
Sete dias depois da divulga��o das den�ncias apresentadas pelos irm�os Joesley e Wesley Batista, do grupo J&F, envolvendo o Pal�cio do Planalto, pelo menos uma certeza j� aparece no cen�rio de instabilidade nacional: se o presidente Michel Temer (PMDB) quiser se manter no comando do Brasil, mais do que nunca, ele ter� que praticar a habilidade pol�tica que marcou a sua carreira p�blica– inclusive presidente da C�mara por duas vezes. O que significa manter sob sua batuta o Congresso Nacional – a quem caber� a palavra final sobre um poss�vel processo de impeachment ou abertura de uma a��o penal por corrup��o passiva e organiza��o criminosa.
A base aliada tamb�m perdeu os 13 deputados federais do Podemos (ex-PTN) e 10 do PPS. O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, entregou o cargo de ministro da Cultura. Raul Jungmann (PPS) se manteve na Defesa, mas h� quem diga que ele vai deixar a pasta assim que o substituto for escolhido. Da mesma forma, o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho (PE), filiado ao PSB, continua no cargo. “O que sustenta Temer politicamente � a sua boa rela��o com o Congresso Nacional. S� uma baixa muito grande poderia acentuar a crise, como a perda do apoio do PSDB”, diz o cientista pol�tico Marco Ant�nio Carvalho Teixeira, professor da Funda��o Getulio Vargas (FGV) em S�o Paulo.
Os tucanos est�o divididos e vivem um imbr�glio: aceitar a gravidade das den�ncias e deixar o governo significa uma p� de cal na carreira pol�tica do seu presidente licenciado, o senador afastado A�cio Neves (MG). Ele � investigado por suspeita de ter recebido R$ 2 milh�es em propinas da JBS. Alguns diret�rios estaduais j� defendem o desembarque do governo, como o ga�cho e o fluminense. No fim de semana, o PSDB do Rio defendeu a sa�da dos ministros do Planalto, a ren�ncia de Temer e at� mesmo o impeachment.
A expectativa era que o PSDB de S�o Paulo adotasse o mesmo discurso, mas os paulistas foram barrados pelo governador Geraldo Alckmin. Na segunda-feira, ele declarou que “n�o seria correto com o pa�s” o PSDB deixar o governo federal. Assim, delegaram a decis�o para a dire��o nacional da legenda. At� o momento, est� prevalecendo a tese de esperar o resultado da per�cia que pode comprovar ou n�o a veracidade nas grava��es de di�logo entre o presidente e Joesley Batista.
CANETADA PODEROSA Em meio ao caos, Michel Temer tem um importante aliado: o presidente da C�mara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Cabe a ele autorizar a abertura de um processo de impeachment na Casa. Ou seja, sem a canetada dele, o assunto n�o sai da gaveta. Ele inclusive j� engavetou tr�s dos oito pedidos de impeachment que chegaram � casa desde a semana passada. Na segunda-feira � noite, o deputado fez uma longa defesa da agenda econ�mica do Planalto e avisou que a C�mara n�o servir� para desestabilizar o governo. Mas h� um detalhe que n�o d� para esquecer: uma eventual sa�da de Temer d� a Rodrigo Maia o direito de comandar o Brasil durante 60 dias at� que ocorram elei��o indiretas. E mais: o nome dele � um dos cotados para se candidatar.
“Acredito que a tend�ncia de Maia � segurar os pedidos de impeachment. A Dilma Rousseff (PT) estava em situa��o muito pior, e o Eduardo Cunha (ent�o presidente da C�mara) s� aceitou come�ar o processo por causa do Conselho de �tica, quando o PT foi muito in�bil, coisa que o Temer n�o �”, avalia o cientista pol�tico Rubens Figueiredo, diretor-geral do Cepac – Pesquisa e Comunica��o. Ele se refere � decis�o do PT de votar contra Cunha no processo que ele respondia no Conselho de �tica da C�mara, o que o levou a colocar em tramita��o um dos pedidos de impeachment de Dilma Rousseff.
Ontem, Maia deu nova demonstra��o de apoio a Temer. Garantiu a suspens�o da reuni�o da Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) da C�mara, que discutiria e votaria a Proposta de Emenda � Constitui��o 227/16, que ficou conhecida como PEC das Elei��es Diretas. O projeto ganhou for�a com a possibilidade de ren�ncia ou afastamento de Temer. O encontro foi encerrado gra�as a uma manobra pol�tica do presidente da Casa: abrir a reuni�o do plen�rio, mesmo com a presen�a de apenas pouco mais de 50 deputados presentes. Pelo regimento da C�mara, quando o plen�rio inicia a vota��o da pauta, as comiss�es n�o podem deliberar sobre nenhuma mat�ria.
ECONOMIA Na tropa de Temer est�o os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presid�ncia), al�m do l�der do governo no Senado, Romero Juc� (PMDB-PE). Cabe a eles o papel de protagonistas na articula��o do Executivo com o Legislativo, especialmente em um momento em que Temer est� fragilizado pelas den�ncias de corrup��o. A atua��o deles est� ligada ainda a uma expectativa de melhoria no cen�rio econ�mico, o que pode significar um suspiro a mais para o governo. “Uma aprova��o das reformas (trabalhista e previdenci�ria) pelo Congresso tesm o cond�o de melhorar a economia, o que aumentaria a boa vontade com o Temer”, analisa Figueiredo.
Mas n�o � o que pensa o cientista pol�tico Marco Ant�nio Carvalho. Ele lembra que mesmo com a melhora em alguns �ndices, a popularidade de Temer n�o decolou. “A honestidade e a reputa��o est�o mais pontuais que o equil�brio econ�mico. Um erro de Temer � que ele n�o valorizou a reputa��o quando chegou ao poder”, afirma o cientista pol�tico. Al�m disso, Marco Ant�nio recorda que o nome de Meirelles ficou fragilizado com as informa��es de que o ministro esteve ligado ao grupo J&F, controlador da JBS. Entre 2012 e 2016, Meirelles assumiu a presid�ncia do conselho de administra��o da empresa, com a miss�o de prepar�-la para a abertura do capital na bolsa de valores.
PEC DAS ELEI��ES DIRETAS � RETIRADA DA PAUTA Uma demonstra��o da for�a da base aliada do presidente Michel Temer no Congresso foi dada ontem. O presidente da Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) da C�mara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), retirou da pauta de hoje a Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) 227, que estabelece elei��es diretas para o caso de vac�ncia da Presid�ncia da Rep�blica. O projeto de autoria do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) foi apreciado pela comiss�o ontem, mas acabou n�o tendo seu relat�rio colocado em vota��o.
Isso porque a base aliada obstruiu um requerimento que buscava a invers�o da pauta da CCJ. A iniciativa da oposi��o tinha o objetivo de colocar a PEC 227 como primeiro item para an�lise. No fim da sess�o, Rodrigo Pacheco convocou nova reuni�o da CCJ para hoje, mas n�o incluiu o item na pauta, o que irritou deputados do PSOL e do PT. “O governo tentou n�o dar qu�rum e usar de um artif�cio da oposi��o. Um governo que precisa recorrer � obstru��o j� acabou”, criticou o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ). J� a base justificou: “As quest�es n�o devem ser reduzidas a uma quest�o de base ou oposi��o ao governo. Qualquer iniciativa que venha a introduzir maior inseguran�a � temer�ria, imprudente e beira a irresponsabilidade”, rebateu o deputado Paulo Henrique Lustosa (PP-CE).