
O senador abriu a porta social do casar�o para o jornal O Estado de S. Paulo na tarde de um s�bado, dia 18. Apresentou o mezanino que abriga a galeria de fotos da fam�lia Lira-Figueiredo - as de Cajazeiras (onde nasceu) e Campina Grande (onde se criou e enriqueceu), na Para�ba.
Acompanha-o, h� 46 anos, a soci�loga Gitana Maria Figueiredo Lira, que chama de Gigi. Tem quatro filhos e cinco netos. Dos quatro, os tr�s que casaram tiveram como padrinho o empres�rio Jos� Alencar Gomes da Silva (1931-2011), compadre de Lira muito antes de habilitar-se a vice-presidente de Luiz In�cio Lula da Silva.
O hoje senador estava na reuni�o que decidiu a entrada de Alencar no veleiro petista. Por conta do amigo, desistiu do voto tucano em seu ex-l�der e amigo Fernando Henrique, nas elei��es de 94 e 98. Cravou Lula em 2002 e 2006. Votou em Dilma em 2010 e em 2014, "para acompanhar a posi��o do PMDB".
O senador levou cinco anos para construir o solar do Lago Sul. N�o � o �nico casar�o de sua recheada carteira de im�veis. O outro, em Campina Grande, tem 1.600 m2 de �rea constru�da - pouco maior que um campo de futebol so�aite. O do Lago Sul "� um pouco maior" em �rea constru�da. Tem ares de casa de fazenda e, para onde se olhe, � um museu de arte, principalmente a paraibana.
Status herdado
Raimundo Lira nasceu rico, em Cajazeiras, no dezembro de 1943. Seu pai, Jos� Augusto Lira, j� vendia Jeeps Willys importados. Tinha frota de caminh�o, empresa de �nibus, dep�sito de cereais e armaz�m de estiva. Foi nesse que botou Raimundo para aprender a trabalhar, desde os 11 anos.
A disciplina foi refor�ada no col�gio salesiano, e nos dois anos em que foi da escola de cadetes do Ex�rcito, em Fortaleza e em Campinas (SP).
No clima acirrado que marca os trabalhos da comiss�o, o senador tem sido paciente e contemporizador, sem preju�zo de baixar o centralismo quando entende que � o caso. "O meu dever � o meu prazer", diz, citando uma frase do manual de bom comportamento de Z� Augusto Lira. Ou duas: "S� sabe dar conselho quem sabe receber conselho".
� mais ou menos o que faz no controle da caldeira: "Quando vejo algu�m impaciente, infeliz, ou nervoso, pe�o pra chamar, converso, e resolvo, ou tento resolver".
Pergunte-se, de supet�o, se o jogo j� n�o est� decidido, contra a presidente Dilma, � medida em que ningu�m tem se movido da posi��o em que est�. "N�o posso afirmar isso", diz o senador. "Toda situa��o pol�tica se movimenta. A gente n�o sabe o que vai acontecer. O momento pol�tico � de muitas surpresas", avaliou.
Tornou-se p�blico, na campanha de 2010, quando se elegeu suplente do senador Vital do R�go, hoje no Tribunal de Contas da Uni�o, que o patrim�nio de Lira chegava a R$ 54.343.693,03, como consta nas tr�s laudas de sua declara��o de bens apresentada � Justi�a Eleitoral (dispon�vel na internet).
"S�o valores de custo, como a legisla��o me permite", diz. Definindo-se pol�tica e ideologicamente como "de centro, mas um pouco pra esquerda", o senador, que � cat�lico, comentou: "Se n�o fosse a esquerda, o capitalismo seria um horror".
Le�o
Sua atitude mais inusitada na comiss�o do impeachment, em maio, tratou, justamente, da fortuna que tem. Irritado com a not�cia de ter feito contribui��o eleitoral sem dinheiro dispon�vel - que j� desmentira, sem �xito -, parou os trabalhos para um pronunciamento de car�ter pessoal.
Revelou, ent�o, para os milh�es de telespectadores que assistem � comiss�o, e para estupefatos senadores, que pagou, no ano passado, como pessoa f�sica, R$ 527 mil reais de Imposto de Renda, por m�s, "25 vezes mais do que eu recebo l�quido do Senado" (R$ 22 mil, que, conta, aplica integralmente na despesa do gabinete, onde s� gasta R$ 15 mil dos R$ 35 mil a que tem direito).
"S�o mais de R$ 6 milh�es por ano", sublinhou, ajeitando-se no sof�. Na comiss�o informou, ainda, que n�o respondia a processos de qualquer natureza. Mas a uma execu��o fiscal por n�o pagamento de IPTU, como ainda consta no site do Tribunal de Justi�a da Para�ba. Explicou que um de seus inquilinos n�o pagara, e que j� mandara regularizar a situa��o.
Minoria
Na poltrona amarela, o senador relembrou como chegou � comiss�o do impeachment. J� favor�vel � abertura do processo, o primeiro passo foi dele: pediu ao l�der do PMDB, senador Eun�cio de Oliveira (CE), que o indicasse para membro da comiss�o.
Argumentou que j� tinha passado pela experi�ncia do impeachment de Collor, em 92. Oliveira n�o s� gostou, como o convidou para ser presidente. Lira pediu tr�s dias para pensar. Ao bater o martelo, disse a Oliveira duas obviedades - que seria suprapartid�rio e imparcial - e uma singularidade: n�o deixaria a maioria esmagar a minoria.
No balan�o que faz das mensagens que chegam nas redes sociais que frequenta, e no WhatsApp, o senador contabiliza 70% de coment�rios favor�veis, 15% de recomenda��es sobre o que acham que deveria fazer, e 15% de cr�ticas, parte delas achando que d� espa�o demais para os pelejadores de Dilma - onde se destacam, por mais belicosos, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e as senadoras Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Vanessa Grazziottin (PC do B-AM, nascida em Videira-SC).
"Gosto muito do Lindbergh, que tamb�m � paraibano", disse. "A senadora Vanessa defende seus pontos de vista com garra", acrescentou. "Com a senadora Gleisi, a rela��o � de perfeita cordialidade."
Lira n�o toma calmantes. O que tem feito, h� 25 anos, tr�s vezes por dia, � tomar o mesm�ssimo suco: ma�� e pera geladas, com �gua natural, batidas no liquidificador. "� um h�bito, e nunca enjoei."
Ramo
Faz algum tempo que o empres�rio Raimundo Lira vendeu todas as concession�rias - onde chegou a ter 1.500 empregados registrados. Hoje s� tem 22, a turma que lhe serve. Alugu�is, principalmente na Para�ba e em Bras�lia, s�o uma parte substancial do que entra na arca. A outra, mais robusta, vem de sua �nica atividade empresarial: � parceiro da Cyrela Brazil Realty, uma das maiores incorporadoras e construtoras de im�veis do Pa�s.
O senador tem um passatempo: montar �lbuns de fotografias para eventos familiares. J� fez 300 deles, contou. Em um dos alguns h� um bilhete de namorado a dona Gigi.
Lira j� cogita que possa sair candidato a governador da Para�ba em 2018, embora prefira a reelei��o ao Senado. A depender, � claro, de como esteja o mundo pol�tico at� l�.