S�o Paulo - O empres�rio Marcelo Odebrecht reafirmou nessa segunda-feira, 5, seus termos de dela��o premiada perante o juiz federal S�rgio Moro, da Opera��o Lava Jato. O delator foi interrogado em a��o penal sobre supostas propinas da Odebrecht para o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
Marcelo Odebrecht contou ao juiz Moro que, no primeiro semestre de 2010 - quando Lula era presidente -, combinou com o ex-ministro Antonio Palocci que haveria "uma conta para atender" ao petista. O empreiteiro citou o ex-presidente Fernando Henrique, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto e outro delator da Odebrecht Alexandrino Alencar.
"A ideia inicial nossa era que esse valor fosse doado ao Instituto nos moldes que Fernando Henrique e a gente n�o se preocupasse mais com esse assunto (...) diminuindo a exposi��o. Mas isso acabou n�o ocorrendo at� porque, a� eu tive algumas conversas com Paulo Okamotto sobre esse assunto, acho que meu pai esteve com Lula, Alexandrino tamb�m esteve, eu, inclusive, Palocci concordava comigo (...) que era no sentido de seguinte: o Instituto estava incomodado de ficar, de estruturar para receber a doa��o, como o Fernando Henrique fez", narrou.
"N�o resolveu e come�ou (sic) a vir uns pedidos que teriam que ser feito de modo n�o contabilizados, a� come�ou, come�ou pedido do Instituto Lula, come�ou o terreno, come�ou a vir um pedido por exemplo que foi feito doa��es para o Instituto Lula 4 milh�es. Essa forma � que eu sei que o Lula foi beneficiado", afirmou o empres�rio.
Marcelo contou a Moro que prestou depoimento � Pol�cia Federal "recentemente" e tratou de e-mails do executivo Fernando Migliaccio, ligado � Odebrecht. Segundo o empreiteiro, ele encontrou "os 4 milh�es de doa��o para o Instituto Lula os recibos dele estavam com Fernando Miggliaccio".
O valor constava da "planilha italiano", tabela de propinas supostamente "controlada" por Palocci e destinadas ao PT. Lula seria o "amigo" na planilha. "Claramente, se est� com ele (Fernando Migliaccio), � porque foi descontado da planilha italiano. E um e-mail meu para o Alexandrino dizendo exatamente que o Palocci, aqui: 'o italiano disse para mim que o japon�s vai lhe procurar, Alexandrino, para um apoio formal para o Instituto de 4 milh�es'. Quer dizer, o apoio foi formal, mas foi debitado da conta italiano. E tamb�m teve, a� saiu dessa conta tamb�m, e tamb�m teve v�rios pedidos que foram feitos por Palocci a mim".
Odebrecht relatou a Moro que em meados de 2010, foi procurado pelo pecuarista Jos� Carlos Bumlai, amigo de Lula. "O Bumlai me procurou dizendo que tinham identificado o terreno, que era Roberto Teixeira que tinha identificado o terreno, que tinha acertado a compra do terreno e que eles iam querer que esse terreno fosse a sede do futuro Instituto e queriam que a gente viabilizasse a compra desse terreno", relatou.
"Outra raz�o pela qual eu sei que Lula sabe desse provisionamento, porque eu conversei tanto com Bumlai quanto com o Okamotto. Seguinte: 'eu, tudo bem, mas esse valor vai sair, seja l� qual for a forma, vai sair do valor provisionado que eu tenho com Palocci para Lula'. Fui em Palocci: 'Palocci, olha, Bumlai e Paulo Okamotto chegaram com essa historia de comprar o terreno, voc� sabe qual � a minha posi��o, eu prefiro doar, eles que comprem, mas d� uma checada nisso, porque o que voc� disser, eu fa�o'. Ele foi checar e voltou para mim, ele tamb�m n�o gostou muito da hist�ria, porque ele tamb�m era da linha de que era melhor doar para o Instituto Lula e eles se virarem, mas ele disse: 'Olha, Marcelo, foi iniciativa do Roberto Teixeira, mas j� fizeram a cabe�a Dona Marisa, Lula, e se voc� criar caso, v�o dizer que voc� est� criando mais caso porque voc� fica sempre pedindo as coisas de Lula, a� ele vai em seu pai, vai resolver na marra. Seguinte, melhor voc� liberar'", disse o empres�rio no relato.
"Fui l�, combinei com Paul Altit, o presidente da Odebrecht Realiza��es, como era uma transa��o imobili�ria, a gente procuraria uma pessoa para fazer, mas precisaria de uma pessoa dele."
Marcelo Odebrecht afirmou que "nunca" conversou com Lula "diretamente sobre esse assunto". "Tudo que eu sei � atrav�s de Bumlai. Roberto Teixeira, n�o, porque eu nunca estive com ele. Bumlai, Okamotto e o Palocci. Aparentemente esse assunto foi iniciativa de Roberto Teixeira com Bumlai, que identificaram esse terreno, n�o sei se tinha um acerto com os vendedores. Isso nunca ficou claro para mim. Mas de certo modo foi o terreno e que Lula acabou aceitando, mas n�o sei se ele bateu o martelo."
Defesa
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente, se manifestou. "Os depoimentos desmontam acusa��o contra Lula", disse. "Sobressai do depoimento prestado hoje (04/08) por Marcelo Odebrecht que n�o h� qualquer rela��o entre os temas discutidos na A��o Penal n. 50631301172016404-70000 e a Petrobras e, ainda, que o ex-executivo n�o tratou de qualquer contrapartida com o ex-Presidente Luiz In�cio Lula da Silva".
Marcelo, que � delator, negou peremptoriamente qualquer atua��o em rela��o aos 8 contratos indicados na den�ncia e ainda que tenha tratado de qualquer contrapartida em rela��o a esses contratos em favor de Lula".
"Com esse depoimento Marcelo destr�i a acusa��o apresentada pelo Minist�rio P�blico Federal. Lula foi acusado nesse processo porque segundo a vers�o do MPF ele teria recebido 2 im�veis em contrapartida por ter atendido a pedido de favorecimento de Marcelo Odebrecht em rela��o a esses 8 contratos firmados pela Petrobras".
"O depoimento de Paulo Melo mostrou as fragilidades das declara��es de Marcelo Odebrecht em rela��o a Lula e ao Instituto Lula. A verdade � que Lula jamais recebeu a propriedade ou a posse de qualquer dos im�veis indicados pelo MPF, muito menos em contrapartida de qualquer atua��o em contratos firmados pela Petrobras".
Mais uma vez registramos no in�cio da audi�ncia o cerceamento de defesa imposto ao ex-Presidente Lula. O MPF est� tendo acesso a documentos que s�o negados � defesa de Lula. Por isso impetramos tamb�m hoje habeas corpus perante o Tribunal Regional Federal da 4a. Regi�o objetivando reverter essa ilegalidade".