Bras�lia – O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci bateu o martelo: vai fazer dela��o premiada. O que o petista falar� tem poder para complicar ainda mais a situa��o dos ex-presidentes Luiz In�cio Lula da Silva e Dilma Rousseff, mas tamb�m envolver gigantes do setor financeiro. Interlocutores do governo j� sondaram o mercado com medo de um risco sist�mico, que poderia tornar ainda mais caro o cr�dito no pa�s, um indicador importante da retomada econ�mica, mas que ainda tem se recuperado de forma discreta. A dela��o de Palocci, ex-homem forte da economia, pode, inclusive, estabelecer uma ponte entre a Lava-Jato e Opera��o Zelotes.
A liberta��o do ex-ministro Jos� Dirceu com base em um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) n�o fez com que Palocci desistisse da dela��o, apenas permitiu que passasse a analisar a situa��o com menos pressa. Mas o pedido de liberdade feito por ele � Segunda Turma foi rejeitado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato, que decidiu transferir a decis�o ao pleno da corte, o que torna mais dif�cil a concess�o do habeas corpus.
Nas �ltimas semanas, a Pol�cia Federal promoveu uma mudan�a estrat�gica: trocou Palocci de cela, colocando-o com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque que tem como advogado Marcelo Bretas, que Palocci tinha dispensado e que, agora, volta a contratar.
Palocci chamou Roberto Battochio, seu ex-defensor, para avisar que pretendia fazer a dela��o. Ontem, um advogado em comum tentou entrar em contato com Battochio, confirmando que Palocci fecharia acordo com a Lava-Jato. O ex-advogado conversou, ent�o, com o petista, e a separa��o foi sacramentada. Em nota, o escrit�rio Jos� Roberto Batochio Advogados Associados confirmou que deixou a defesa de Palocci em dois processos em tramita��o na 13ª Vara Federal de Curitiba, em raz�o de o ex-ministro fazer dela��o, “esp�cie de estrat�gia de defesa que os advogados da referida banca n�o aceitam em nenhuma das causas sob seus cuidados profissionais.”
Outros dois fatores foram primordiais para convencer Palocci. Ele � uma das pe�as centrais — ao lado de Lula e Dilma — nas dela��es feitas pelos marqueteiros Jo�o Santana e M�nica Moura. Eles confirmaram que o petista, assim como dito pelos ex-executivos da Odebrecht, que o batizaram de “Italiano”, era o respons�vel por intermediar repasses da empreiteira via caixa 2, para pagar os custos de campanha dos marqueteiros em 2006, 2010 e 2014.
Ontem, o poder de convencimento final: a deflagra��o pela Pol�cia Federal da Opera��o Bullish, que investiga os empr�stimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) para a holding JBS Friboi, uma das campe�s nacionais durante as gest�es do PT que comandava setores espec�ficos da economia (leia mais sobre a opera��o na p�gina 8). Como ex-ministro da Fazenda, Palocci teve poder decisivo para essa parceria.
“Qualquer coisa que Palocci falar sobre Lula tem peso, porque ele � algu�m que estava dentro do sistema. Mas � bom lembrar que vamos falar de novas flechas em um S�o Sebasti�o. Lula j� foi delatado pelo casal de marqueteiros, por Marcelo e Em�lio Odebrecht, por Pedro Barusco e at� por Renato Duque”, enumera o professor de ci�ncia pol�tica da Institui��o de Ensino Superior e Pesquisa (Insper) de S�o Paulo Carlos Melo. “Agora, � claro, que, como ex-ministro da Fazenda, ele tem muito a falar sobre a atua��o da pr�pria pasta, da Receita, do Tesouro, do Banco Central e do pr�prio BNDES, exposto na opera��o de hoje (ontem)”, completou Melo.
Nesse contexto, h� o receio de que ele exponha pelo menos um grande banco privado e um banco de investimentos. “Se Palocci revelar como funciona o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), colegiado que est� sendo investigado na Zelotes por suspeitas de acordos pouco convencionais para perd�o de d�vidas, muitos agentes econ�micos enfrentar�o problemas”, afirma um analista de mercado.
ACUSA��ES CONTRA O EX-MINISTRO
» Identificado como “Italiano” na planilha de propinas da Odebrecht, Palocci � suspeito de receber R$ 128 milh�es para si pr�prio e para o PT para atender demandas da Odebrecht nos governos Lula e Dilma, entre 2008 e 2013.
» As demandas seriam privil�gio em licita��es oficiais e atua��o para aprovar projetos de lei positivos � empreiteira, como medida provis�ria com benef�cios fiscais, aquisi��o de navios-sonda para explorar pr�-sal e obras em Angola.
» Palocci tamb�m � suspeito de adquirir terreno de R$ 12 milh�es em S�o Paulo para constru��o do Instituto Lula.