ela repetiu o discurso em encontro com blogueiros, na sexta-feira, em Belo Horizonte, depois que o novo governo anunciou um vermelho de R$ 170,5 bilh�es. “Vou lutar no Senado e no Judici�rio para me defender. N�o vou ficar presa dentro do Alvorada”, disse a presidente que um dia quis ser bailarina.