"Antonio Palocci tinha uma tarefa bem determinada: fazer a ponte entre o governo e os empres�rios, alimentar as estruturas de poder (as campanhas). Era a prioridade de Antonio Palocci", afirmou Delc�dio, em depoimento prestado no �ltimo dia 11.
O ex-ministro tinha "interlocutores qualificados e 'certeiros', sabendo ao certo quem eram as pessoas com quem deveria discutir cada assunto, sem ampliar demasiadamente as conversas" dentro do governo, afirmou Delc�dio.
O termo complementar integra a den�ncia apresentada na sexta-feira, 28, pelo Minist�rio P�blico Federal contra Palocci. O ex-ministro da Fazenda (governo Luiz In�cio Lula da Silva) e Casa Civil (Dilma) foi preso pela Lava Jato no dia 26, alvo da 35ª fase batizada de Opera��o Omert�. Ele � acusado por corrup��o passiva e lavagem de dinheiro.
Homem forte do PT no governo e nas campanhas de Lula e Dilma, Palocci � acusado na a��o de ser o principal contato da Odebrecht - que negocia dela��o premiada com a Lava Jato - com neg�cios da Uni�o. Al�m de defender interesses da empreiteira em contratos na Petrobras, ele teria defendido ilegalmente a aprova��o de medidas no Congresso quando foi deputado federal.
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No novo depoimento prestado para instruir a acusa��o formal da Procuradoria contra o ex-ministro, Delc�dio disse que "Palocci tinha um apartamento em Bras�lia, um duplex na Asa Norte, onde ele frequentemente recebia pessoas para contato". "Palocci era muito discreto e fechado."
Delc�dio foi preso pela Lava Jato em novembro de 2015, quando era senador e l�der do governo, tentando comprar o sil�ncio do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerver�. Cassado, ele virou delator e confessou os esquemas de corrup��o no governo e apontou, entre outros, o envolvimento de Palocci.
Eleito senador pelo PT - atualmente sem partido -, Delc�dio afirmou que conheceu Palocci em 2001, quando ele assumiu a coordena��o da campanha presidencial de Lula. Que naquela ocasi�o, o petista teria ganho "proje��o" n�o s� no partido, mas tamb�m com outras legendas aliadas e com o empresariado.
O delator disse que foi na campanha que o petista passou a ter maior contato com o empresariado nacional. "Com a elei��o de Lula, no ano de 2002, quando Palocci assumiu o Minist�rio da Fazenda, consolidou sua posi��o forte, n�o apenas do Partido, mas tamb�m com os empres�rios. A partir da�, Antonio Palocci passou a ser o principal interlocutor do presidente Lula."
Depois de se envolver no esc�ndalo da quebra do sigilo banc�rio do caseiro Francenildo Costa, que denunciou ter visto o ent�o ministro em reuni�es em uma casa em Bras�lia usada por empres�rios para fazer lobby no governo, Palocci foi demitido em 2006 - em meio ao esc�ndalo do mensal�o e a CPI dos Bingos.
Mesmo assim, Delc�dio diz que Palocci "continuou a ser uma pessoa muito influente no governo". O delator afirmou que em 2010, com a elei��o de Dilma Rousseff, teria sido Lula que indicou o ex-ministro da Fazenda para ocupar a Casa Civil.
Demitido ap�s a descoberta de um novo esc�ndalo - da compra de uma apartamento de R$ 6 milh�es, em S�o Paulo, com dinheiro de consultorias milion�rias para empresas, Palocci teria mantido sua influ�ncia no governo Dilma e os contatos com Lula.
"Mesmo ap�s sair do cargo de ministro da Casa Civil, Antonio Palocci continuava a discutir projetos de governo", declarou Delc�dio - que era na ocasi�o, l�der de Dilma no Senado. "Em reuni�es no Instituto Lula, Antonio Palocci era atualizado e consultado frequentemente pelo ex-presidente Lula sobre os projetos de governo."
'Acusa��o monstruosa'
O advogado Jos� Roberto Batochio, que defende Antonio Palocci, reagiu com indigna��o � den�ncia do Minist�rio P�blico Federal. "� uma acusa��o monstruosa, absolutamente divorciada de qualquer elemento indici�rio arrecadado nos autos."
Segundo Batochio, "o �nico elemento considerado pela den�ncia � um papelucho tratado como 'planilha' sob a rubrica de 'Italiano'. "Os acusadores j� apontaram esse 'Italiano' como sendo Fernando Migli�ccio, depois Guido Mantega, depois um engenheiro italiano e, agora, na quarta tentativa, querem atribuir este apelido a Palocci."
Para o advogado, h� "puro artificialismo". "O que temos � um apelido em busca de um personagem. Demonstrado que 'Italiano' n�o � Palocci, quem ser� a quinta v�tima?"
Batochio disse que nem tomou conhecimento da den�ncia, mas que esperava que, diante da "anemia do inqu�rito (da Pol�cia Federal), o Minist�rio P�blico Federal o arquivasse". "Ali�s, a Pol�cia Federal n�o encontrou sequer suspeita de lavagem de dinheiro, conforme o seu relat�rio, mas o Minist�rio P�blico Federal, mais realista que o rei, resolveu criar mais esta acusa��o", afirmou.