Bras�lia, 18 - O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acusou o secret�rio do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, homem forte do governo Michel Temer, de estar por tr�s de irregularidades na opera��o para financiar obras do Porto Maravilha, no Rio.
Ao classificar Moreira como "o c�rebro" da gest�o Temer, Cunha disse que o novo plano de concess�es "nasce sob suspei��o" e deu sinais de que pode atingir o presidente. "Na hora em que as investiga��es avan�arem, vai ficar muito dif�cil a perman�ncia do Moreira no governo", afirmou, na primeira entrevista exclusiva ap�s perder o mandato.
Ex-presidente da C�mara, Cunha � suspeito de ter cobrado da empreiteira Carioca Engenharia R$ 52 milh�es de propina em troca da libera��o de verbas do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) para o Porto Maravilha, projeto de revitaliza��o da regi�o portu�ria. Ele chama a den�ncia de "surreal" e aponta o dedo para Moreira.
Cunha tamb�m criticou Temer, por "aderir ao programa de quem perdeu a elei��o". E prometeu revelar bastidores do processo de impeachment de Dilma Rousseff em livro que lan�ar� no fim do ano. "Vai ser um presente de Natal."
O governo avalia que a den�ncia da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, na �ltima semana, enfraquece as manifesta��es "Fora, Temer". O sr. concorda?
Tudo depende do que est� motivando a sociedade para o "Fora, Temer". Mas temos um problema: o Michel foi eleito com a Dilma com um programa que ela n�o cumpriu. E ele tamb�m n�o est� cumprindo. Por outro lado, ele aderiu ao programa do PSDB e do DEM, que perderam a elei��o. Que o Brasil precisa de reforma previdenci�ria, trabalhista, n�o tenho d�vida. Mas � dif�cil fazer uma coisa muito radical, no meio de um mandato, com algu�m sem a legitimidade de estar discutindo isso debaixo de um processo eleitoral.
O sr. acha que o presidente Temer n�o tem legitimidade?
Ele tem legitimidade. Eu disse que talvez n�o tenha para um programa radical, contr�rio �quilo que foi colocado no processo eleitoral. A popula��o aplaudiu porque tirou a Dilma, mas n�o est� satisfeita.
O sr. est� dizendo que n�o queriam Dilma, mas tamb�m n�o querem Temer...
N�o querem porque n�o se sentem representados. Me preocupa um jovem virar para mim na rua, me cumprimentar e dizer: "Parab�ns, a gente queria tirar essa mulher, queria tirar o PT, mas n�o tem por que entubar esse vice".
E o que ele deve fazer?
Acho que tem de ser uma coisa mais light, tentando recuperar aquilo que a Dilma descumpriu, sem movimentos radicais. Uma vez o pr�prio Michel disse o seguinte: "A presidente n�o vai conseguir se aguentar com esses �ndices de popularidade". S� que ele est� (em situa��o) semelhante. Dilma precisava recuperar popularidade. Ele precisa ganhar, porque n�o tem. O Michel tem de tomar cuidado porque, no fundo, o PSDB quer jogar a impopularidade no colo dele para depois nadar de bra�ada. Mas quem manda no governo � o Moreira Franco.
Por que o sr. chamou Moreira Franco de emin�ncia parda?
Ele � muito mais do que emin�ncia parda. Moreira Franco, que se diz soci�logo, � o c�rebro do governo. Foi ele que articulou a candidatura do genro, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para ser presidente da C�mara, atropelando a base aliada.
Dilma dizia que o sr. era quem mandava no governo interino.
Fica claro hoje que n�o era. O Moreira Franco era vice-presidente (de Fundos e Loterias) da Caixa, antes do F�bio Cleto, que fez a dela��o falando de mim. Quem criou o FI-FGTS na Caixa foi o Moreira Franco. Toda a opera��o no Porto Maravilha foi montada por ele. No programa de privatiza��o, dos R$ 30 bilh�es anunciados, R$ 12 bilh�es v�m de onde? Do Fundo de Investimento da Caixa. Ele sabe de onde tirar dinheiro. Esse programa de privatiza��o come�a com risco de esc�ndalo. Nasce sob suspei��o.
Delatores dizem que o sr. recebeu propina na obra do Porto Maravilha. E F�bio Cleto era ligado ao sr., seu bra�o-direito na Caixa.
F�bio Cleto era ligado � bancada do PMDB e eu desminto qualquer recebimento de vantagem indevida. Acho engra�ado quando voc� pega e fala de dela��o, citando Porto Maravilha, quando quem conduziu toda a negocia��o e abertura de financiamento, em conjunto com o prefeito do Rio (Eduardo Paes), foi o Moreira. E agora aparece uma den�ncia e � contra mim? Isso � surreal. Quem comandava e ainda comanda o FI (Fundo de Investimento) chama-se Moreira Franco. E l� tem muitos financiamentos concedidos que foram perdas da Caixa. Na hora em que as investiga��es avan�arem, vai ficar muito dif�cil a perman�ncia do Moreira no governo.
De que perdas o sr. fala?
Uma de que me lembro foi da Rede Energia. Outra foi da Nova Cibe. O uso de energia, na �poca, teve esc�ndalo grande.
O sr. tem provas em rela��o a Moreira Franco?
Estou levantando suspei��o, em minha defesa, por uma raz�o muito simples. H� um inqu�rito instaurado com uma dela��o do F�bio Cleto em cima de uma opera��o que foi feita quando Moreira era vice-presidente da Caixa.
Na �ltima semana, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator da Lava Jato, autorizou a remessa para a Justi�a Federal do Paran� da a��o em que o sr. � acusado de corrup��o por manter contas na Su��a para recebimento de propina da Petrobr�s. O sr. tem medo de ser preso?
Medo? Nenhum. N�o h� provas contra mim. S� se for uma motiva��o de natureza pol�tica. N�o se pediu pris�o na den�ncia apresentada contra o Lula. Por que fariam em rela��o a mim?
O Minist�rio P�blico diz que Lula � o "comandante m�ximo" da corrup��o na Petrobr�s, mas o sr. tamb�m foi acusado de ser chefe do esquema de propina...
Eu n�o sei se ele � ou n�o o comandante m�ximo, mas o que sempre me deixou estarrecido foi quererem me carimbar como se eu fosse o chefe do esquema. Isso � rid�culo. Naquele per�odo de 2006, at� 2007, eu estava no grupo do vagabundo daquele (Anthony) Garotinho, numa linha contra o Lula.
O sr. est� escrevendo um livro sobre os bastidores do impeachment. Vai revelar conversas comprometedoras?
N�o sei se s�o comprometedoras. Vou contar as reuni�es, os di�logos, tudo, doa a quem doer. A conclus�o ser� de quem l�. Quero lan�ar no fim do ano. Vai ser um presente de Natal.
O sr. sempre foi amigo de Temer, mas agora tem feito amea�as. Auxiliares dele dizem que s�o bravatas...
Estou amea�ando quem? O distanciamento que existe � porque eu quero. Houve muita hipocrisia. N�o h� raz�o para eu manter conviv�ncia com um governo que me cassou.
Na sua avalia��o, o presidente termina o mandato?
Espero que termine. Desejo sucesso a ele, mas vejo muita dificuldade. H� ainda o risco do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral, que pode cassar a chapa. Se levar a julgamento, vai cassar. As provas s�o irrefut�veis. Pergunto: por que o PSDB n�o desistiu da a��o? Para deixar uma faca no pesco�o.
Ent�o o sr. avalia que o PSDB teria de deixar o governo?
N�o acho que tenha de colocar o PSDB e o DEM para fora, mas esses dois partidos n�o podem querer tomar conta do governo na m�o grande. � isso que solidifica o discurso do golpe. O Pa�s ainda n�o entrou numa estabilidade pol�tica.
E vai entrar?
Acho que vamos nessa situa��o de empurrar com a barriga at� a elei��o de 2018.
O que o sr. n�o faria novamente, se pudesse voltar atr�s?
Talvez eu devesse ter sido mais Renan (Calheiros, presidente do Senado) e menos Eduardo Cunha. Renan � jogador, � falso, � dissimulado. Eu me�o menos o que vou fazer. Outro erro do qual me arrependo foi ter anunciado o rompimento com o governo Dilma. Eu deveria ter rompido na pr�tica, mas n�o no verbo.
O sr. vai sair do PMDB?
Por que vou sair do PMDB? Minha guerra n�o est� perdida. Ainda est� s� come�ando.
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Cunha diz que com investiga��o, ser� dif�cil Moreira ficar
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