Eleita com um apoio hist�rico de 17.420 eleitores, que deram a uma mulher negra e feminista, de um partido de esquerda que nunca havia chegado ao Legislativo na cidade, a maior vota��o na C�mara de BH, a cientista pol�tica �urea Carolina (Psol) promete chegar causando. A representante dos movimentos sociais e de rua afirmou ao Estado de Minas que um dos primeiros projetos que pretende apresentar ser� para reduzir o sal�rio dos vereadores, que hoje � de R$ 15.066,59.
“� um abuso um sal�rio t�o alto quando a maioria da popula��o se vira com sal�rios muito baixo. � necess�rio que o exerc�cio da pol�tica como profiss�o seja um trabalho de cidadania e n�o coisa para fazer carreira e ficar t�o distante da popula��o”, afirmou a vereadora eleita. �urea Carolina disse que vai estudar tecnicamente um valor a ser proposto, mas acha que d� para reduzir “bastante”.
Para si, a vereadora eleita firmou em cart�rio a promessa de doar parte do subs�dio para servir a movimentos sociais. O coletivo que fundou e ajudou a eleger, al�m dela, Cida Falabela, das “Muitas pela cidade que queremos”, oficializou a proposta de doar de 40% a 70% do sal�rio, de acordo com a necessidade de cada um. “Vou doar pelo menos a metade”, diz.
A jovem �urea Carolina, de 32 anos, mora com o companheiro, o advogado Saulo Ver�ssimo, e as gatas Marg� e Baob� no Bairro Jo�o Pinheiro, Regi�o Noroeste de BH. N�o tem filhos e n�o pensou sobre isso ainda.
“Sou essa lutadora, entreguei minha vida em nome dessa constru��o com os movimentos sociais. Sou feminista e cientista pol�tica de forma��o”, diz.
Muitas pela cidade
Ainda emocionada com a vota��o surpreendente que teve, ela conta com o apoio popular para tentar colocar suas ideias em pr�tica na C�mara. Sabe que, como em suas lutas at� agora, ser� minoria junto com apenas mais uma vereadora do Psol.
“Acredito muito no di�logo, na conviv�ncia e acho que vai ser poss�vel criar algum campo de proposi��o l� dentro. Os movimentos v�o me amparar, assim como os vereadores que tem respaldo na luta da cidade. Tem os vereadores reeleitos Gilson Reis (PCdoB), Pedro Patrus e Arnaldo Godoy, do PT, que acho que v�o ser parceiros. � uma expectativa, porque temos pautas em comum”, disse.
Companheiro de �urea, o advogado Saulo Ver�ssimo acredita que a vota��o expressiva dela tenha sido em raz�o de uma sociedade que clama por representatividade. “Ela conseguiu canalizar essa luta. A �urea j� � uma pol�tica desde sempre, est� nas ruas na batalha, o que aconteceu foi uma vaga na c�mara. Essa vota��o expressiva � resson�ncia de uma car�ncia de representatividade dentro da c�mpara, acho que ela � justamente essa representatividade”, afirmou.
Com os motes “mulheres no poder” e “nenhum direito a menos”, �urea Carolina, conquistou uma das 41 cadeiras da C�mara Municipal de Belo Horizonte com as promessas de lutar pela aprova��o de um plano municipal da juventude, pela ocupa��o dos espa�os p�blicos, por igualdade racial e pelo “empoderamento das mulheres”.
"� mulher preta"
Assim que foi confirmada sua elei��o, �urea foi comemorar com o povo na entrada do Psol. Aclamada com gritos de mulher preta, ela retribuiu com um discurso de participa��o popular.
“Geral, n�s vamos construir um mandato popular para as mulheres, para a popula��o negra, as juventudes, a popula��o LGBT, as ambulantes, popula��o de rua, quem rala todo dia nessa cidade, por nenhum direito a menos, por nenhum despejo a mais. � por dignidade por diversidade, uma pol�tica de amor, radicalmente democr�tica. Tamos juntas! Fora Temer”, disse.
Dentro do grupo cidade que queremos, �urea e todos os outros 11 candidatos se comprometeram com as plataformas pol�ticas uns dos outros. Eles tamb�m registraram que far�o assembleias populares para tomar as decis�es do mandato.
Muito conhecida nos meios do hip hop, luta pelos direitos do negro e de LGBT, ela teve apoio maci�o da classe art�stica e dos movimentos sociais. Artistas como o m�sico Maur�cio Tizumba declararam apoio publicamente a ela.
�urea Carolina fez especializa��o em g�nero pela Universidade Aut�noma de Barcelona.
Pediu exonera��o
Foi subsecret�ria das Pol�ticas para as Mulheres de Minas Gerais, de onde pediu exonera��o, abrindo m�o de um cargo com sal�rio de R$ 9 mil por n�o concordar com os rumos do governo Fernando Pimentel (PT). “Vi que n�o tinha condi��es de desenvolver um trabalho l� dentro e preferi voltar para o trabalho aut�nomo de fortalecer o campo das lutas sociais.”
De l�, ela voltou � coordena��o da Secretaria Executiva do F�rum da Juventude da Grande BH, uma entidade da sociedade civil, e ficou at� mar�o deste ano, quando saiu para se dedicar integralmente � campanha. N�o s� a dela, mas a do coletivo que ajudou a criar, o “Muitas pela cidade que queremos”.
O movimento, que tem suas ra�zes no movimento de ocupa��o dos espa�os p�blicos impulsionado pelo carnaval de rua e a Praia da Esta��o, lan�ou 12 candidatos, conseguindo eleger, al�m dela, a atriz Cida Falabela.
Ultimamente, a vida de �urea Carolina � praticamente toda voltada para a campanha, mas ela tamb�m d� oficianas para jovens e faz palestras. “Trabalho muito trazendo esse debate em diferentes formatos. Trabalho em casa tamb�m e nas redes sociais”, diz.
Vota��o hist�rica
Uma vota��o hist�rica deu a �urea Carolina de Freitas e Silva, mulher, negra, feminista e de um partido de esquerda, a maior vota��o da C�mara Municipal de BH. �urea Carolina chega � c�mara prometendo um mandato diferente, voltado para as minorias.
Com R$ 15.225,72 em despesas contratadas, cerca de um ter�o dos R$ 50 mil gastos pelo segundo em propor��o de vota��o, Professor Wendel Mesquita (PSB), �urea Carolina teve mais de 4 mil votos a mais que ele. Sua campanha ganhou for�a nas redes sociais