A constata��o � Grupo de Estudo Multidisciplinares da A��o Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que divulgou esta semana levantamento sobre o perfil de g�nero e de ra�a dos mais de 400 mil candidatos pelo pa�s em cerca de 30 partidos.
Ao analisar os dados autodeclarados pelos pr�prios candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os pesquisadores notaram que os homens brancos e pardos chegam a 66% das candidaturas a vereador, enquanto as mulheres s�o 33%, margeando o teto obrigat�rio, que � de 30%. As candidatas brancas est�o em vantagem e somam 17%, enquanto as pretas e pardas s�o 15% – mesmo essas �ltimas sendo 27% da popula��o, ou seja, um a cada tr�s brasileiros � uma mulher n�o branca, segundo o Censo 2010 do Instituo Brasileiro de Geografia e Estat�stica.
Na disputa �s prefeituras, os homens brancos s�o l�deres. Chegam a 58% dos concorrentes, enquanto as mulheres s�o 12% das candidatas, sendo 8% brancas – duas vezes mais que as n�o brancas. Os homens pretos, pardos e ind�genas tamb�m est�o em n�mero maior que sua preval�ncia na popula��o, 29% dos candidatos, mesmo sendo 26% dos brasileiros.
Um dos autores do estudo, o professor do Gemaa, vinculado ao Instituto de Estudos Sociais e Pol�ticos da Uerj, Luiz Augusto Campos, levanta uma s�rie de hip�teses para explicar a baixa representa��o de mulheres e de n�o brancos entre os candidatos. Ele cita a limita��o na cota partid�ria, “que est� funcionando como cota para mulheres brancas”, al�m da falta de apoio dos pr�prios partidos a candidatos que n�o sejam reflexo dos seus caciques.
Partidos
A pesquisa do Gemaa tamb�m mostra a aus�ncia de candidatos pretos, pardos ou ind�genas nos grandes partidos, aqueles com mais recursos e chances de eleger representantes, independentemente do perfil ideol�gico, de direita ou esquerda. Por outro lado, os partidos com maior concentra��o de candidaturas brancas s�o grandes ou m�dios, ligados a ideias de centro ou de direita.
Os tr�s partidos com mais candidatos brancos �s c�maras de vereadores este ano s�o o NOVO (90%), o PMDB (60%) e o PSDB (58%). Na outra ponta, aqueles com o maior n�mero de autodeclarados pretos s�o o PSTU (37%), o PCB (19%) e o PSOL (17%).
“A nossa hip�tese � que o n� disso tudo [da sub-representar�o de mulheres e de pessoas n�o brancas entre as candidaturas registradas] est� no partido pol�tico. Ele � a porta de entrada na pol�tica, ele que define quem vai se candidatar ou n�o. Quando � mais tradicional, de elites mais tradicionais, ele tende a reproduzir esses grupos j� constitu�dos. Quando o partido � novo, tende a estar mais aberto � entrada de outros grupos”, avaliou. “H� a� um componente que expressa vi�s racial, na in�rcia das elites desses partidos, para se manterem no poder”, criticou.
Procurado pela Ag�ncia Brasil, o diret�rio nacional do partido NOVO disse que � formado por pessoas de todas as classes sociais e que tem dois dos tr�s candidatos mais pobres e o maior n�mero de mulheres disputando uma vaga na C�mara de Vereadores de S�o Paulo. “O NOVO � o �nico partido aberto a qualquer pessoa, onde qualquer cidad�o pode passar por um processo seletivo e ser candidato. Sem ser massa de manobra pelos ditos defensores das minorias”, afirmou.
O PMDB e o PSDB n�o se manifestaram at� a publica��o desta reportagem.
Solu��o
Para garantir a elei��o de mais mulheres e de candidatos n�o brancos, maioria na popula��o, o professor defende cotas m�nimas, al�m da distribui��o, de maneira igual e at� maior, de recursos para os candidatos com esse perfil. “O ideal seria uma cota final em que o Parlamento tivesse um percentual m�nimo e que as cadeiras fossem distribu�das para esses grupos. Mas isso demandaria mudan�as que os pol�ticos, sobretudo as elites dos partidos, n�o est�o dispostas a fazer”.
O professor defende tamb�m uma cota partid�ria com recorte de g�nero e ra�a. “O problema � na porta de entrada. As chances de uma pessoa com esse perfil permanecer na politica se multiplicam depois de eleita uma vez. O vi�s [racista] n�o � do eleitor”, disse.