
Bras�lia - Os pol�ticos brasileiros, inclusive a ex-presidente Dilma Rousseff, sofrem de "amn�sia moral", afirmou o marqueteiro Jo�o Santana em depoimento sigiloso � Justi�a Eleitoral.
Respons�vel pelas campanhas do PT � Presid�ncia da Rep�blica em 2006, 2010 e 2014, o publicit�rio afirmou ainda que Dilma “infelizmente” sabia do uso de caixa 2 em sua campanha e se sentia “chantageada” pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht.
De acordo com Santana, a petista teria sido uma “rainha da Inglaterra” em se tratando das finan�as de sua campanha, n�o sabendo de todos os detalhes dos pagamentos efetuados, revelou Santana, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
No entanto, indagado se a presidente cassada tinha conhecimento de que parte das despesas era dinheiro n�o contabilizado, o marqueteiro foi categ�rico: “Infelizmente, sabia. Infelizmente porque, ao me dar confian�a de tratar esse assunto, isso refor�ou uma esp�cie de amn�sia moral, que envolve todos os pol�ticos brasileiros. Isso aumentou um sentimento de impunidade”.
O depoimento de Santana foi prestado ao Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), na �ltima segunda-feira.
Na ocasi�o, o ex-marqueteiro de Dilma lembrou o papel do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), como “porta-voz” de recados de Marcelo Odebrecht. “Dilma se achava chantageada pelo Marcelo”, afirmou Santana � Justi�a Eleitoral. De acordo com o relato do publicit�rio, o objetivo da chantagem seria intimidar a ent�o presidente a ponto de faz�-la impedir o avan�o das investiga��es da Lava-Jato. Dilma nunca gostou do “Menino”, apelido que usava para se referir a Marcelo Odebrecht, disse o ex-marqueteiro do PT.
Conforme depoimento do ex-diretor de Cr�dito � Exporta��o da Odebrecht Engenharia e Constru��o Jo�o Nogueira � Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR), o ex-presidente da Odebrecht enviou, por meio de Pimentel, documentos que demonstravam o uso de caixa 2 na campanha da petista.
O objetivo era demonstrar que Dilma n�o estava blindada na crise de corrup��o que se instalou no seu governo. Dilma tamb�m teria sido avisada reiteradas vezes de que a sua situa��o poderia se complicar se ela n�o barrasse um acordo internacional entre autoridades do Minist�rio P�blico do Brasil e da Su��a, j� que a conta da sua campanha estaria “contaminada”.
Jo�o Santana foi uma das �ltimas testemunhas ouvidas no �mbito da a��o que apura se a chapa encabe�ada por Dilma, de quem Michel Temer foi vice, cometeu abuso de poder pol�tico e econ�mico para se reeleger em 2014. O julgamento do processo dever� ser retomado na segunda quinzena de maio. A informa��o de que Dilma sabia do uso de caixa 2 foi considerada um fato novo pelo ministro Herman Benjamin.
PAGAMENTO
O assunto caixa 2 foi tratado por Dilma e por Jo�o Santana j� em abril e maio de 2014, antes do in�cio oficial da campanha eleitoral. De acordo com o marqueteiro, o pagamento “oficial” estava em dia, enquanto os repasses de recursos n�o contabilizados via Odebrecht sofriam atrasos.
Santana foi questionado no depoimento se esses atrasos n�o seriam gen�ricos, mas o pr�prio marqueteiro enfatizou que a demora nos pagamentos sempre envolve a parte n�o contabilizada. O publicit�rio afirmou que j� estava acostumado a dar “alerta vermelho” sobre atrasos, desde a �poca em que trabalhou na campanha de Lula � Presid�ncia, em 2006.
“Caixa 2 � uma coisa nefasta”, criticou Santana, que disse n�o haver campanha eleitoral sem a irriga��o de recursos n�o contabilizados - mesma constata��o que j� havia sido feita por Marcelo Odebrecht em outro depoimento ao ministro Herman Benjamin. Para o marqueteiro, a defini��o das coliga��es em torno de candidaturas s�o “leil�es”, envolvendo uma s�rie de interesses e negocia��es, como a distribui��o de cargos. “Isso vai perdurar enquanto tiver empres�rio querendo corromper e pol�tico querendo ser corrompido”, disse.
Mesmo considerando Dilma Rousseff uma pol�tica honesta, o marqueteiro reconheceu que a petista acabou “fatalmente nessa teia”. “� um esquema maior que o ‘petrol�o’. Essa promiscuidade de p�blico e privado vem do Imp�rio, passou por todas as coisas da Rep�blica”, resumiu Santana.
OUTRO LADO
Em nota, a assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff repudiou “o vazamento seletivo de trechos” do depoimento de Jo�o Santana, o que renova “a necessidade de rigorosa investiga��o pela Justi�a Eleitoral”. “Dilma Rousseff nunca negociou diretamente quaisquer pagamentos em suas campanhas eleitorais, e sempre determinou expressamente a seus coordenadores de campanha que a legisla��o eleitoral fosse rigorosamente cumprida e respeitada”, diz a nota.
