
A sensa��o de inseguran�a permanece em Vit�ria e cidades da regi�o metropolitana, embora a presen�a de homens do Ex�rcito e da For�a Nacional tenha devolvido um pouco da confian�a dos moradores e turistas. A a onda de viol�ncia provocada pela paralisa��o da Pol�cia Militar (PM) deixa em alerta as ag�ncias de turismo em Minas, que monitoram a situa��o nas praias do Esp�rito Santo, um dos principais destinos dos mineiros. Uma empresa desistiu de organizar excurs�o para Guarapari no carnaval por causa da barb�rie.
O movimento nas ruas da capital capixaba aumentou em rela��o � segunda-feira, mas ainda est� longe de ser t�pico de um dia normal.
Parte do com�rcio ficou fechada e as aulas permanecem suspensas. Os �nibus urbanos n�o circularam.
Com a presen�a do efetivo, as viagens do trem de passageiros da Estrada de Ferro Vit�ria a Minas (EFVM), suspensas pela Vale na segunda-feira diante da onda de viol�ncia no estado, ser�o retomadas nesta quarta-feira. Na ter�a-feira, o trem circulou somente entre Belo Horizonte e Governador Valadares, no Leste de Minas, e de l�, retornou para a capital mineira.
Por causa da crise na seguran�a p�blica do Esp�rito Santo, com a paralisa��o da Pol�cia Militar, o governo federal autorizou o envio de 200 homens da For�a Nacional e 1,2 mil homens das For�as Armadas para atuar no estado.
A empresa Excurs�es BH desistiu de organizar sua tradicional excurs�o para Guarapari, destino cobi�ado por mineiros. “A gente ia ficar totalmente inseguro. De alguma forma, somos respons�veis pelas pessoas que est�o indo. Mesmo assim, tem gente que adora Guarapari e quer ir de todo jeito”, afirma a agente de turismo Meire Amaral Lopes. Normalmente, a empresa leva, no m�nimo, um �nibus com 44 passageiros. “Estamos querendo colocar Porto Seguro no lugar”, informa.
A ag�ncia AC Turismo, com sede na capital mineira, est� em compasso de espera. A empresa j� tem 146 pacotes vendidos para suas excurs�es para Guarapari na folia momesca. “Se a viagem fosse hoje, j� estaria cancelada. Mas estamos acompanhando. Os propriet�rios das pousadas est�o cientes de que, se tiver cancelamento por esse motivo, eles v�o devolver o dinheiro”, afirma o dono da ag�ncia, Ant�nio Carlos Souza. O pacote com transporte e hospedagem por cinco dias custa R$ 580 por pessoa.
Ele prefere tratar a situa��o com cautela. “Na �poca da trag�dia de Mariana, falaram que Guarapari tinha virado lama e n�o teve nada disso. O Ex�rcito est� chegando ao Esp�rito Santo e estou confiante que vamos embarcar dia 24”, refor�a. At� agora, quatro clientes haviam pedido para cancelar a viagem, mas foram convencidas a aguardar at� a pr�xima semana. “N�o vou de forma alguma colocar minha vida e dos meus clientes em risco”, diz.
O Servi�o Social do Com�rcio de Minas Gerais (Sesc-MG) tem quatro excurs�es programadas para hot�is da rede em Guarapari e Praia Formosa, ambos no Esp�rito Santo. A assessoria de comunica��o da entidade informou que as viagens est�o mantidas. O Sesc-MG est� monitorando a situa��o nas praias capixabas para avaliar o que ser� feito e refor�a que preza pela seguran�a dos turistas. As via��es Gontijo e a S�o Geraldo, que fazem a rota entre cidades mineiras e capixabas, n�o tiveram qualquer altera��o na sa�da de �nibus. A Itapemirim n�o retornou o contato.
Greve ilegal
O movimento grevista, iniciado no fim de semana, foi considerado ilegal pela Justi�a, que determinou aplica��o de multa di�ria de R$ 100 mil �s associa��es de classe dos militares. A categoria reivindica reajuste salarial e denuncia falta de pagamento de aux�lio-alimenta��o, adicional noturno e por periculosidade, al�m de m�s condi��es da frota de ve�culos empregada no patrulhamento.
Mulheres e outros familiares de PMs fazem piquete em frente aos batalh�es na Grande Vit�ria e em cidades do interior para impedir a sa�da dos policiais e de carros e protestar contra o governo – que n�o aceita negociar enquanto os PMs n�o voltarem a seus postos. No fim da tarde, grupos de moradores contr�rios � greve entraram em confronto com as fam�lias dos policiais. Homens do Ex�rcito precisaram intervir.
“Os efeitos s�o desastrosos. Quem deveria estar cuidando da popula��o n�o est� cuidando. Quando as pol�cias n�o funcionam, temos que recorrer a recursos federais, at� que a gente possa retomar a normalidade”, disse na segunda-feira o secret�rio de Seguran�a, Andr� Garcia. Ele ressaltou que o estado n�o tem condi��es financeiras de dar aumento aos PMs e n�o pode ceder � press�o dos protestos. “Independentemente da pauta, se � justa ou n�o, tem que ter policiamento na rua”, afirmou.
Cenas de Filme de Terror
“A coisa est� mais assustadora do que filme de terror. Est� pior que a fic��o. Situa��es que j� vi em filmes e nunca achei que virariam realidade.” Vinda do cineasta Rodrigo Arag�o, de 40 anos, morador de Guarapari, a an�lise sobre a explos�o de viol�ncia no Esp�rito Santo, provocada pela greve dos policiais militares, � de dar p�nico. Sucesso no exterior e chamado de “expoente do medo” por revista especializada, Arag�o � um dos principais nomes do cinema de terror do Brasil, sendo considerado o novo “Z� do Caix�o”.
No sobrado onde mora no vilarejo de Peroc�o, que pertence a Guarapari, ele cria monstros terr�veis, feitos em moldes de gesso. S�o capetas, chupacabras, zumbis, mas Arag�o tem se assustado mesmo � com o que tem visto fora de casa. “� muito estranho ver a ruas desertas em plena luz do sol. Pessoas andando desconfiadas uma das outras. Nunca pensei ver isso ao vivo”, conta o cineasta, que, por causa da inseguran�a –postos de gasolina, por exemplo, est�o fechados – precisou cancelar viagem a trabalho, na segunda-feira.
“S� no meu bairro 10 lojas foram assaltadas, levaram tudo. Ouvi dizer de gente amassando a cabe�a de outro com pedra”, conta. Um roteiro real que parece ter vindo das telas do cinema, na avalia��o de Arag�o. “O filme O dia do expurgo fala sobre uma sociedade em que por um dia as pessoas podem cometer qualquer crime, como uma v�lvula social. E estamos vendo isso, pessoas de bem, com fam�lia, cometendo crimes porque n�o vai ter repres�lia”, comenta.
No roteiro de O dia do expurgo, dirigido por James DeMonaco e titulado no Brasil como Uma noite de crime, o governo norte-americano constata que suas pris�es est�o cheias para receberem novos detentos e cria lei permitindo todas as atividades ilegais durante 12 horas. Esse per�odo � marcado por milhares de assassinatos, linchamentos e outros atos de viol�ncia por todo o pa�s.
E n�o faltam filmes de terror que se assemelham aos �ltimos dias vividos pelos capixabas. “Est� igual a esses filmes de zumbis, como The Walking Dead em que h� exterm�nios e pessoas se trancam em casa”, afirma. O cineasta acredita que a situa��o tende a se disseminar pelo pa�s. “H� grandes chances de se espalhar para outros estados. � uma contamina��o que prolifera e acho que se mostrou como a nossa sociedade � primitiva. Como precisamos de oficiais armados nas ruas”, refor�a o autor dos longas Mangue negro (2008), A noite do chupa-cabras (2011), Mar negro (2013) e As f�bulas negras (2014). “Essa explos�o de viol�ncia extrapolou meus roteiros”, diz.