S�o Paulo, 05 - Mais de um ano depois da homologa��o de um acordo de dela��o premiada que tem lhe garantido o direito de n�o passar nem um dia sequer na cadeia, o ex-presidente da Transpetro S�rgio Machado vive como se estivesse numa pris�o domiciliar de luxo. Machado, ex-senador, que confessou ter desviado ao menos R$ 100 milh�es para aliados pol�ticos, atualmente passa a maior parte do tempo recluso em casa com piscina, quadra, extensos jardins no alto de uma colina com vista para o mar azul da Praia do Futuro.
A resid�ncia toma meio quarteir�o no Bairro de Dunas, um dos mais nobres e caros de Fortaleza, onde tamb�m moram expoentes do mundo empresarial e pol�tico do Cear� como o ex-governador e senador Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB e ex-aliado de Machado.
Machado n�o sofre qualquer restri��o legal. Formalmente, � um homem livre. O acordo de dela��o negociado com a Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) tem uma cl�usula que lhe facultava a op��o de cumprir antecipadamente a pena, j� que os processos referentes � Transpetro ainda n�o foram julgados. Recentemente, a efic�cia do acordo foi questionada pela Pol�cia Federal.
Alegando raz�es de �foro �ntimo�, Machado optou por n�o antecipar a pena. Aos raros interlocutores, o ex-presidente da Transpetro diz estar se sentindo amea�ado porque acusou �pol�ticos profissionais dispostos a qualquer coisa para se salvar�. A um amigo, o ex-senador, que tem 70 anos, afirmou que est� preparado �para passar o resto� dos seus dias �por conta desta luta�. Quando comenta sua situa��o, reclama que �� como se a pris�o domiciliar j� tivesse come�ado�.
Pelo acordo, Machado vai cumprir tr�s anos de pris�o domiciliar seja qual for o resultado dos inqu�ritos nos quais est� envolvido. Cumpridos dois anos e tr�s meses, passar� para o regime semiaberto diferenciado. Ele pode ser condenado a no m�ximo 20 anos de reclus�o, mas se as penas ultrapassarem os tr�s anos ser�o automaticamente convertidas na puni��o alternativa.
Temendo retalia��es, Machado passa a maior parte do tempo na casa de Dunas que teve a seguran�a refor�ada. Pelo menos tr�s camadas de seguran�a protegem Machado. A primeira formada pelos vigias do bairro. Como na maioria das �reas ricas das grandes cidades, as ruas de Dunas s�o praticamente desertas.
Apenas carr�es e as motos de seguran�as circulam pela regi�o. Existem relatos de equipes de reportagem abordadas e intimidadas pelos vigias. Al�m disso a casa tem uma equipe de ao menos oito seguran�as fortemente armados e equipados com coletes � prova de balas que ficam no interior da resid�ncia. Na semana passada, a reportagem do
Grupo Estado
esteve no local sem avisar e foi atendida por um deles, que disse gentilmente: �O doutor S�rgio n�o est�. Deu uma saidinha�.
Academia
Machado tem ainda uma equipe de guarda-costas que o acompanha nas cada vez mais raras apari��es p�blicas e impede qualquer pessoa de chegar perto do ex-presidente da Transpetro. Mas n�o evita situa��es embara�osas. Ele foi hostilizado em uma visita ao Shopping Del Passeo e na academia onde se exercitava sob a orienta��o do bicampe�o mundial de v�lei de praia Roberto Lopes foi chamado de ladr�o.
Outros frequentadores chegaram a procurar a dire��o da academia para reclamar. Machado parou de frequentar o local. Amigos e ex-aliados viraram a cara para o ex-senador e ex-candidato ao governo do Cear�. No PMDB local, partido ao qual era filiado, � visto como inimigo.
Machado e sua fam�lia tamb�m viraram alvo de boatos e fofocas. Na capital cearense alguns juram t�-lo visto com tornozeleira eletr�nica, o que n�o � verdade. Segundo fontes da alta sociedade de Fortaleza, os quatro filhos de Machado se mudaram para o exterior. Dois moram em Nova York, um em Londres e Serginho, que rompeu com o pai depois do esc�ndalo, estaria morando no megacondom�nio Saint Regis, em Miami, onde o ex-jogador Ronaldo Fen�meno e o apresentador Fausto Silva t�m apartamentos.
Gente do entorno de Machado nega e diz que os boatos foram alimentados pela fam�lia por quest�es de seguran�a. Segundo pessoas pr�ximas, hoje o ex-senador se limita a ir �s missas de domingo na Igreja Nossa Senhora de F�tima, tamb�m em Dunas, onde costuma se aconselhar com o padre Edcarlos Isa�as de Souza, e visitar a m�e, dona Deisy, de 90 anos.
Na casa das Dunas - alugada - Machado vive entre leituras e escritos ao lado da mulher, seguran�as e cinco empregados, entre eles um gar�om. Mas n�o deixa de reclamar. �Esta casa tem apar�ncia antiga e muros altos, inclusive do lado de dentro�, disse ele a um amigo.
�Estancar a sangria�
Na dela��o, o ex-presidente da Transpetro diz ter desviado R$ 100 milh�es para mais de 20 pol�ticos de diversas legendas e envolve diretamente o presidente Michel Temer, que nega irregularidades. Mas o pol�tico cearense ficou famoso pelas grava��es secretas que fez com pol�ticos gra�dos com os quais tinha intimidade, como o ex-presidente Jos� Sarney e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Juc� (PMDB-RR), em uma esp�cie de antecipa��o do m�todo que seria usado por Joesley Batista, dono da JBS.
Em uma delas Juc� diz a frase: �Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria�. Al�m das dela��es, Machado se comprometeu a devolver R$ 75 milh�es dos quais, segundo ele tem dito a pessoas pr�ximas, ainda faltam R$ 20 milh�es. Em relat�rio de inqu�rito que investiga Juc�, Sarney e Renan por obstru��o da Justi�a, a delegada da PF Graziela Machado da Costa e Silva pede a revoga��o dos benef�cios concedidos ao ex-presidente da Transpetro.
Machado diz aguardar com �tranquilidade� a manifesta��o da PGR sobre o documento da PF. Ele tem dito perceber �forte atua��o� dos pol�ticos investigados na repercuss�o do caso e estranhar que outros arquivamentos feitos pela PF n�o tenham tido o mesmo destaque.
(Ricardo Galhardo, enviado especial)