Foram mais de 270 horas de depoimentos de 77 executivos delatores que colocaram na mira da Justi�a oito ministros do governo Temer, tr�s governadores, 24 senadores, 39 deputados federais e at� um ministro do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU), num total de 98 pessoas. Na maior dela��o da hist�ria do pa�s, os executivos do Grupo Odebrecht estarreceram o pa�s e levaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a abrir 76 inqu�ritos nas investiga��es da Opera��o Lava-Jato.
Os depoimentos mostram que em nove anos a empreiteira destinou mais de R$ 10 bilh�es em propinas para pol�ticos de 26 dos 35 partidos, empres�rios, lobistas, sindicalistas e lideran�as ind�genas. Tudo para atender aos interesses do gigante da constru��o pesada. E mais: os depoimentos deixaram claro que o uso do caixa dois no financiamento das campanhas eleitorais � uma pr�tica corriqueira adotada no pa�s h� tr�s d�cadas.
O “departamento de propina” da Odebrecht realizava os pagamentos de duas formas: em esp�cie no Brasil (por meio de pacotes ou malas entregues em locais predeterminados) ou em contas banc�rias no exterior. As negocia��es eram feitas nos gabinetes e salas de reuni�es dos principais nomes da pol�tica nacional. Uma planilha detalhava os repasses aos codinomes adotados para cada benefici�rio.
O megaesquema de corrup��o � relatado com um certo ar de naturalidade pela c�pula da Odebrecht, e gerou frases memor�veis – e aqui n�o se trata de um elogio. O Estado de Minas reproduz abaixo declara��es que viraram marcas na hist�ria do Brasil. Todos os pol�ticos e partidos citados pelos delatores negam as acusa��es de recebimento ilegal de recursos.
CAIXA 2 NAS CAMPANHAS

"Vamos agora deixar de historinha, de conto de fadas e falar das coisas como elas s�o: Est� na hora de a gente dizer a verdade de como a coisa suja � feita. N�o � poss�vel que um ministro da Fazenda fique pedindo dinheiro todo m�s a um empres�rio"
"N�o � poss�vel que R$ 300 milh�es pagos em seis anos sejam doa��o de campanha. Na nossa vis�o, s�o propina e crime de corrup��o"
Sergio Bruno Cabral Fernandes, procurador
"Eu n�o conhe�o nenhum pol�tico no Brasil que tenha conseguido fazer qualquer elei��o sem caixa 2. N�o existe ningu�m no Brasil eleito sem caixa 2"
“No que tange a caixa 2, tanto Lula quanto Dilma, eles tinham conhecimento do montante, n�o necessariamente do valor preciso, mas da dimens�o de todo o nosso apoio ao longo dos anos”
Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht
“Ajuda de campanha eu sempre dei a todos eles. E a ele (FHC) tamb�m dei. E com certeza teve ajuda de caixa oficial e n�o oficial”
"Os partidos colocavam seus mandat�rios com a finalidade de arrecadar recursos para o partido e os pol�ticos. H� 30 anos se faz isso”
Em�lio Odebrecht, presidente do Conselho de Administra��o da Odebrecht
“O caixa 2 que ele estava se conseguindo gerar n�o estava sendo capaz de atender � demanda”
Henrique Valadares, executivo da Odebrecht
DOA��ES PARA O PSDB

"A�cio tinha chance de ir para o segundo turno, mas precisava um f�lego na v�spera, de recurso. E ele pediu um encontro comigo. Eu falei: 'A�cio, � complicado. Eu n�o posso aparecer doando para voc� at� na v�spera mais do que para Dilma"
Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht
"O 'Vizinho” ficou conhecido como Serra. O vizinho, consegui detectar s� R$ 4,67 milh�es.
F�bio Gandolfo, executivo da Odebrecht
“Considerando Geraldo Alckmin, candidato ao governo do estado de S�o Paulo em 2010, com objetivo de promover investimentos na �rea de infraestruturas, o que era de interesse da companhia, foi realizada contribui��o por meio de caixa 2, em esp�cie”
Benedicto Jr, executivo da Odebrecht
DOA��ES PARA O PT
“Lembro, em uma dessas ocasi�es, de ter dito ao ent�o presidente (Lula) que o pessoal dele estava com a goela muito aberta. Estavam passando de jacar� para crocodilo”.
“Lembro de, algumas vezes, ter dito a ele (Lula) algo como: 'Presidente, seu pessoal quer receber o m�ximo poss�vel, e meu pessoal quer pagar o m�nimo necess�rio”
Em�lio Odebrecht, presidente do Conselho de dministra��o da Odebrecht
PROPINA PARA O PMDB
"Doutor, chegando l�, eu soube que se tratava do escrit�rio pol�tico do senhor Michel Temer, � �poca candidato a vice-presidente da Rep�blica na chapa com a Dilma"
"Eduardo Cunha explicou: 'O pessoal t� num processo de contrata��o, ICMS, com a Petrobras, de retorno internacional, e tem o compromisso de que, se realmente for adjudicado esse contrato, vai ter uma contribui��o muito importante para o partido”
“Totalmente vantagem indevida, porque era um percentual bem cima de um contrato. Ningu�m falou em diret�rio municipal, estadual, federal, nada. Era um percentual em cima do contrato”
M�rcio Faria, executivo da Odebrecht
“Eduardo Cunha disse: ‘Um amigo meu, casado com uma mulher bonita, gostosa, n�o dormia em casa, chegava muito tarde, viajava muito, sempre cansado. At� o dia em que a esposa vira para o marido e diz: ‘Olha meu amigo, aqui em casa se faz sexo todo dia, contigo ou semtigo’”.
Roberto dos Santos Ara�jo, executivo da Odebrecht, referindo-se a uma amea�a de Cunha em forma de piada
LULA
"Em�lio, o Lula n�o tem nada de esquerda. Ele � um bon vivant"....
Em�lio Odebrecht, ao relatar di�logo que mantivera com o general Golbery do Couto e Silva, nome forte da ditadura no Brasil, sobre Lula
"� verdade – ele (Lula) gosta da vida boa, uma cachacinha. A coisa que ele mais quer � ver a popula��o carente sem preju�zo, essa � que � a vis�o mais correta dele. N�o � tirar de um para dar ao outro, n�o, (mas) como pode, (mas) como pode, aquele que pode, ajudar o outro a crescer"
'AMIGO'
A gente botou R$ 40 milh�es que viriam para atender demandas de Lula. Lula nunca me pediu diretamente. Eu combinei via Palocci. �bvio, ao longo dos usos, ficou claro que era realmente para o Lula. O Palocci me pedia para descontar do saldo 'amigo'."
“A gente sabia que ia ter demandas de Lula, a quest�o do instituto, para outras coisas. Ent�o vamos provisionar uma parte desse saldo; a� botamos R$ 35 milh�es no saldo 'Amigo', que � Lula, para uso que fosse orienta��o de Lula"
Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht
S�TIO DE ATIBAIA

"No pen�ltimo dia de mandato do Lula, estive com ele no Pal�cio do Planalto. E eu disse: 'Olhe, chefe, voc� vai ter uma surpresa. Vamos garantir o prazo que t�nhamos naquele programa l� do s�tio'. Ele n�o fez nenhum coment�rio, mas tamb�m n�o botou surpresa"
Em�lio Odebrecht, presidente do Conselho de Administra��o da Odebrecht