
Na parede do comando da campanha de Bill Clinton se lia: “A economia, est�pido”. A frase explicava por que o democrata subia, apesar de o republicano George Bush, o pai, ter sa�do vitorioso da guerra do Iraque. O fato � que a evolu��o da renda nos Estados Unidos exibia n�meros ruins naquela campanha presidencial de 1992.
Hoje, quando o Brasil se recupera lentamente da maior recess�o da hist�ria, assuntos como crescimento econ�mico, impostos, previd�ncia e desemprego tinham tudo para protagonizar as discuss�es. Mas n�o � o que se v�. “Esta elei��o n�o � sobre economia”, explica o ex-diretor do Banco Central Alexandre Shwartsman. “A palavra-chave da disputa hoje � corrup��o. Por isso, quem lidera � um outsider da pol�tica”, completa ele, em refer�ncia ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro.
A an�lise do cientista pol�tico Geraldo Tadeu, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), vai na mesma linha. “Mesmo que a economia estivesse muito bem, haveria problema pela liga��o dos candidatos com o governo Temer. Pesa muito a corrup��o como referencial”, explica.
Para Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ci�ncia Pol�cia da Universidade de Bras�lia (Ipol/UnB), a economia dever� ter destaque maior no segundo turno. “Na nova etapa, os candidatos dever�o ter de apresentar as poss�veis escolhas para o cargo de ministro da Fazenda. A capacidade de gest�o econ�mica de um candidato importa em todas as elei��es presidenciais. Mas nessa, de fato tem um peso um pouco menor do que se imaginava antes”, diz.
O professor da UnB explica que todos os temas tradicionalmente tratados em campanhas, incluindo sa�de e educa��o, est�o ofuscados, neste primeiro turno, pela polariza��o pol�tica. “Minha hip�tese � que tr�s fatores contam hoje, para grupos diferentes de pessoas. O primeiro � a busca pela novidade, com rejei��o da corrup��o e dos partidos tradicionais. Outra � a preocupa��o com direitos sociais e a solidariedade com minorias. A terceira, � a dimens�o redistributiva, incluindo o Bolsa Fam�lia”, elenca. Bolsonaro � forte no primeiro aspecto. O petista Fernando Haddad, no segundo e no terceiro. Por isso, eles lideram as pesquisas de inten��o de voto. No levantamento divulgado ontem pelo Ibope, eles t�m, respectivamente, 28% e 22% das inten��es de votos.
Geraldo Alckmin, do PSDB, partido que apoiou o governo do presidente Michel Temer, e Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda, s�o os candidatos que pretendiam apostar na percep��o do eleitor de terem ajudado o pa�s a sair da crise, e de que poderiam fazer o Produto Interno Bruto (PIB) crescer de forma mais forte. Mas eles t�m, respectivamente, apenas 8% e 2% das inten��es de votos de acordo com o Ibope. Juntos, somam menos inten��es de votos do que o terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), com 11%.
“Alckmin queria faturar com a melhora da economia, mas n�o consegue. O eleitor est� indignado. � poss�vel, ainda, que ele cres�a, caso conquiste uma parcela do que hoje � o ‘n�o voto’ nas pesquisas”, analisa Tadeu. O “n�o voto”, para os cientistas pol�ticos, � a parcela dos que hoje se declaram indecisos nas pesquisas, ou ent�o, informam os entrevistadores que pretendem n�o participar da elei��o ou anular a escolha na urna eletr�nica.
A economia brasileira corre risco de encerar o ano com desempenho ainda pior do que em 2017, quando o PIB cresceu s� 1%. V�m se frustrando as expectativas de que o pa�s sairia com for�a da crise. Mas o fato � que a situa��o n�o tem semelhan�a com o que se via h� dois anos, que o pa�s estava mergulhado na recess�o. “O quadro estaria melhor com a reforma da Previd�ncia. Mas n�o � por um ou dois pontos percentuais a menos no desemprego que a situa��o dos candidatos reformistas estaria melhor. O fato � que os candidatos reformistas n�o se viabilizaram”, destaca Schwartsman.
