O advogado trabalhista Carlos Ara�jo � c�tico sobre as chances de a ex-mulher, a presidente da Rep�blica afastada, Dilma Rousseff, recuperar seu mandato. O ga�cho acredita que reverter o impeachment no Senado � "improv�vel". J� a pr�pria Dilma, ele garante, � otimista. Est� "mais forte do que nunca" e nutre a expectativa de voltar ao Pal�cio do Planalto. Mas, embora tenha esperan�a de seguir em Bras�lia, a petista j� pensa em como seria o recome�o em Porto Alegre.
Para Ara�jo, por tr�s do processo de impeachment, mais do que tudo, est� uma tentativa de evitar que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva retorne � Presid�ncia em 2018, e uma das formas para isso � tirar o "time dele" do poder. "Atacar o Lula passa por atacar a Dilma", resumiu. E acrescentou que o apoio do ex-presidente a Dilma no processo de impeachment foi 'incritic�vel' e 'excelente'.
Os almo�os aos s�bados e domingos costumam reunir a filha deles, Paula, al�m do marido dela e dos dois filhos, Gabriel, de 5 anos, e Guilherme, nascido no in�cio de 2016. A presen�a da presidente afastada � cada vez mais frequente. Ela visitou a capital ga�cha nos �ltimos tr�s fins de semana. De acordo com Ara�jo, � junto da fam�lia que Dilma se sente "mais abrigada". A vida em Bras�lia, diz ele, � solit�ria.
A seguir, confira os principais trechos da entrevista:
Como est� Dilma frente � possibilidade do afastamento?
Est� bem. A Dilma � uma mulher que cresce no confronto. Ela cresce muito. Fazia tempo que eu n�o a via t�o bem. Ela n�o d� muita entrevista, agora tem dado quase diariamente. Isso � porque ela est� no confronto. � uma exig�ncia que o confronto imp�e.
O que mudou com a proximidade da vota��o do impeachment no Senado?
Ela est� nessa perspectiva, n�o sabe se fica em Bras�lia ou n�o. Ela tem que tomar algumas provid�ncias porque agosto est� a�. E a possibilidade maior � de que ela saia. N�o � imposs�vel que permane�a, mas acho que � improv�vel. De certa forma, ela tem que ir vendo como vai morar por aqui. Coisas do cotidiano. Se n�o permanecer em Bras�lia, pelo menos j� est� mais encaminhado. Repito, ela acha que vai ficar no Alvorada, que vai reverter a situa��o, mas isso n�o exclui que comece a pensar nos dias posteriores. A m�e dela � uma pessoa doente. Se ela tiver que deixar o Alvorada amanh�, onde vai colocar a m�e? Tem que criar uma estrutura para isso. Independente do dia que sair, agora ou depois, o caminho natural dela � Porto Alegre.
Mas que provid�ncias ela tem tomado nesse sentido?
Por enquanto a perspectiva dela � de o impeachment cair. Ent�o n�o tem nada de concreto. Ela s� est� come�ando a pensar nessas quest�es.
Dilma tem vindo mais a Porto Alegre...
A Dilma tem uma filha e os netos. Tem eu, que sou meio pai, meio irm�o, meio ex-marido, uma por��o de coisa misturada. Porto Alegre � o lugar que ela tem para se sentir melhor, mais abrigada. A Dilma, de certa forma, vive muito solit�ria no Alvorada. A m�e dela � doente. Ela sempre teve uma vida intelectual e muito se abasteceu dela. Ela gosta de literatura, de cinema e de m�sica erudita. Este � o mundo que a Dilma vive, fora a quest�o pol�tica, claro. Ela vem pra c� para conviver com a fam�lia, com os netos principalmente. Ela fica com eles no colo, brincando. � muito coruja.
Como o senhor avalia o processo de impeachment em curso?
Minha avalia��o � de que se o Lula morresse hoje terminava tudo, n�o teria impeachment nem nada. Tudo isso que est� havendo � por causa de 2018, � todo mundo pensando em como derrotar o Lula. E uma das quest�es � o time dele n�o estar no poder. Atacar o Lula passa por atacar a Dilma. A ideia � que, se v�o disputar com ele em 2018, melhor que seja sem ele ter poder, sem a Dilma estar no poder. Prefer�vel que esteja um Temer da vida no poder.
N�o concorda, ent�o, com a teoria levantada por muitos aliados da presidente afastada de que o processo de impeachment teria como objetivo final enfraquecer a Lava Jato?
O PMDB e o PSDB n�o querem que a Lava Jato continue, por raz�es �bvias, porque chegou a vez deles, porque as dela��es est�o cada vez se aproximando mais. Eu concordo que (o impeachment) tem rela��o com a Lava Jato, mas acho que a quest�o de fundo mesmo � o Lula.
A Dilma est� mais otimista do que o senhor sobre a possibilidade de recuperar o mandato.
Sim. A Dilma acha que � poss�vel que o impeachment n�o passe no Senado.
E no que ela baseia esta percep��o?
Eu n�o entro em detalhes como ela de voto aqui, voto ali, mas ela acha que o processo, no final, pode ter outro resultado. O que pode benefici�-la, acredito, s�o os esc�ndalos e desgastes do governo Temer, que s�o frequentes e profundos. Isso poder� trazer a altera��o de alguns votos. Mas eu acho dif�cil mesmo assim porque, embora o Senado n�o seja t�o conservador quanto a C�mara, ele � conservador. Eu acho muito dif�cil.
A governabilidade j� era um problema antes do impeachment e, agora, o ambiente tampouco � prop�cio. Se ela recuperar o mandato, como faria para governar num cen�rio adverso?
Acho que uma das quest�es da fase atual do capitalismo � ter que governar com minoria no Parlamento. � assim com o Obama, est� sendo assim com a (chanceler Angela) Merkel na Alemanha e com o (presidente Fran�ois) Hollande na Fran�a. Acho que � uma caracter�stica dos tempos atuais que o Executivo raramente tem a maioria no Parlamento. E a� se criam problemas s�rios como � este daqui, de um Parlamento adverso derrubar um presidente. Este � um novo quadro desse est�gio do capitalismo. N�s temos que aprender a ver como se articula isso, como voc� faz para passar projetos no Parlamento nessa situa��o de n�o ter maioria. O caminho � aprender a governar com uma situa��o adversa no Legislativo.
O senhor se considera um conselheiro pol�tico da presidente?
N�o, isso � uma inven��o. Na realidade n�s conversamos muito pouco sobre pol�tica. Quando ela est� aqui quer ficar com a fam�lia, com os netos. Ningu�m � conselheiro a longa dist�ncia. Conselheiro s� pode ser quem est� ali no dia a dia, vivendo aquela situa��o. Eu n�o dou conselho nenhum para a Dilma. Sou uma amigo dela, e n�o me meto em nada no governo dela. Seria um absurdo da minha parte.
Mas o senhor a tem ajudado do ponto de vista jur�dico, certo? Chegou a mover uma a��o no Rio Grande do Sul para tentar fazer valer novamente os benef�cios que foram autorizados pelo Senado ap�s a aceita��o do processo de impeachment, entre eles o direito de Dilma de usar os avi�es da FAB para se locomover pelo Brasil. Esta tentativa teve resultado?
Entramos com uma a��o em Porto Alegre, sim, e conseguimos uma liminar favorecendo em parte o que quer�amos. Ou seja, dizendo que ela pode usar o avi�o da FAB para ir a todo o Brasil desde que pague, desde que fa�a o ressarcimento das despesas, e que ela pode manter a sua equipe de trabalho com os mesmos direitos anteriores. Isso foi decidido em liminar. A Uni�o disse que vai recorrer, e provavelmente vamos recorrer tamb�m. S� que da� houve a seguinte quest�o: sempre que o avi�o da FAB � usado e ressarcido, sai cerca de um ter�o do valor de linha normal. Agora est�o pedindo um ressarcimento superior ao que Dilma teria que pagar se fosse fretar um Legacy. Est�o pedindo mais justamente para esvaziar a decis�o liminar. S�o picuinhas que o governo faz. Causam um constrangimento, um embara�o, mas n�o t�m sentido nenhum.
Como avalia o apoio que Dilma recebeu do PT e do Lula ao longo do processo de impeachment?
Tem algumas contradi��es, sempre naturais, algumas diverg�ncias. Mas grosso modo o apoio foi correto. E do Lula foi excelente, incritic�vel. Os dois s�o muito pr�ximos. Ele foi a Bras�lia quantas vezes tentar convencer as pessoas? S� que n�o dava para convencer. O Lula foi excelente na quest�o do impeachment. A Dilma n�o tem nenhuma queixa. Nada.
E como o senhor v� a situa��o do PT, hoje, de uma forma geral?
A situa��o do PT � complicada. O partido ficou tremendamente desgastado (com os recentes esc�ndalos de corrup��o). Mas acho que tem recupera��o. Sou do PDT, mas reconhe�o o papel que o PT teve. Reconhe�o tamb�m as absurdidades que ele cometeu. Porque isso foi caixa 2, todo mundo sempre teve. � uma realidade brasileira. O desgaste � grande, mas o PT ainda � forte. E acho que n�o existem partidos ideol�gicos, existem l�deres que transmitem sua ideologia. Enquanto o Lula for um l�der de express�o, o PT vai existir, porque ele faz com que se mantenha em p�.
Acredita que Dilma est� sendo condenada pela opini�o popular por erros que cometeu no segundo mandato?
Acho que sim, pela crise (econ�mica) que atingiu. Agora (a economia) est� saindo do fundo do po�o, e isso veio da prepara��o que foi feita anteriormente. Quem vai levar os louros pode ser o Temer, ironicamente. Acho que hoje cresceu a solidariedade � Dilma. Mas isso n�o � significativo no momento. As coisas se decidem no Parlamento.