
Os discursos moralistas cederam lugar ao pragmatismo na an�lise da den�ncia contra o presidente Michel Temer. Ao votar, a maioria dos deputados favor�veis ao peemedebista na �ltima quarta-feira apresentou argumentos econ�micos e pol�ticos - notadamente a oposi��o ao PT. O tema "corrup��o" foi ignorado por quase todos.
An�lise feita pelo Estad�o Dados nos discursos dos 263 parlamentares que se alinharam ao Pal�cio do Planalto revela que a economia foi a justificativa preponderante. Cerca de um ter�o dos favor�veis a Temer citaram termos como "estabilidade" (17%), "emprego" (8%), "reformas" (7%) ou "retomada" (4%). O PT foi mencionado em 13% dos discursos. A corrup��o, em apenas 2%.
O tom das manifesta��es foi muito diferente do apresentado na vota��o da abertura do processo de impeachment da ent�o presidente Dilma Rousseff, no ano passado. Na ocasi�o, parcela significativa dos deputados aproveitou o momento ao microfone para dedicar o voto a familiares, a eleitores de suas regi�es e ao "futuro do Brasil".
Na compara��o dos 1.005 discursos feitos nas duas vota��es, as cita��es a "fam�lia" ca�ram 95%, de 128 na �poca de Dilma para apenas 6 no caso de Temer. As men��es ao futuro ca�ram 88%, de 43 para 5. J� as refer�ncias a "estabilidade" cresceram de zero para 49.
O pedido de impeachment de Dilma se baseou nas chamadas "pedaladas fiscais" - pr�tica do governo de atrasar repasses de recursos para bancos e autarquias, o que melhorava artificialmente os resultados das contas p�blicas.
J� Temer foi acusado pela Procuradoria-Geral da Rep�blica de ter recebido, por interm�dio de seu assessor Rodrigo Loures, "vantagem indevida de R$ 500 mil ofertada por Joesley Mendon�a Batista", do grupo JBS. Loures foi filmado pela Pol�cia Federal ao receber uma mala com R$ 500 mil de um representante do JBS.
Na semana passada, alguns deputados favor�veis ao presidente argumentaram que ele poder� ser investigado ap�s o fim do mandato. "Investigar � preciso, mas n�o � urgente", discursou o deputado Julio Lopes (PP-RJ). "Urgente � unir trabalhadores e empreendedores do Brasil para desenvolver o Pa�s."
"A investiga��o pode esperar", disse Renato Andrade (PP-MG). "N�s devemos ter responsabilidade com o nosso Brasil."
"O Temer vai continuar sendo investigado depois, porque n�o cessa a investiga��o", argumentou Sergio Moraes (PTB-RS), que em 2015 ganhou notoriedade ao afirmar que estava se "lixando" para a opini�o p�blica ao propor o arquivamento de um processo contra um colega, por quebra de decoro parlamentar.
Nas semanas que antecederam a vota��o, Temer acelerou a libera��o de emendas de parlamentares ao Or�amento, al�m de negociar benesses para a bancada ruralista. O deputado Arthur Virg�lio Bisneto (PSDB-AM) foi o �nico a se referir diretamente ao tema ao votar: "Eu n�o negociei emenda, muito menos tenho cargos no governo", discursou.
"Acredito que o Brasil precisa passar por reformas estruturantes que fa�am a m�quina se modernizar e o Pa�s voltar a crescer com consist�ncia. O pa�s que olha para o futuro n�o troca de presidente como se troca de roupa."
Sem citar emendas, outros discursos evidenciaram a rela��o entre voto e libera��o de verbas para bases eleitorais. "Este � o chamado voto de gratid�o", disse C�cero Almeida (PMDB-AL). "Pela forma decente e am�vel que o presidente da Rep�blica e seus ministros t�m tratado o Estado de Alagoas, o meu voto � sim".
Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) fez uma cobran�a p�blica ao votar: "A depender do tratamento que Minas Gerais recebeu at� hoje do governo, dever�amos at� ir contra o relat�rio, mas precisamos, neste momento, de estabilidade econ�mica e de seguran�a jur�dica, com fiel respeito aos preceitos da Constitui��o. Portanto, voto sim."