
O ministro da Cultura, Roberto Freire, rebateu as cr�ticas feitas pelo escritor paulista Raduan Nassar ao governo do presidente Michel Temer durante discurso ap�s receber o Pr�mio Cam�es de Literatura, na manh� de sexta-feira, “Quem d� pr�mio a advers�rio pol�tico n�o � a ditadura”, disse Freire ao escritor, que, em sua fala, classificou o governo de opressor.
Na cerim�nia, realizada em S�o Paulo, Raduan Nassar, de 81 anos, autor de livros como Um copo de c�lera e Lavoura arcaica, afirmou que o Brasil vive “tempos sombrios” e criticou tamb�m o Supremo Tribunal Federal (STF) e a indica��o do ministro licenciado da Justi�a Alexandre de Moraes para uma vaga na corte. Agradeceu a presen�a de Freire, a quem se referiu como “ministro do governo em exerc�cio”, causando uma saia justa para o pol�tico.
Segundo Freire, manifesta��es cr�ticas s�o pr�prias da democracia, e s� os mais velhos realmente sabem o que foi viver durante o regime militar. “Que os jovens critiquem hoje, n�o h� perplexidade, mas quem d� pr�mio ao advers�rio n�o � representante da ditadura.” O Cam�es, na verdade, � outorgado pelos governos do Brasil e de Portugal.
“N�o podia ficar calado”, disse Nassar depois de fazer seu discurso antigoverno. Em meio � troca de alfinetadas, a plateia tamb�m participou de forma agressiva, com interrup��es ao discurso do ministro e a r�plicas da parte dele.
“O Supremo nada fez para impedir que Eduardo Cunha instaurasse o processo de impeachment que derrubou a presidente Dilma, mulher digna. Foi um golpe”, disse Nassar, que, ovacionado, foi aclamado tamb�m com gritos de “Fora, Temer”, vindos de uma plateia formada, em sua maioria, por editores, escritores e representantes do mercado editorial.
O discurso de Freire inverteu a ordem natural da cerim�nia – esperava-se que Nassar fosse o �ltimo a discursar. Assim, depois de ouvir a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo (que, em dois momentos, referiu-se a Raduan como Nasser), ao pr�prio escritor e ao embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, Freire fez o seu discurso, dizendo que s� os mais velhos realmente sabem o que foi viver durante o regime militar. Nesse momento, o cr�tico liter�rio Augusto Massi interrompeu a fala do ministro e disse: “O senhor n�o tem direito de estar aqui – deixe a obra de Raduan falar”. A rea��o provocou tanto apoio como apupos. A fervura pol�tica se espalhava pela plateia e houve at� uma amea�a de troca de sopapos, interrompida pelo bom senso dos pr�prios envolvidos.
“Passei a noite em claro, revisando o discurso. Eu o mudei ao menos tr�s vezes”, disse Raduan Nassar, que, al�m de criticar a indica��o de Alexandre de Moraes para o STF, questionou a nomea��o de Moreira Franco a ministro, medida ratificada pelo STF. “Em sua decis�o, o ministro Celso de Mello acrescentou um elogio superlativo a Gilmar Mendes por ter barrado Lula para a Casa Civil. Dois pesos e duas medidas.”
� reportagem, Freire` disse que esperava tal rea��o acalorada que marcou a cerim�nia. “As pessoas que agora chamam esse governo democr�tico de autorit�rio s� podem fazer isso porque vivemos em uma democracia. Se fosse durante a ditadura, nada disso seria poss�vel.”
‘DESRESPEITO’ � tarde, o Minist�rio da Cultura emitiu um comunicado com os seguintes dizeres: “O Minist�rio da Cultura lamenta, mais uma vez, a pr�tica do Partido dos Trabalhadores em aparelhar �rg�os p�blicos e organizar ataques para tentar desestabilizar o processo democr�tico. Durante a cerim�nia de entrega do Pr�mio Cam�es de Literatura, em S�o Paulo, o ministro da Cultura, Roberto Freire, teve sua fala interrompida por manifestantes partid�rios, sinal de desrespeito � premia��o oficial dos governos de Brasil e Portugal”.
“Lamentei que tudo isso tenha acontecido”, comentou o editor Luiz Schwarcz, diretor-presidente do Grupo Companhia das Letras. “Claro que Raduan poderia dizer o que bem entendesse, mas seria melhor deixar seu discurso por �ltimo. Tamb�m n�o posso aprovar a rea��o da plateia, que interrompeu um discurso.”
Ao fim do evento, Helena Severo lamentou que a cerim�nia tenha sido “desvirtuada”. “Vim aqui para entregar um pr�mio liter�rio para um grande escritor. Essa cerim�nia foi desvirtuada. Luta pol�tica � uma coisa, a outra � transformar este momento num momento de exacerba��o. A condu��o desse processo, gritando e interrompendo o ministro, foi descabido. N�o foi razo�vel.”
No meio de tudo isso, Raduan Nassar deixou o local depois de muitos abra�os, beijos, selfies e aut�grafos, al�m de um diploma que representa o pr�mio de 100 mil euros, valor arcado igualmente pelos governos brasileiro e portugu�s. Roberto Freire, depois de tomar uma �gua e distribuir abra�os, deixou o local antes do fim da festa.
Saiba mais
Pr�mio Cam�es de Literatura
Institu�do em 1988, o Pr�mio Cam�es de Literatura � dado anualmente a um escritor de l�ngua portuguesa que, pelo conjunto da obra, tenha contribu�do para o enriquecimento do patrim�nio liter�rio e cultural dos pa�ses lus�fonos. O pr�mio, no valor de 100 mil euros (R$ 329 mil na cota��o de ontem), � concedido pelos governos do Brasil e de Portugal. Raduan Nassar � o 12º escritor brasileiro a receber o Pr�mio Cam�es. Antes dele, foram escolhidos Alberto da Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Jo�o Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Autran Dourado, Antonio C�ndido, Jorge Amado, Rachel de Queiroz es Jo�o Cabral de Melo Neto.